ALICE RUIZ (1946-

No me gustan
estas cosas que me asustan
con ruido, susto, agua fría
en la cara
y nadie a mi alrededor.

No me gustan
estas cosas que las hacen
vacías, oscuras, silenciosas,
todo lo que parece muerte
cuando nada más es bueno.

No me gustan
estas cosas sin poesía,
solo una noche, una noche,
un día, solo un día.

AYUDA! ALGUIEN ME DA UN CORAZON

¡Ayuda! No siento nada,
ni miedo, ni calor, ni fuego,
ya no podré llorar
ni reír
¡Ayuda! Alguna alma aunque tenga dolor
me presta sus plumas
Ya no siento amor ni dolor
Ya no siento nada
¡Ayuda! Alguien que me regale un corazón
que ya no late ni se agarra
, por favor, una pequeña emoción,
cualquier cosa que sienta
tiene tantos sentimientos
debe haber algo que funcione
.. ¡Ayuda! cualquier calle que me dé dirección
en cualquier cruce,
arcén, cruce,
¡Ayuda! Ya no siento nada

Acho que teu nome é amor
E por isso todos te amam

E quando todos te chamam
Quem sou eu pra não chamar?

E quando todos te querem
Quem sou eu pra não querer?

E porque todos te amam
"eu sei que vou te amar"





*******************



Creo que tu nombre es amor
Y es por eso que todos te aman

Y cuando todos te llaman
¿Quién soy yo para no llamarte?

Y cuando todos te quieren
¿Quién soy yo para no quererte?

Y porque todos te aman
"Sé que te amaré"

Mesmo que morra

mesmo que eu morra
dessa morte disforme
o esquecimento
não lamento

viver ou morrer
é o de menos
a vida inteira
pode ser
qualquer momento
ser feliz ou não
questão de talento

quanto ao resto
este poema
que não fiz
fica ao vento
mãos mais hábeis
inventem

Virtual


siempre tan cerca de ti
y hace mucho que no te veo
te siento en el viento
te veo adentro
y yo sin ti

el pensamiento te hace sentir
puede crear y destruir
horrible pesadilla
o inventar un sueño
para seguir

Seguír tantos sueños hasta creer
en el instante mayor que esta vida fugaz
Verte es vértigo, pensar es espejismo
Si el tiempo se detuviera, me quedaría con esta imagen.
pero acabó de pasar

si existio ya no lo se
si fue real o viajé
si fue mi deseo
quien vio y yo no te vi
o si te inventé

Veja, tenho certeza
Que é você
O sol nasce e se levanta
Se deita e de todo jeito diz
Que é você
Tudo o que digo e faço
É só pra disfarçar
E eu só penso e me convenço
Que é você
Só você insiste em dizer
Que não é você

de novo

volto para meu amigo

trago um novo gosto

outra língua

terra estranha


volto aos poucos

para meu amigo

só que agora

já não trago

a alma comigo


gesto antigo

volto

de repente

para meu amigo

sou outra

outro é meu amigo





paixão xama paixão (1983)

topa um pacto de sangue
com essa cigana do futuro
que lê
o passado na tua boca
o presente no teu corpo
e nos teus olhos
tanto quanto nos astros?


Publicado no livro Paixão xama paixão (1983).

In: RUIZ, Alice. Pelos pelos. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Cantadas literárias, 24

sou uma moça polida
levando
uma vida lascada

cada instante
pinta um grilo
por cima
da minha sacada


Publicado no livro Navalhanaliga (1980).

In: RUIZ, Alice. Pelos pelos. São Paulo: Brasiliense, 1984. (Cantadas literárias, 24

Renga da noite
noite escura
de luz a luz
nenhuma dívida

ontem hoje amanhã
trabalho pra madrugada
noites tardes manhãs

noite no mato
o cheiro de açucena
é nosso lume

noite de verão
escrevendo vento
eu e o vento

noite de verão
vem com a brisa
um cheiro de primavera

noite no escuro
pensando que era barata
matei o vagalume

noite cheia
lua minguante
meu quarto crescente

Se a preguiça é pecado,
o que Deus estará fazendo agora?
Em que se ocupa aquele que tudo pode?
Terá restado algo por fazer
depois que o mundo foi criado?

Se o desejo é fraqueza,
Deus nunca deseja?
Mas se é verdade que nos criou,
algo nele desejou.


Se a vaidade é um erro,
por que nos fez
À sua imagem e semelhança?
Ou terá sido o contrário?

Por que criar alguém
capaz de duvidar da criação?
Por que nós e ele não?

Leia mais em: https://veja.abril.com.br/coluna/augusto-nunes/8220-questoes-iii-8221-um-poema-de-alice-ruiz

seja meu versejar
cantar como quem resiste
resistir como quem deseja
meu versejar seja
sorriso que te visite
a brisa que te beija
seja meu versejar
não
tristeza não
seja meu versejar
peleja sim coração
em busca da beleza
meu versejar seja

cantar como quem resiste
resistir como quem deseja
meu versejar seja
sorriso que te visite
a brisa que te beija
seja meu versejar
não
tristeza não
seja meu versejar
peleja sim coração
em busca da beleza
meu versejar seja

Eu só brinco
quando é muito sério é muito sério
ser o teu brinquedo
Não tem mistério
não tem segredo
quando a gente brinca
quando a coisa é séria
quando o teu limite
é tão perfeito
quando ser brinquedo
pode ser tão sério
Pode haver um dia
em que a poesia
mude de endereço
deixe apenas tédio
mas enquanto isso
vem brincar comigo
vamos até onde
possa ser só riso
possa ir tão longe
possa ser tão lindo
pode ser brinquedo
pode ser tão sério

assim que vi você
logo vi que ia dar coisa
coisa feita pra durar,
batendo duro no peito
até eu acabar virando
alguma coisa
parecida com você
parecia ter saído
de alguma lembrança antiga
que eu nunca tinha vivido,
mas ia viver um dia
alguma coisa perdida
que eu nunca tinha tido
alguma voz amiga
esquecida no meu ouvido
agora não tem mais jeito,
carrego você no peito
poema na camiseta
com a tua assinatura
já nem sei se é você mesmo
ou se sou eu que virei alguma coisa tua

devia ser proibido
uma saudade tão má
de uma pessoa tão boa
falar, gritar, reclamar
se a nossa voz não ecoa
dizer não vou mais voltar
sumir pelo mundo afora
alguém com tudo pra dar
tirar o seu corpo fora
devia ser proibido
estar do lado de cá
enquanto a lembrança voa
reviver, ter que lembrar
e calar por mais que doa
chorar, não mais respirar (ar)
dizer adeus, ir embora
você partir e ficar
pra outra vida, outra hora
devia ser proibido...



https://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/ineditas/devia_ser_proibido.htm

Um sonho de poeta,
Não vale o instante
Vivo.

Pode que muita gente
Veja no que escrevo
Tudo que sente
E vibre
E chore
E ria,
Como eu, antigamente,
Quando não sabia
Que não há um verso,
Amor,
Que te contente.

Orixás


viajei por tantos mares
atravessei tantos mundos
tornei-me um deus desterrado
dentro de um outro terreiro
um a um perdi meus reinos
meus tesouros meus assuntos
mas serei um deus guerreiro.
mesmo que um navio negreiro
me leve pra outro mundo
sou oxum e iemanjá
sou os ventos de iansã
beleza, força, coragem
todas na grande viagem
vem junto obá e nanã
sou ogum e sou xangô
sou oxóssi o caçador
ferro, fogo e paciência
levados pra terra estranha
sem hoje, só, amanhã


https://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/ineditas/orixas.htm

Sonho de poeta


Quem dera fosse meu
o poema de amor definitivo
Se amar fosse o bastante
poder eu poderia
pudera, às vezes,
parece ser esse
meu único destino
Mas vem o vento e leva
as palavras que digo minha canção de amigo. Um sonho de poeta
não vale o instante vivo.
Pode que muita gente
veja no que escrevo
tudo que sente
e vibre, e chore e ria como eu, antigamente, quando não sabia
que não há um verso, amor,
que te contente.

Ninguém me canta como você


ninguém me canta
como você
ninguém me encanta
como você
nem me vê
do jeito
que só você
de que adianta
ter olhos
e não saber ver
ter voz
mas não ter o que dizer
digam o que disserem
façam o que quiserem
ninguém diz
ninguém vê
ninguém faz
como você
ninguém me canta
ninguém me encanta
como você


https://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/ineditas/index.html

chuva de verão
o pássaro no telhado
olha e não molha


um trovão pergunta
outro ao longe responde
pingos nos is




*****************

lluvia de verano
el pájaro en el techo
mira y no se moja


pregunta un trueno
otro a lo lejos responde
gotas en los ii

até que foi bem discreto
deixando, ao partir, intenso
muito do seu segredo
nem chegou a tempestade,
esses excessos do vento
foi um corte pequeno
nem dor a mais, nem de menos
foi porque tinha que ir
foi porque tinha que ser
mas está aí a cicatriz
que não deixa mais mentir
se foi ou não foi feliz


*****************


hasta que fue muy discreto
dejando, al salir, intenso
gran parte de tu secreto
la tormenta ni siquiera llegó,
esos excesos del viento
fue un pequeño corte
no más dolor, no menos
fue porque tenia que ir
fue porque tenia que ser
pero la cicatriz está ahí
que no te deja mentir más
si fuiste feliz o no

Quando disse na saída,
deixo meu sorriso
disse bem,
até sorrir pra você
não vou sorrir pra mais ninguém
também disse,
o que se deixa é o que permanece
não esqueça essa sou eu,
que agora desapareceu
E se mais não disse, é que sorria
um sorriso que ficasse,
para depois de ter ido
como se nunca partisse,
como se tudo existisse
ah! se eu soubesse,
ah! se você me visse

Rosai por nós



nossa senhora da flor roxa
rosai por nós
assim na vida
como no chão
a primavera de cada ano
nos dai hoje
encantai nosso jardim
assim como encantamos
o do vizinho
e não nos deixeis cair na tentação
de esquecer tuas flores




https://www.aliceruiz.mpbnet.com.br/ineditas/rosai_por_nos.htm

este sinal de batom
num guardanapo
pode bem ser de um beijo
mancha num trapo
pode querer dizer nada
ou então dizer
que eu te aguardo
a boca num pano mudo
papel que faço
desejo pano de fundo
que eu disfarço
dor que nem bem se escondeu
e ninguém vê
ou só eu
e alguma tarde
você



*************


este signo de lápiz labial
en una servilleta
podría ser un beso
mancha en un trapo
puede no significar nada
o entonces decir
que te espero
la boca en un paño mudo
papel que juego
deseo telón de fondo
que me disfrazo
dolor que no estaba bien escondido
y nadie ve
o solo yo
y alguna tarde
tú

amor que se dedica
amor que não se explica
até quando se vai
parece que ainda fica
olhando você sair
sabendo que vai cair
deixar que saia
deixar que caia

por mais que vá sofrer
é o jeito de aprender
e o teu caminho
só você vai percorrer
se você vence, eu venço
se você perde, eu perco
e nada posso fazer
só deixar você viver



**************



amor que se dedica
amor que no se explica
hasta cuando se va
parece que todavía permanece
viendote partir
sabiendo que va a caer
déjarlo salir
déjarlo caer

no importa cuanto sufras
es la manera de aprender
y tu camino
solo tú recorerás
si tu ganas, yo gano
si tu pierdes, yo pierdo
y no puedo hacer nada
solo dejarte vivir

mar bravio

a cada onda

novo silêncio





diante do mar

três poetas

e nenhum verso





manhã de outono

o verde do mar

também amarela



*************



mar salvaje

a cada ola

nuevo silencio





frente al mar

tres poetas

y ningún verso





mañana de otoño

el verde del mar

tambien se pone amarillo

Tem os que passam
e tudo se passa
com passos já passados

tem os que partem
da pedra ao vidro
deixam tudo partido

e tem, ainda bem,
os que deixam
a vaga impressão
de ter ficado


**************


Hay quienes pasan
y todo pasa
con pasos ya pasados

hay quienes se van
de la piedra a vidrio
dejan todo roto

y hay, afortunadamente,
los que dejan
la vaga impresión
haberse quedado

jamais amei um santo
nem cantei um hino
só quero morar
contígua a um sino
som que continua
desenhando templos



***************


nunca amé a un santo
ni siquiera canté un himno
sólo quiero vivir
junto a una campana
sonido que continúa
dibujando templos

minuto a minuto
quis um dia
todo azul
no teu dia

meu querer
quero crer
azulou
teu dia a dia
tudo
que podia


************


minuto a minuto
quise un dia
todo azul
en tu dia

mi querer
quiero creer
se cambió en azul
tu dia a dia
todo
que podía



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