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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Feb 2024, 10:01

    A chuva é a única chama
    que caminha contra o vento.
    Refaço seu lastro
    com a insônia dos sapatos.

    Enlouqueço de ternura,
    indeciso entre o furor e o fulgor.
    Desperto amarrado em alguma estrela,
    servindo de referência
    para o alinhamento das esferas.



    – Fabrício Carpinejar, no livro “Biografia de uma árvore”. 2002.

    §


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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Feb 2024, 10:02

    O riacho é um cavalo líquido,
    a pedra é um cavalo preso.
    As borboletas são flores com abelhas dentro.
    Liberdade é apenas mudar a forma,
    o que não diminui a solidão
    do nascimento.



    – Fabrício Carpinejar, no livro “Como no céu/Livro de visitas”. 2005.

    ***


    https://www.revistaprosaversoearte.com/fabricio-carpinejar-poemas/


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    Mensaje por Maria Lua Mar 06 Feb 2024, 10:05

    ‘O velório de Maradona’, uma extraordinária crônica de Fabrício Carpinejar
    Por Revista Prosa Verso e Arte -



    O velório de Maradona


    Os argentinos sabem doer. Sabem fazer um morto se sentir importante. Sabem homenagear os seus heróis. Sabem se despedir com música e langor. Sabem expor a paixão de seu sofrimento. Sabem se desesperar. Sabem uivar aos céus, com os lobos de suas lágrimas.

    Nunca se testemunhou uma comoção nacional tão grande desde o velório de Evita Perón. Maradona é capaz de superar as duas milhões de pessoas nas ruas de 1952. E isso no meio de uma pandemia.

    Ele morre e continua jogando futebol, ele morre e continua arrastando multidões para vê-lo.

    Não é um homem, mas um estádio.

    revistaprosaversoearte.com - 'O velório de Maradona', uma extraordinária crônica de Fabrício CarpinejarPor mais frio e indiferente que qualquer um seja, não existe como não se arrepiar, mesmo quem não gosta do esporte ou quem cultivava ressalvas sobre o posicionamento político de esquerda do craque ou quem apontava os seus problemas pessoais, como as drogas e seus casamentos acidentados.

    É uma demonstração monstruosa de fé na eternidade que só é testada com a morte.

    Como diz o escritor argentino Roberto Fontanarrosa, “não me importa o que Maradona fez com a vida dele. Eu me importo com o que ele fez com a minha”.

    Ele transformou corações, garantiu ao seu povo sofrido e massacrado por golpes militares e sucessivas inflações a possibilidade de ser feliz por noventa minutos. Ele venceu uma Guerra das Malvinas paralela dentro do campo, deixando os adversários ingleses no chão e trazendo uma Copa do Mundo para casa. Ele saiu de um bairro pobre de Buenos Aires, privado de luz, com a eletricidade de suas próprias pernas.

    E pensar que ele não jogava futebol para se exibir, mas para sobreviver – na infância, disputava campeonatos para conseguir um refrigerante e um sanduíche.

    A magia nos gramados começou cedo demais. Não teve tempo de ser adulto. Estreou profissionalmente aos 15 anos – El Pibe de Oro -, com uma inacreditável habilidade de girar e mudar a sua direção e a sua velocidade. Driblou a miséria, enganou sucessivos escândalos, recomeçou sempre.

    Foi um exemplo de sinceridade passional, com as suas glórias e pecados, não querendo nunca ser um modelo para ninguém. Mantinha a consciência de que custava muito sangue ser Maradona todo o dia.

    Dom Diego é a maior celebridade da Argentina de todos os tempos. Nem a política, nem a religião produzirão um ídolo igual.

    Na sua lápide, constará: Obrigado, bola!

    E a bola responderá: Eu que agradeço, eu não sou a mesma desde que você me amou.






    https://www.revistaprosaversoearte.com/o-velorio-de-maradona-uma-extraordinaria-cronica-de-fabricio-carpinejar/


    https://www.revistaprosaversoearte.com/?s=Fabr%C3%ADcio+Carpinejar


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    Mensaje por Maria Lua Miér 14 Feb 2024, 09:13







    Un trío de pájaros al sur

    (fragmento)



    Ninguna herida

    cortaba tus pesadillas.

    Cuando a media vida te viste



    por una selva oscura, me quedé

    a conversar con tus camisas,

    y me calé las boinas



    que encendían tus cabellos.

    Tenía siete anos exactos

    y una Luna cómplice jugaba



    carreras conmigo.

    Me demoré entre la ropa

    Alineada



    como un ejército en revista,

    para intentar

    que al menos una prenda



    delatara tu deserción.

    Cuando a media vida te viste

    por una selva oscura, me quedé



    alimentando el acuario

    de las corbatas.

    Pedí privacidad a las polillas.



    Vestí tu camisa,

    y me ví copiando el ritmo

    de sus pliegues,



    la respiración copiosa,

    de mi propio

    y definitivo padre.



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    Mensaje por Maria Lua Jue 15 Feb 2024, 22:38

    Las rocas encuentran

    Las rocas encuentran
    alas en la espuma.
    Ninguna despedida compensa

    la fidelidad de la casa.
    ¿Cómo devolverá tú memoria
    las calles prestadas

    para interrumpir la infancia?
    ¿Qué eclipse, o calendario,
    va a mitigar

    la nostalgia del futuro?
    ¿Quién inventará el fuego
    sin el estilo del creador?


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    Mensaje por Maria Lua Lun 26 Feb 2024, 21:46

    Trave é o quadro-negro dos pés.
    Caroço de brilho, queimadura de cometa.
    Na praia, no calçadão, no descampado.
    Tudo o que foi costurado pelo invisível
    entre o corpo e uma porta.

    Pedras são traves,
    bambus são traves,
    frutas são traves.
    Até crianças são traves
    para o adulto passar
    de volta à infância.


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    Mensaje por Maria Lua Jue 07 Mar 2024, 20:48

    Não ter sido compreendido

    condenou-me a assumir verdades

    que desconhecia, filhos que

    não eram de minha boca,

    compromissos que não quis ir.



    Ao longo da fala,

    abri correspondências alheias.

    A ausência de clareza

    me perturbou a viver de favor

    em meu corpo.



    *****************



    No haber sido entendido

    Me condenó a asumir verdades.

    que no sabía, hijos que

    no fueron de mi boca,

    Citas a las que no quise ir.



    A lo largo del discurso,

    Abrí el correo de otras personas.

    La ausencia de claridad

    me molestó vivir a favor

    en mi cuerpo.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 10 Mar 2024, 09:24

    As horas são amargas,
    derradeiras,
    os anjos perderam

    a escala dos teus ouvidos,
    O destino nos assemelha
    mais que o nascimento.

    Tuas passadas são curtas,
    o perfil, enviesado.
    Há uma parelha sendo

    levada nas costas.
    Fermentas o funcho,
    o fungo e o estrume.


    **************


    Las horas son amargas,
    finales,
    los angeles perdieron

    la escala de tus oídos,
    El destino nos hace semejantes
    más que el nacimiento.

    Tus pasos son cortos,
    el perfil, torcido.
    hay una pareja siendo

    llevado en la espalda.
    Fermentas el hinojo,
    los hongos y el estiérco


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 16 Mar 2024, 08:47

    Não me inquieto

    quando não recebo as respostas

    das perguntas que não fiz.

    Eu me conformei

    em reservar alguma coisa

    de ti para saber depois.

    Um pouco de nosso amor

    será póstumo.

    É recomendável

    não descobrir todos os segredos.



    ***************

    No me inquieto

    cuando no obtengo las respuestas

    de las preguntas que no hice.

    Me conformé

    reservar algo

    de ti para saberlo después.

    Un poco de nuestro amor

    será póstumo.

    Es recomendable

    no descubrir todos los secretos.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 22 Mar 2024, 10:00

    Mergulho os calcanhares
    a empurrar
    a barca do ventre

    e circundas o vazio,
    os ciclos do som,
    conciliado com a verdade,

    pai maduro de minha escolha,
    navegando
    a paternidade das águas.


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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Sáb 23 Mar 2024, 10:14

    Fabrício Carpinejar teve seu primeiro contato com a morte aos 5 anos de idade, durante uma visita ao túmulo do avô Leônida. “Eu saí da cova de um cemitério em Guaporé”, conta o escritor. Enquanto a família rezava o Pai-Nosso de mãos dadas e repousava flores na lápide do falecido, o garotinho Carpinejar fugiu do cortejo, se perdeu, caiu em uma cova e por ali ficou por quase 5 horas, até que alguém o encontrou pedindo ajuda. “Eu me tornei poeta ali. Eu vi o que significava morrer, vi o que significava pedir ajuda e não ser encontrado”, relata o cronista de O TEMPO.

    Essa história, passada no interior do Rio Grande do Sul, é tema em um dos primeiros textos de “Depois É Nunca” (Bertrand Brasil), livro que Carpinejar lança nesta quarta (Cool em Belo Horizonte. Escrito durante a pandemia, a obra traz a morte como tema central e surge de uma inquietação pessoal. Para o gaúcho, é preciso aprender a conviver com a imperfeição da vida e falar sobre morte e luto, assuntos ainda vistos com tanto pudor e melindre. “Depois É Nunca” chega à segunda edição após esgotar a tiragem de 8.000 exemplares em menos de um mês.

    Fabrício Carpinejar salienta que o livro foi escrito capítulo a capítulo. Não é uma reunião de textos; é uma obra pensado com o rigor do tema. A ideia de tratar a morte com repulsa, como se ela não acontecesse a todo momento, e a banalização da dor do luto, sempre incomodaram o autor.

    “Antes nós tratávamos o luto com mais respeito, ficávamos de preto, reconhecíamos a lacuna, uma cadeira ficava vazia por um tempo. Existia um ritual a ser preservado. Hoje não, hoje você perde alguém e já tem que desovar tudo de casa. Temos que enfrentar a morte de frente, reconhecer a dor do luto, parar de apressá-la”, observa.


    Carpinejar diz que não se preocupou em escrever um livro leve, não quis suavizar ou usar atenuantes, eufemismos. “Não há sinônimos”, ele comenta, “para traduzir a dor de quem perde um filho, é inexplicável. É uma saudade vitalícia”. “Depois É Nunca” é pesado, entra na dor, não se esquiva do sofrimento. No entanto, o autor pondera que a obra traz conforto “na medida em que é absolutamente realista com nossos limites. Não queira ser melhor do que você é porque você vai sofrer muito mais”.


    O livro nasceu de um processo criativo doloroso. O poeta teve que se abrir, se mostrar vulnerável, se emocionar, chorar e sangrar junto. “Depois É Nunca”, porém, não foi escrito para resolver alguma questão ou trauma do gaúcho. “Escrevi para me tornar mais disponível”, pontua. “Foi difícil falar sobre o assunto. É um livro absolutamente atípico na minha produção. Sou cronista, poeta, e eu não podia me valer de metáforas (para falar da morte). É meu livro mais ensaístico no sentido de falar de um tema específico sobre diferentes pontos de vista”, ele acrescenta.

    Segundo Fabrício Carpinejar, falar da morte nesse momento de pandemia, em que ela está ainda mais presente e próxima, de certa forma, é fundamental para não tratá-la como uma exceção, entendermos a finitude da vida e não adiarmos afetos, planos e desejos. Depois é nunca. “O que incentivo nesse livro é reconhecer e valorizar quem está ao lado, não colocar mais nenhum projeto futuro acima do presente, não ficar protelando encontros, que todo mundo aceita a imperfeição de um encontro, ser mais possível e menos idealizado”, diz o escritor.

    Livro vai virar filme

    Outra novidade envolvendo livros de Carpinejar é que “Minha Esposa Tem a Senha do Meu Celular” (Bertrand Brasil) vai virar filme. O anúncio foi feito em meados de novembro, durante a Expocine, maior feira de audiovisual da América Latina. A produtora Escarlate, de São Paulo, comprou os direitos da obra para o cinema. “O livro mostra o quanto você pode ser romântico sem ser impositivo e fala da vida de um casal que não se sente ameaçado pela partilha da senha dos celulares, que preserva suas individualidades mesmo morando na mesma casa”, afirma o escritor.


    Fabrício Carpinejar lança “Depois É Nunca” nesta quarta (Cool, às 11h, na Quixote Livraria (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Os 100 primeiros autógrafos ganham guardanapos poéticos. O escritor já realizou eventos de divulgação do livro em Recife, São Paulo, Porto Alegre, São Luís, Goiânia, Maceió, Curitiba e Tiradentes. Depois de BH, Carpinejar segue para a Bienal do Rio.




    https://www.otempo.com.br/entretenimento/fabricio-carpinejar-lanca-em-bh-livro-sobre-morte-luto-e-a-finitude-da-vida-1.2580773


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Mar 2024, 13:39

    Postes de luz são traves,
    placas são traves,
    lixeiras são traves,
    bancos são traves.

    Marcar o chão numa linha imaginária,
    daqui pra ali é o campo.
    E o mundo não existe mais
    fora do giz branco.




    ******************


    Las farolas son traves,
    las placas son traves,
    los botes de basura son traves,
    los bancos son traves.

    Marcar el suelo en una línea imaginaria,
    De aquí para allá está el campo.
    Y el mundo ya no existe
    afuera de la tiza blanca.


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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Dom 31 Mar 2024, 09:49

    A chuva é a única chama
    que caminha contra o vento.
    Refaço seu lastro
    com a insônia dos sapatos.

    Enlouqueço de ternura,
    indeciso entre o furor e o fulgor.
    Desperto amarrado em alguma estrela,
    servindo de referência
    para o alinhamento das esferas.



    ****************


    La lluvia es la única llama
    que camina contra el viento.
    Rehago su lastre
    con el insomnio de los zapatos.

    Me vuelvo loco de ternura,
    indeciso entre la furia y el resplandor.
    Despierto atado a alguna estrella,
    sirviendo de referencia
    para la alineación de las esferas.


    _________________



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    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Sáb 06 Abr 2024, 16:35

    Não Me Inquieto



    Não me inquieto

    quando não recebo as respostas

    das perguntas que não fiz.

    Eu me conformei

    em reservar alguma coisa

    de ti para saber depois.

    Um pouco de nosso amor

    será póstumo.

    É recomendável

    não descobrir todos os segredos.



    **********************



    No me inquieto





    No me inquieto

    cuando no obtengo las respuestas

    de las preguntas que no hice.

    me conformé

    reservar algo

    de ti para saberlo más tarde.

    un poco de nuestro amor

    será póstumo.

    Es recomendable

    No descubrir todos los secretos.


    _________________



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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Dom 14 Abr 2024, 14:49

    O pão fica acorda apenas

    um dia em nossa fome.

    O pão e o fogo



    são do mesmo trigo.

    Volta a pampa, pai.

    A sombra está presa



    Ao pescoço.

    O sangue anoitece.

    Anoitece



    debaixo da pele

    para amanhecer

    os músculos da terra.




    ****************



    El pan solo despierta

    un día en nuestra hambre.

    pan y fuego



    son del mismo trigo.

    Vuelve a las pampa, padre.

    La sombra está atrapada



    Alrededor del cuello.

    La sangre anochece

    Anochece



    bajo la piel

    para amanecer

    a los músculos de la tierra.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Abr 2024, 13:11

    VOCÊ PODERIA
    image_pdfimage_print
    Você pode amar para esquecer quem foi um dia.
    Você pode amar para lembrar quem foi um dia.
    Você pode amar para recuperar a infância.
    Você pode amar para repetir a adolescência.
    Você pode amar para combater a velhice.
    Você pode amar de olhos abertos, enxergando as falhas.
    Você pode amar de olhos fechados, relevando os foras.
    Você pode amar para se endividar.
    Você pode amar para criar patrimônio.
    Você pode amar para encontrar equilíbrio.
    Você pode amar para se aproximar do abismo.
    Você pode amar para ganhar lucidez.
    Você pode amar para enlouquecer.
    Você pode amar para adoecer de ciúme.
    Você pode amar para ter segurança.
    Você pode amar pessimista, falando mal aos seus amigos.
    Você pode amar com esperança, silenciando os atritos.
    Você pode amar magoado.
    Você pode amar leve e desembaraçado.
    Você pode amar para romper o padrão de antigos amores e aceitar que estava errado.
    Você pode amar para imitar outros amores e se convencer de que estava certo.
    Você pode amar fraquejando e acreditando nas próprias mentiras.
    Você pode amar dizendo unicamente a verdade e suportando as crises da franqueza.
    Você pode amar para confirmar expectativas.
    Você pode amar para contrariar sua idealização.
    Você pode amar para converter bandidos em santos.
    Você pode amar para fazer santos pecarem.
    Você pode amar à primeira vista.
    Você pode amar por repescagem.
    Você pode amar desconfiando e questionando as evidências.
    Você pode amar por clarividência.
    Você pode amar para ser triste e se deprimir com canções e livros.
    Você pode amar para alegrar as estantes e os ouvidos.
    Você pode amar para concordar com o terapeuta.
    Você pode amar para se opor ao terapeuta.
    Você pode amar para fugir da família.
    Você pode amar para unir a família.
    Você pode amar superficialmente, escondendo o que pensa.
    Você pode amar profundamente, sem segredos e âncora para se fixar nas palavras.
    Você pode amar pelo sexo.
    Você pode amar pelo romance.
    Você pode amar pela exposição.
    Você pode amar pela solidão a dois.
    Você pode amar os intermináveis problemas e brigas.
    Você pode amar a paz que vem com o fim da noite.
    Você pode amar compreendendo e rindo dos defeitos.
    Você pode amar julgando e condenando as diferenças.
    Você pode amar cuidando das roupas, da comida, da casa.
    Você pode amar com a arruaça das ruas e da boemia.
    Mas amor mesmo é quando você está contando seus dias, com toda a concentração dos números, e alguém chega para lhe atrapalhar de eternidade. E você esquece onde estava, a soma da sua vida, e só pensa em ficar para sempre do jeito que for. Ainda que seja por um dia.



    Fabrício Carpinejar, Para onde vai O Amor?


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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Abr 2024, 13:16

    Primeira colina – poema 8


    Reconheci a antigüidade do rosto
    pela fumaça apressada do prado
    — ela encorpava,
    ardilosa,
    uma cobra que endurece
    o couro
    na estocada da faca.




    Fabrício Carpinejar

    Do livro: "As Solas do Sol", Editora Bertrand Brasil, 1998, RJ



    ***********************



    Primera colina – poema 8


    Reconocí la antigüedad del rostro.
    por el humo que corre del prado
    - él se llenó más,
    astuto,
    una serpiente que endurece
    el cuero
    en la estocada del cuchillo


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Jue 16 Mayo 2024, 12:33

    Não ter sido compreendido
    condenou-me a assumir verdades
    que desconhecia, filhos que
    não eram de minha boca,
    compromissos que não quis ir.

    Ao longo da fala,
    abri correspondências alheias.
    A ausência de clareza
    me perturbou a viver de favor
    em meu corpo.


    ***************


    No haber sido entendido
    Me condenó a asumir verdades.
    que no conocía, hijos que
    no eran de mi boca,
    Citas a las que no quise ir.

    A lo largo del habla
    Abrí cartas ajenas
    La ausencia de claridad
    me molestó vivir a costa
    en mi cuerpo.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Vie 17 Mayo 2024, 20:48

    "Escondia o amor dentro da amizade.
    Não havia melhor esconderijo."



    "Escondía el amor dentro de la amistad.
    No había mejor escondite".




    *************************


    "De mãos dadas, é mais fácil evitar tropeços e se equilibrar."


    "Tomados de la mano, es más fácil evitar tropezar y mantener el equilibrio".



    ***************************


    “O abraço seduz mais que o beijo. Abraçar é beijar com todo o corpo.


    “El abrazo seduce más que el beso. Abrazar es besar con todo el cuerpo.


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 18 Mayo 2024, 17:34

    Reconheci a antiguidade do rosto
    pela fumaça apressada do prado
    - ela encorpava,
    ardilosa,
    uma cobra que endurece
    o couro
    na estocada da faca.


    ***************


    Reconocí la antigüedad del rostro.
    por el humo apresurada del prado
    - ella aumentó su volumen,
    astuto,
    una serpiente que endurece
    el cuero
    en la estocada del cuchillo.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:16

    E que se ponha a roupa do vento
    O jogo é inventar a goleira
    mais do que a bola.
    Garagens são traves,
    lápides são traves,
    cercas são traves,
    chinelos são traves.
    O que pode ser levado
    com uma mão,
    adivinhado pelas pernas.
    Postes de luz são traves,
    placas são traves,
    lixeiras são traves,
    bancos são traves.
    Marcar o chão numa linha imaginária,
    daqui pra ali é o campo.
    E o mundo não existe mais
    fora do giz branco.
    Um quarto está pronto a céu aberto.
    Um quintal no meio da casa.
    Uma rua cortando a praça.
    Corra no jardim sonâmbulo,
    pise a grama com raiva, raízes
    são cadarços amarrados
    nos tornozelos das árvores.
    Há coices, quedas, uivos:
    nada termina a vida,
    essa explosão suspirada.
    É um transe, a trave;
    trânsito parado, feriado.
    O defensor descansa
    na tranca dos joelhos.
    O pássaro voa de cabeça a cabeça,
    descasca a chuva, espalha os cabelos.
    A trave é montinho, formigueiro,
    capuz de ciscos, ninhos.
    Formigas transportam alimento
    por dentro dos seus riscos.
    Que seja capacete de moto,
    um tijolo, um toco,
    qualquer troco de mato e entulho.
    Dez passos ao lado e uma altura infinita,
    fazer endereço para receber cartas,
    desenhar gol de letra.
    Trave é o quadro-negro dos pés.
    Caroço de brilho, queimadura de cometa.
    Na praia, no calçadão, no descampado.
    Tudo o que foi costurado pelo invisível
    entre o corpo e uma porta.
    Pedras são traves,
    bambus são traves,
    frutas são traves.
    Até crianças são traves
    para o adulto passar
    de volta à infância.




    – Fabrício Carpinejar, poema publicado na “Revista Serafina”, na “Folha de São Paulo”, em 6.2010.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:17

    As horas são amargas,
    derradeiras,
    os anjos perderam
    a escala dos teus ouvidos,
    O destino nos assemelha
    mais que o nascimento.

    Tuas passadas são curtas,
    o perfil, enviesado.
    Há uma parelha sendo

    levada nas costas.
    Fermentas o funcho,
    o fungo e o estrume.



    – Fabrício Carpinejar, no livro “Um terno de pássaros ao sul”. 2000.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:17

    Ocultemos-nos um pouco. Que separes lembranças
    a confiar aos outros. Que reserves aos amigos
    noites de bar. Que não me aborreças
    com pormenores de relações passadas.
    Que eu não mexa em tua correspondência.
    não reviste na tua bolsa.
    Que seja homem de uma única mulher,
    como uma banda de um único sucesso.
    como um poeta de uma único livro.
    Que não me digam: a poesia é hereditária.
    Os filhos não merecem nossa culpa.

    Que segredo não seja amaldiçoado em degredo.
    Que a confissão não apague a avidez dos pecados.
    Que a reconciliação faça desabar crenças.
    Que envelope do sereno feche nossa rua.
    Que eu entenda ainda que tarde, agora sem ti.
    Deus improvisa.




    – Fabrício Carpinejar, no livro “Terceira sede”. 2001.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:18

    A chuva é a única chama
    que caminha contra o vento.
    Refaço seu lastro
    com a insônia dos sapatos.

    Enlouqueço de ternura,
    indeciso entre o furor e o fulgor.
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    servindo de referência
    para o alinhamento das esferas.


    – Fabrício Carpinejar, no livro “Biografia de uma árvore”. 2002.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:19

    O riacho é um cavalo líquido,
    a pedra é um cavalo preso.
    As borboletas são flores com abelhas dentro.
    Liberdade é apenas mudar a forma,
    o que não diminui a solidão
    do nascimento.




    – Fabrício Carpinejar, no livro “Como no céu/Livro de visitas”. 2005.




    BREVE BIOGRAFIA DE FABRÍCIO CARPINEJAR
    Fabrício Carpinejar*, filho dos poetas gaúchos Maria Carpi e Carlos Nejar, é jornalista e escritor, mestre em Literatura Brasileira pela UFRGS. Nasceu em Caxias do Sul, em 1972.


    https://www.revistaprosaversoearte.com/fabricio-carpinejar-poemas/


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    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:21

    Confiar é amar, uma crônica de Fabrício Carpinejar


    Amar e confiar são a mesma coisa.
    .
    Demorei a perceber. Por isso confiamos em pouquíssimas pessoas em nossa vida.
    .
    E podemos passar uma vida inteira sem confiar em ninguém.
    .
    É tão difícil confiar quanto amar. Tão raro.
    .
    A confiança e o amor são conquistados. Exigem tempo, observação, sinceridade, lealdade, soma de atitudes.

    Não é porque é sua mãe ou seu pai ou seu irmão que você vai confiar. Família não traz garantias.
    .
    Confiar não é genético. Confiar é intimidade recompensada. Confiar é recíproco. É quando damos e recebemos simultaneamente. Confiar é contar um segredo e ver, já no finzinho de nossa história, que nunca foi revelado.
    .
    É uma previdência privada de nossos mistérios. É quando as ações comprovam as palavras.
    .
    Confiar não é para os apressados, mas representa o retorno de uma longa viagem mental. É a velhice dos nossos hábitos, a velhice das nossas frases, a velhice de nossos juramentos. É quando um gesto recebeu a proteção do silêncio.


    overlay-clevercloseLogo
    Quando alguém confia sem conhecer, na verdade, está esperando confiar. É uma aposta para tornar mais fácil a convivência.
    .
    Demonstramos despojamento no início das relações, mas somos complexos no decorrer da cumplicidade. Entregamos a chave da nossa casa para perguntar todo dia se o outro não a extraviou. E perguntar é desconfiar.
    .
    No máximo, confiamos desconfiando. Com o pé atrás e um olho lá na frente.
    .
    Confiamos com medo de confiar, sofrendo o receio de ser enganados, tremendo por depender de alguém, temendo pela nossa vulnerabilidade. Assim como o amor.
    .
    Falamos que amamos antes de amar, para nos convencer de que é amor.


    Falamos que confiamos antes de confiar, para nos convencer de que é amizade.
    .
    Confiar é se desiludir, é se frustrar, é se decepcionar. Assim como o amor.
    .
    É criar as mais altas expectativas e depois se acomodar com o que é possível. Como o amor.
    .
    É aparecer com todas as certezas do mundo de que aquela é a pessoa certa e descobrir, aos poucos, que ela mente e pensa torto como você.
    .
    Confiar dói. Como o amor. Ainda mais quando a confiança é quebrada e não há como restaurá-la com discussões, colá-la com desculpas, consertá-la com declarações grandiloquentes.


    Confiar é ter uma relação única com alguém, inimitável, e não dividi-la com um terceiro.
    .
    É o contrário da falsidade, que significa ser igual com todos fingindo diferença e exclusividade.
    .
    Deixar de confiar é deixar de amar – perde-se junto a admiração, o alumbramento e o respeito incondicional. Deve-se desamar para amar de novo.



    .
    — Fabrício Carpinejar, crônica publicada originalmente no jornal “Zero Hora”, em 7.7.2015.





    https://www.revistaprosaversoearte.com/?s=Fabr%C3%ADcio+Carpinejar


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    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Empty Re: Fabricio Carpinejar (1972-

    Mensaje por Maria Lua Jue 23 Mayo 2024, 08:27

    Não venderei a minha casa



    Fabricio Carpinejar (1972- - Página 6 Poema





    Tenho 76 anos, moro sozinha,
    mas não sou inválida,
    sei me defender com a ironia.

    Comigo pedra não é pedra,
    pedra é cada uma de minhas perdas,
    pedra é a lembrança ainda intacta.

    Eis comigo nas paredes
    o meu casamento,
    o nascimento das crias,
    três gerações, o divórcio.

    Vocês não enxergam
    os meus fantasmas?
    Sequer condeno, fantasmas são pessoais e intransferíveis.
    Não despejarei as minhas assombrações de amor,
    elas não têm onde dormir.

    Não venha pedir que me desapegue,
    não venha sugerir que vire a página
    e comece nova história.
    Só saio daqui morta.

    Familiares desejam me convencer
    da seriedade dos próprios problemas,
    como se eu não me conhecesse o suficiente.
    Que o custo de manutenção da casa é caro,
    que é uma demência estar desacompanhada,
    que é uma residência enorme para limpar,
    que posso cair e me machucar sem socorro,
    que não tenho idade para consertar
    a bomba d'água que enche o porão,
    que não tenho idade para lacrar de noite o portão.

    Desde quando a o excesso de idade é acusação?

    O que ficarei fazendo em um apartamento?
    Assistindo novela?

    Pelo menos, estou no chão,
    presa ao chão,
    enraizada no chão.
    A terra é o meu espelho de nuvens.
    Só é possível tocar o céu
    com o pé descalço.

    Não dependo de eletricidade
    para abrir e fechar a porta.
    Não há escadas entre a rua e a minha cama.

    Não me tornarei refém de síndico e zelador,
    Não seguirei regras de condomínio,
    Não pedirei que ninguém baixe a música
    e me deixe dormir em paz.

    Não é não, não venderei a casa,
    conversa encerrada.

    Não adesivarei as janelas com telefones desconhecidos.
    Não desistirei de mim.
    Não aguentarei até onde deu, como a maioria faz.

    Onde mexerei na terra?
    Onde estenderei as roupas?
    Onde a rede de pescar livros?
    Onde colocarei a biblioteca?
    Onde cumprimentarei os vizinhos
    que passam pela minha varanda?
    Onde a liberdade de passear de pijama pelas árvores?
    Onde?

    Num cubículo aéreo?
    Não fui criada para morar em cabines
    de helicóptero e aviões de concreto.
    Minha vista é de mim mesma.
    Não invento segredos para ser importante.

    Sou rasa, rasteira, chapa do fogão a lenha.
    Meus chapéus são as panelas pregadas na cozinha,
    meu vestido é o caule do vento.

    Como filha do interior,
    eu sinto a chuva vindo nos ossos,
    anuncio as visitas com os talheres caindo.
    Eu me contento com um tanque de pedra
    e os prendedores de madeira.

    O pouco é muito para quem nunca
    precisou de mais nada.




    Fabrício Carpinejar nasceu em Caxias do Sul (RS), em 1972. É jornalista e poeta, autor de As solas do sol, Um terno de pássaros ao sul, Terceira sede e Biografia de uma árvore. O poema publicado pelo Cândido faz parte do livro inédito Não venderei a minha casa.



    https://www.bpp.pr.gov.br/Candido/Pagina/POEMA-Fabricio-Carpinejar-0




    ********************





    No venderé mi casa


    Tengo 76 años, vivo sola,
    pero no soy inválida,
    Sé defenderme con ironía.

    Para mí la piedra no es piedra,
    piedra es cada una de mis pérdidas,
    La piedra es el recuerdo aún intacto.

    Aquí estoy yo en las paredes
    mi boda,
    el nacimiento de hijos y nietos
    tres generaciones, divorcio.

    No veis
    mis fantasmas?
    Ni siquiera los condeno, los fantasmas son personales e intransferibles.
    No derramaré mis embrujos de amor,
    no tienen dónde dormir.

    No vengáis a pedirme que me despegue,
    No vengáis a sugerir que pasemos la página.
    y que y empieze una nueva historia.
    Sólo me voy de aquí muerta.

    Los familiares quieren convencerme.
    la gravedad de mis propios problemas,
    como si yo no me conociera lo suficiente.
    Que el coste de mantenimiento de la casa es caro,
    que es demencia estar sin compañía,
    que es una residencia enorme para limpiar,
    que puedo caerme y lastimarme sin ayuda,
    que no tengo edad suficiente para arreglar
    la bomba de agua que llena el sótano,
    que no tengo edad suficiente para sellar la puerta por la noche.

    ¿Desde cuándo ser mayor de edad es un delito?

    ¿Qué haré en un apartamento?
    ¿Ver una novela?

    Al menos estoy en el suelo,
    pegada al suelo,
    arraigada en el suelo.
    La tierra es mi espejo de nubes.
    Sólo puedes tocar el cielo
    con los pies descalzos.

    No dependo de la electricidad
    para abrir y cerrar la puerta.
    No hay escaleras entre la calle y mi cama.

    No me convertiré en rehén del gerente y del conserje,
    No seguiré las reglas de la comunidad,
    No le pediré a nadie que baje el volumen de la canción
    y me  déje dormir en paz.

    No, no, no venderé la casa.
    conversación terminada.

    No colocaré pegatinas en las ventanas con números de teléfono desconocidos.
    No me rendiré.
    No lo llevaré tan lejos como lo hace la mayoría de la gente.

    ¿Dónde moveré la tierra?
    ¿Dónde colgaré la ropa?
    ¿Dónde está la red de pesca de libros?
    ¿Dónde colocaré la biblioteca?
    ¿Dónde saludaré a los vecinos
    que pasan por mi balcón?
    ¿Dónde la libertad de caminar entre los árboles en pijama?
    ¿Dónde?

    ¿En un cubículo aereo?
    No me criaron para vivir en cabinas
    de helicópteros y aviones de hormigón.
    Mi visión es de mí mismo.
    No invento secretos para ser importante.

    Soy rasa, simples, una estufa de leña.
    Mis sombreros son las ollas clavadas en la cocina,
    mi vestido es el tallo del viento.

    Como hija de campo,
    Siento la lluvia entrar en mis huesos,
    Anuncio visitas con cubiertos cayendo.
    Me conformo con un tanque de piedra
    y prendedores de madera.

    Poco es mucho para quien nunca
    ha necesitado nada más.


    _________________



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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Sáb 01 Jun 2024, 09:20

    Suicídio



    A vida amou a morte
    mais do que havia
    para morrer.

    Apaguei os pensamentos
    na espuma da pele.

    Abandonar o paraíso,
    a única forma
    de não esquecê-lo.


    ******************


    Suicidio



    La vida amó la muerte.
    más de lo que había
    para morir.

    Borré los pensamientos
    en la espuma de la piel.

    Abandonar el paraíso,
    la única forma
    de no olvidarlo.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Dom 09 Jun 2024, 12:44

    No cemitério,
    cuidava para não pisar
    nos mortos dos outros.

    Não há como renunciar a mortalidade,
    ainda que o pensamento seja infinito.
    Assim como os demônios
    jamais cortarão as suas unhas.
    Assim como os anjos
    jamais podarão as suas asas.

    Os cabelos de muitos meses,
    cultivados com vaidade,
    serão arrastados com pressa
    pela vassoura da barbearia.

    Postos na pá sem distinção,
    como mechas de um único homem.

    No chão, nada mais nos pertence.

    Judas: o Cristo de Cristo,
    o crucificado do crucificado.

    Desejo que a minha morte
    coincida
    com a minha morte.

    Que eu não seja levado
    para o fundo das mágoas
    antes de ser levado
    para o fundo da terra.

    Que a minha morte
    não seja mera confirmação,
    banal espera.
    Que o meu fim seja
    realmente inédito.



    ****************


    En el cementerio,
    Tenía cuidado de no pisar
    en los muertos de otros.

    No hay manera de renunciar a la mortalidad,
    aunque el pensamiento sea infinito.
    Al igual que los demonios
    nunca se cortarán las uñas.
    Al igual que los angeles
    nunca se podarán las alas.

    El pelo de muchos meses,
    cultivados con vanidad,
    será arrastrado a toda prisa
    por la escoba de la barbería.

    Colocado en la pala sin distinción,
    como mechas de un solo hombre.

    Sobre el suelo ya nada nos pertenece.

    Judas: el Cristo de Cristo,
    el crucificado del crucificado.

    Deseo que mi muerte
    coincida
    con mi muerte.

    Que yo no sea llevado
    hasta lo profundo de las penas
    antes de ser llevado
    hasta el fondo de la tierra.

    Que mi muerte
    no sea mera confirmación,
    inútil esperal.
    Que mi fin sea
    reamente inédito.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Mar 11 Jun 2024, 13:51

    Destino

    Obedecías únicamente
    al instinto de resucitar,
    resplandeciendo

    una ensenada a lo lejos.
    Entrelazabas con misterio
    versículos y frases,

    las cuerdas de la embarcación
    en el interior del frasco.
    Transparente del combate,

    viril en su fragilidad,
    recogido en el exilio
    de estar pleno de si.


    _________________



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