MARIO QUINTANA ( Brasil: 30/07/1906 -05/05/1994)

Gramática da felicidade


Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o
tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de
altos e baixos — uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas
e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na
sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E
que nem dá tempo para suspiros...


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Gramática de la felicidad


Vivimos conjugando el tiempo pasado (saudade, para los románticos) y el
tiempo futuro (esperanza, para idealistas). Un columpio, como podéis ver, lleno de
altibajos: un columpio emocional. Esto termina por hundir la mente de los poetas.
y sabios y enloqueciendo el Homo sapiens de una vez por todas. Más felices son los animales,
que, en su gramática inmediata, sólo les queda un tiempo: el tiempo presente del indicativo.
Y no regala tiempo para suspiros...




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Tão Lenta e Serena e Bela



Tão lenta e serena e bela e majestosa
vai passando a vaca
Que, se fora na manhã dos tempos, de rosas a coroaria
A vaca natural e simples como a primeira canção
A vaca, se cantasse,
Que cantaria?
Nada de óperas, que ela não é dessas, não!
Cantaria o gosto dos arroios bebidos de madrugada,
Tão diferente do gosto de pedra do meio-dia!
Cantaria o cheiro dos trevos machucados.
Ou, quando muito,
A longa, misteriosa vibração dos alambrados...
Mas nada de superaviões, tratores, êmbolos
E outros truques mecânicos!




Tan lenta y serena y bella

Tan lenta y serena y bella y majestuosa va pasando la vaca
Que, si fuera en la mañana de los tiempos, de rosas la coronara
La vaca natural y simple como la primera canción
La vaca, si cantase,
¿Qué cantaría?
Nada de óperas, que ella no es de ésas, ¡no!
Cantaría el gusto de los arroyos bebidos de madrugada,
¡Tan diferente del gusto de la piedra del mediodía!
Cantaría el olor de los tréboles machucados.
O, cuando mucho,
La larga, misteriosa vibración de los alambrados...
¡Mas nada de superaviones, tractores, émbolos
Y otros trucos mecánicos!






Traducción : Wilfredo Carrizales

Envelhecer


Antes, todos os caminhos iam,
Agora todos os caminhos vem.
Acasa é acolhedora, os livros poucos.
E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.



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Envejecer


Antes, todos los caminos se iban,
Ahora todos los caminos.vienen
La casa es acogedora, los libros pocos.
Y yo mismo preparo el té para los fantasmas.




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Madrigal


Ponhamos as coisas no devido lugar. Eu não faço versos a ti: eu faço versos
de ti..


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Madrigal

Pongamos las cosas en su lugar. No escribo versos a ti: hago versos
de ti...

A Lua de Babilônia


Numa esquina do Labirinto
às vezes
avista-se a Lua.
“Não! como é possível uma Lua subterrânea?”
(Mas cada um diz baixinho:
Deus te abençoe, visão...)


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La Luna de Babilonia


En una esquina del Laberinto
a veces
se ve la Luna.
"¡No! ¿Cómo es posible una Luna subterránea?
(Pero cada uno dice bajito:
Dios te bendiga, visión...)

Suspense


A aranha desce verticalmente por um fio
e fica
pendendo do teto — escuro candelabro:
devem ser feitas de aranhas, desconfio,
as árvores de Natal do diabo.


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Suspenso


La araña baja verticalmente sobre un hilo.
y se queda
colgando del techo - candelabro oscuro:
deben estar hechos de arañas, sospecho,
los árboles de Navidad del diablo.




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92

A canção da vida


A vida é louca
a vida é uma sarabanda
é um corrupio...
A vida múltipla dá-se as mãos como um bando
de raparigas em flor
e está cantando
em torno a ti:
Como eu sou bela,
amor!
Entra em mim, como em uma tela
de Renoir
enquanto é primavera,
enquanto o mundo
não poluir
o azul do ar!
Não vás ficar
não vás ficar
aí...
como um salso chorando
na beira do rio...
(Como a vida é bela! como a vida é louca!)




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Os retratos


Os antigos retratos de parede
não conseguem ficar longo tempo abstratos.
Às vezes os seus olhos te fixam, obstinados
porque eles nunca se desumanizam de todo.
Jamais te voltes para trás de repente.
Não, não olhes agora!
O remédio é cantares cantigas loucas e sem fim...
Sem fim e sem sentido...
Dessas que a gente inventava para enganar a solidão dos
[caminhos
sem Lua

Vida social



O gato é o único que sabe manter-se com indiferença num salão. As outras
indiferenças são afetadas.


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Vida social



El gato es el único que sabe permanecer indiferente en un salón. Las otras
las indiferencias se ven afectadas.



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86

Poema marciano número dois



Nós, os marcianos,
não sabemos nada de nada,
por isso descobrimos coisas
que
de tão visíveis
vocês poderiam até sentar em cima delas...
Não brinco! Não minto! um dia um de nós (Van Gogh) pintou
[uma
cadeira vulgar,
uma dessas cadeiras de palha trançada...
Mas, quando a viram na tela, foi aquela espantação:
“uma cadeira!”, exclamaram.
Uma cadeira? Não, a cadeira.
Tudo é singular.
Até as Autoridades sabem disso...
Se não, me explica
por que iriam fazer tanta questão
das tuas impressões digitais?!




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Poema marciano número dos.



Nosotros los marcianos
no sabemos nada de nada,
así descubrimos cosas
qué
tan visibles
igual podrías sentarte en ellas...
¡Yo no juego! ¡No miento! Un día uno de nosotros (Van Gogh) pintó
[una
silla común,
una de esas sillas de paja tejida...
Pero, cuando la vieron en la pantalla, fue un asombro:
“¡Una silla!”, exclamaron.
¿Una silla? No, la silla.
Todo es único.
Hasta las autoridades lo saben...
Si no, explícame
¿Por qué exigen tanto
tus huellas dactilares?!

O inominável


O eu nem nome tem. O meu nome, diz ele, é João. E daí? É como se dissesse
o meu nariz, os meus óculos, o meu par de sapatos.
Este eu irredutível é o que existe de mais impessoal portanto, mais vasto e
mais profundo — o assunto primeiro e último dos poemas, o campo de batalha
dos anjos.
O resto é a pessoa ocasional, isto é, o indivíduo a quem emprestaram o nome
de João, que comprou um par de sapatos, que usa óculos e se julga dono do
próprio nariz.


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El innombrable


El yo ni siquiera tiene nombre. Mi nombre, dice, es Juan ¿Y qué? Es como decir
mi nariz, mis gafas, mi par de zapatos.
Este yo irreductible es el más impersonal y, por tanto, el más vasto y
más profundo: el primer y último tema de los poemas, el campo de batalla
de los ángeles.
El resto es alguna que otra persona, es decir, el individuo al que le prestaron el nombre.
de Juan, que se compró un par de zapatos, usa gafas y se cree dueño de la
propia nariz.


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218

O velho do espelho



Por acaso, surpreendo-me no espelho: quem é esse
Que me olha e é tão mais velho do que eu?
Porém, seu rosto...é cada vez menos estranho...
Meu Deus, Meu Deus...Parece
Meu velho pai - que já morreu!
Como pude ficarmos assim?
Nosso olhar - duro - interroga:
"O que fizeste de mim?!"
Eu, Pai?! Tu é que me invadiste,
Lentamente, ruga a ruga...Que importa? Eu sou, ainda,
Aquele mesmo menino teimoso de sempre
E os teus planos enfim lá se foram por terra.
Mas sei que vi, um dia - a longa, a inútil guerra!-
Vi sorrir, nesses cansados olhos, um orgulho triste...




El viejo del espejo



Por casualidad, me sorprendo ante el espejo: ¿quién es ese
Que me mira y es más viejo que yo?
Sin embargo, su rostro... me resulta cada vez menos extraño...
¡Dios mío, Dios mío... Parece
Mi viejo papá - ya muerto!
¿Como podemos quedarnos así?
Nuestra mirada - dura - pregunta:
"¡¿Qué hiciste de mí?!"
¡¿Yo, papá?! Fuiste tú quien me invadiste,
Lentamente, arruga a arruga... ¿Qué importa? Aun soy yo,
El mismo niño ostinado de siempre
Y tus planes finalmente se fueron a pique.
Pero sé que vi, un día - ¡la larga, la inútil guerra!-
Vi sonreír, esos ojos cansados, con un orgullo triste...

As Três Marias


As únicas estrelas que eu conheço no céu são as Três Marias. Três Marias é
um apelido de família... O nome delas é outro, sabem como é a coisa: um desses
nomes roubados a mitologias ultrapassadas, com que costumam exorcizar as
estrelas. Uns nomes que já nasceram póstumos...
Só o que eles sabem é enumerar, mapear, coisas assim — trabalho apenas
digno de robôs.
Olhem, Marias, acheguem-se, escutem: — Vocês foram catalogadas.
Ouviram bem? Ca-ta-lo-ga-das! O consolo é o povo, que ainda diz
ignorantemente: “Olha lá as Três Marias!”


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Las Tres Marias

Las únicas estrellas que conozco en el cielo son las Tres Marías.
Tres Marias es un nombre de familia...
Su nombre es otro, ya sabes la cosa: uno de esos nombres robados de mitologías obsoletas, con los que se usan para exorcizar estrellas.
Algunos nombres que ya han nacido póstumamente...
Todo lo que saben son números, mapas, cosas como esas - solo trabajo digno de un robot.
Miren, Marías, acerquense, escuchen:—Las han catalogado.
¿Han escuchado bien? ¡Ca ta lo ga das!
El consuelo es el pueblo, que todavía dice ignorantemente:
"¡Mira las Tres Marías! "