OS MENDIGOS maiores não dizem mais, nem fazem nada.
Sabem que é inútil e exaustivo. Deixam-se estar. Deixam-se estar.
Deixam-se estar ao sol e à chuva, com o mesmo ar de completa
coragem,
longe do corpo que fica em qualquer lugar.
Entreteem-se a estender a vida pelo pensamento.
Si alguém falar, sua voz foge como um pássaro que cai.
E é de tal modo imprevista, desnecessária e surpreendente
que, para a ouvirem bem, talvez gemessem algum ai.
Oh! não gemiam, não... Os mendigos maiores são todos estóicos.
Puseram sua miséria junto aos jardins do mundo feliz,
mas não querem que, do outro lado, tenham notícia da estranha sorte
que anda por êles como um rio num país.
Os mendigos maiores vivem fóra da vida: fizeram-se excluídos.
Abriram sonos e silêncios e espaços nus, em redor de si.
Teem seu reino vazio, de altas estrêlas que não cobiçam.
Seu olhar não olha mais, e sua bôca não chama nem ri.
E seu corpo não sofre nem gosa. E sua mão não toma nem pede.
E seu coração é uma coisa que, si existiu, já se esqueceu.
Ah! os mendigos maiores são um povo que se vai convertendo em
pedra.
Êsse povo é que é o meu.
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