Até que enfim
Ora, até que enfim chegou o outono, o outono de azulejo e porcelana. Olho
(estou na nossa velha praça da Alfândega) a estátua equestre do general. Estão
ambos verdes, num louvável mimetismo, contra o verde das árvores ao fundo,
especialmente o daquele belíssimo guapuruvu, já cantado por Nogueira Leiria.
Quero crer que o Leiria se foi antes que houvessem cortado um braço lateral
da sua árvore, quebrando a bela simetria da copa. Espero que não tenha saído
sangue dessa amputação, como aconteceu com a árvore no poema “O
lenhador”, de Catulo da Paixão Cearense.
Olho, para disfarçar, os guris no tobogã. Meu sorriso interior, no entanto, fica
em meio. Porque esses guris em breve vão perecer. Isto é, vão perder a infância,
a inocência animal, para ganhar em troca, no mínimo, uma sonsice social. E
ostentarão esse falso cinismo da adolescência, mais perdoável, aliás, que o
cinismo rancoroso dos velhos.
Mas, por enquanto, ainda estão estragando por aí os fundilhos. E que brilho
nas caras de maçãs, acesas na escorregadela a jato! A tarde mira-se nos seus
olhos. Repara bem no que te digo: a tarde é que se mira nos seus olhos, que se
limitam a refletir as coisas, em vez de refletir sobre as coisas. Eles estão na vida
como peixes n’água: sem saber. E no mesmo contínuo movimento.
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