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      Mensaje por Maria Lua Miér 27 Dic 2023, 16:23

      Canção do amor demais


      Quero chorar porque te amei demais
      Quero morrer porque me deste a vida
      Ai meu amor, será que nunca hei de ter paz?
      Será que tudo que há em mim
      Só quer sentir saudade?
      E já nem sei o que vai ser de mim
      Tudo me diz que amar será meu fim
      Que desespero traz o amor
      Eu nem sabia o que era o amor
      Agora sei porque não sou feliz



      ********************



      Canción del demasiado amor



      Quiero llorar porque te amé demasiado,
      quiero morir porque me diste la vida,
      ay, amor mío, ¿será que nunca he de tener paz?
      Será que todo lo que hay en mí
      sólo quiere decir saudade...
      Y ya ni sé lo que va a ser de mí,
      todo me dice que amar será mi fin...
      Qué desespero trae el amor,
      yo que no sabía lo que era el amor,
      ahora lo sé porque no soy feliz.


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 08:57

      Pela noite quente eu caminhei...
      Caminhei sem rumo, para o ruído longínquo
      Que eu ouvia, do mar.
      Caminhei talvez para a carne
      Que vira fugir de mim.

      No desespero das árvores paradas busquei consoloção
      E no silêncio das folhas que caíam senti o ódio
      Nos ruídos do mar ouvi o grito de revolta
      E de pavor fugi.

      Nada mais existe para mim
      Só talvez tu, Senhor.
      Mas eu sinto em mim o aniquilamento...

      Dá-me apenas a aurora, Senhor
      Já que eu não poderei jamais ver a luz do dia.


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 30 Dic 2023, 18:02

      A IMPOSSÍVEL PARTIDA




      Rio de Janeiro , 1935




      Como poder-te penetrar, ó noite erma, se os meus olhos cegaram nas luzes da cidade
      E se o sangue que corre no meu corpo ficou branco ao contato da carne indesejada?...
      Como poder viver misteriosamente os teus recônditos sentidos
      Se os meus sentidos foram murchando como vão murchando as rosas colhidas
      E se a minha inquietação iria temer a tua eloquência silenciosa?...
      Eu sonhei!... Sonhei cidades desaparecidas nos desertos pálidos
      Sonhei civilizações mortas na contemplação imutável
      Os rios mortos... as sombras mortas... as vozes mortas...
      ...o homem parado, envolto em branco sobre a areia branca e a quietude na face...
      Como poder rasgar, noite, o véu constelado do teu mistério
      Se a minha tez é branca e se no meu coração não mais existem os nervos calmos
      Que sustentavam os braços dos Incas horas inteiras no êxtase da tua visão?...
      Eu sonhei!... Sonhei mundos passando como pássaros
      Luzes voando ao vento como folhas
      Nuvens como vagas afogando luas adolescentes...
      Sons... o último suspiro dos condenados vagando em busca de vida...
      O frêmito lúgubre dos corpos penados girando no espaço...
      Imagens... a cor verde dos perfumes se desmanchando na essência das coisas...
      As virgens das auroras dançando suspensas nas gazes da bruma
      Soprando de manso na boca vermelha dos astros...

      Como poder abrir no teu seio, ó noite erma, o pórtico sagrado do Grande Templo
      Se eu estou preso ao passado como a criança ao colo materno
      E se é preciso adormecer na lembrança boa antes que as mãos desconhecidas me arrebatem?...


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      Mensaje por Maria Lua Lun 01 Ene 2024, 08:21

      A MIRAGEM


      Rio de Janeiro , 2004


      Não direi que a tua visão desapareceu dos meus olhos sem vida
      Nem que a tua presença se diluiu na névoa que veio.
      Busquei inutilmente acorrentar-te a um passado de dores
      Inutilmente.
      Vieste - tua sombra sem carne me acompanha
      Como o tédio da última volúpia.
      Vieste - e contigo um vago desejo de uma volta inútil
      E contigo uma vaga saudade…
      És qualquer coisa que ficará na minha vida sem termo
      Como uma aflição para todas as minhas alegrias.
      Tu és a agonia de todas as posses
      És o frio de toda a nudez
      E vã será toda a tentativa de me libertar da tua lembrança.

      Mas quando cessar em mim todo o desejo de vida
      E quando eu não for mais que o cansaço da minha caminhada pela areia
      Eu sinto que me terás como me tinhas no passado -
      Sinto que me virás oferecer a água mentirosa
      Da miragem.
      Talvez num ímpeto eu prefira colar a boca à areia estéril
      Num desejo de aniquilamento.
      Mas não. Embora sabendo que nunca alcançarei a tua imagem
      Que estará suspensa e me prometerá água
      Embora sabendo que tu és a que foge
      Eu me arrastarei para os teus braços.


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      Mensaje por Maria Lua Miér 03 Ene 2024, 09:28

      O POETA NA MADRUGADA



      Quando o poeta chegou à cidade
      A aurora vinha clareando o céu distante
      E as primeiras mulheres passavam levando cântaros cheios.
      Os olhos do poeta tinham as claridades da aurora
      E ele cantou a beleza da nova madrugada.
      As mulheres beijaram a fronte do poeta
      E rogaram o seu amor.
      O poeta sorriu.
      Mostrou-lhes no céu claro o pássaro que voava
      E disse que a visão da beleza era da poesia
      O poeta tem a alegria que vive na luz
      E tem a mocidade que nasce da luz.
      As mulheres seguiram o poeta
      Oferecendo a tristeza do seu amor e a alegria da sua carne
      O poeta amou a carne das mulheres
      Mas não envelheceu no amor que elas lhe davam.
      O poeta quando ama
      É como a flor que murcha sem seiva
      Porque o amor do poeta
      É a seiva do mundo
      E se o poeta amasse
      Ele não viveria eternamente jovem, brilhando na luz.

      Quando a nova madrugada raiou no céu distante
      O poeta já tinha partido
      E seguindo o poeta as mulheres de peitos fartos e de cântaros cheios
      Falavam de ardentes promessas de amor.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue 04 Ene 2024, 13:07

      FIM


      Será que cheguei ao fim de todos os caminhos
      E só resta a possibilidade de permanecer?
      Será a Verdade apenas um incentivo à caminhada
      Ou será ela a própria caminhada?
      Terão mentido os que surgiram da treva e gritaram — Espírito!
      E gritaram — Coragem!
      Rasgarei as mãos nas pedras da enorme muralha
      Que fecha tudo à libertação?
      Lançarei meu corpo à vala comum dos falidos
      Ou cairei lutando contra o impossível que antolha-me os passos
      Apenas pela glória de tombar lutando?

      Será que eu cheguei ao fim de todos os caminhos...
      Ao fim de todos os caminhos?




      ********************

      FIN


      ¿He llegado al final de todos los caminos?
      ¿Y sólo existe la posibilidad de quedarme?
      ¿Será la Verdad solo un incentivo para caminar?
      ¿O es el mismo caminar en sí?
      Los que surgieron de las tinieblas y gritaron: ¡Espíritu!
      Y gritaban: ¡Ánimo!
      Rasgaré mis manos sobre las piedras de la gran muralla
      ¿Que cierra todo a la liberación?
      Tiraré mi cuerpo a la fosa común de los quebrados
      O caeré luchando contra lo imposible que bloquea mis pasos
      ¿Solo por la gloria de caer peleando?

      ¿He llegado al final de todos los caminos...
      ¿Al final de todos los caminos?


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 05 Ene 2024, 11:00

      AUSÊNCIA



      Eu deixarei que morra em mim o desejo de amar os teus olhos que são doces
      Porque nada te poderei dar senão a mágoa de me veres eternamente exausto.
      No entanto a tua presença é qualquer coisa como a luz e a vida
      E eu sinto que em meu gesto existe o teu gesto e em minha voz a tua voz.
      Não te quero ter porque em meu ser tudo estaria terminado
      Quero só que surjas em mim como a fé nos desesperados
      Para que eu possa levar uma gota de orvalho nesta terra amaldiçoada
      Que ficou sobre a minha carne como uma nódoa do passado.
      Eu deixarei... tu irás e encostarás a tua face em outra face
      Teus dedos enlaçarão outros dedos e tu desabrocharás para a madrugada
      Mas tu não saberás que quem te colheu fui eu, porque eu fui o grande íntimo da noite
      Porque eu encostei minha face na face da noite e ouvi a tua fala amorosa
      Porque meus dedos enlaçaram os dedos da névoa suspensos no espaço
      E eu trouxe até mim a misteriosa essência do teu abandono desordenado.
      Eu ficarei só como os veleiros nos portos silenciosos
      Mas eu te possuirei mais que ninguém porque poderei partir
      E todas as lamentações do mar, do vento, do céu, das aves, das estrelas
      Serão a tua voz presente, a tua voz ausente, a tua voz serenizada.


      *****************************

      Ausencia»


      Dejaré que muera en mí el deseo
      de amar tus ojos dulces,
      porque nada te podré dar sino la pena
      de verme eternamente exhausto.
      No obstante, tu presencia es algo
      como la luz y la vida.
      Siento que en mi gesto está tu gesto
      y en mi voz tu voz.
      No quiero tenerte porque en mi ser
      todo estará terminado.

      Sólo quiero que surjas en mí
      como la fe en los desesperados,
      para que yo pueda llevar una gota de rocío
      en esta tierra maldita
      que se quedó en mi carne
      como un estigma del pasado.
      Me quedaré… tu te irás,
      apoyarás tu rostro en otro rostro,
      tus dedos enlazarán otros dedos
      y te desplegarás en la madrugada,
      pero no sabrás que fui yo quien te logró,
      porque yo fui el amigo más íntimo de la noche,
      porque apoyé mi rostro en el rostro de la noche
      y escuché tus palabras amorosas,
      porque mis dedos enlazaron los dedos
      en la niebla suspendidos en el espacio
      y acerqué a mí la misteriosa esencia
      de tu abandono desordenado.
      Me quedaré solo como los veleros
      en los puertos silenciosos.
      Pero te poseeré más que nadie
      porque podré irme
      y todos los lamentos del mar,
      del viento, del cielo, de las aves,
      de las estrellas, serán tu voz presente,
      tu voz ausente, tu voz sosegada.


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      Mensaje por Maria Lua Vie 05 Ene 2024, 20:51

      SONATA DO AMOR PERDIDO
      Lamento nº 1

      Onde estão os teus olhos — onde estão? — Oh — milagre de amor que escorres dos meus olhos!
      Na água iluminada dos rios da lua eu os vi descendo e passando e fugindo
      Iam como as estrelas da manhã. Vem, eu quero os teus olhos, meu amor!
      A vida... sombras que vão e sombras que vêm vindo
      O tempo... sombras de perto e sombras na distância — vem, o tempo quer a vida!
      Onde ocultar minha dor se os teus olhos estão dormindo?

      Onde está tua face? Eu a senti pousada sobre a aurora
      Teu brando cortinado ao vento leve era como asas fremindo
      Teu sopro tênue era como um pedido de silêncio — oh, a tua face iluminada!
      Em mim, mãos se amargurando, olhos no céu olhando, ouvidos no ar ouvindo
      Na minha face o orvalho da madrugada atroz, na minha boca o orvalho do teu nome!
      Vem... Os velhos lírios estão fanando, os lírios novos estão florindo...


      Intermédio

      Sob o céu de maio as flores têm sede da luz das estrelas
      Os róseos gineceus se abrem na sombra para a fecundação maravilhosa...
      Lua, ó branca Safo, estanca o perfume dos corpos desfolhados na alvorada

      Para que surja a ausente e sinta a música escorrendo do ar!
      Vento, ó branco eunuco, traz o pólen sagrado do amor das virgens
      Para que acorde a adormecida e ouça a minha voz...


      Lamento nº 2

      Teu corpo sobre a úmida relva de esmeralda, junto às acácias amarelas
      Estavas triste e ausente — mas dos teus seios ia o sol se levantando
      Oh, os teus seios desabrochados e palpitantes como pássaros amorosos
      E a tua garganta agoniada e teu olhar nas lágrimas boiando!
      Oh, a pureza que se abraçou às tuas formas como um anjo
      E sobre os teus lábios e sobre os teus olhos está cantando!

      Tu não virás jamais! Teus braços como asas frágeis roçaram o espaço sossegado
      Na poeira de ouro teus dedos se agitam, fremindo, correndo, dançando...
      Vais... teus cabelos desvencilhados rolam em onda sobre a tua nudez perfeita
      E toda te incendeias no facho da alma que está queimando...
      Oh, beijemos a terra e sigamos a estrela que vai do fogo nascer no céu parado
      É a Música, é a Música que vibra e está chamando!


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 06 Ene 2024, 20:38

      TERNURA


      Eu te peço perdão por te amar de repente
      Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
      Das horas que passei à sombra dos teus gestos
      Bebendo em tua boca o perfume dos sorrisos
      Das noites que vivi acalentado
      Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
      Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente.
      E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
      Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
      Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
      É um sossego, uma unção, um transbordamento de carícias
      E só te pede que te repouses quieta, muito quieta
      E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.





      ******************


      Ternura


      Te pido perdon por amarte de repente
      Aunque mi amor es una vieja canción en tus oídos
      De las horas que pasé a la sombra de tus gestos
      Bebiendo en tu boca el perfume de las sonrisas
      De las noches que viví acariciado
      Por la gracia inefable de tus pasos que huyen eternamente
      Traigo la dulzura de quien acepta la melancolía.
      Y te puedo decir que el gran cariño te dejo
      No trae ni la exasperación de las lágrimas ni la fascinación de las promesas.
      Ni las palabras misteriosas de los velos del alma...
      Es un sosiego, una unción, un desborde de caricias
      Y solo te pide que te quedes quieta, muy quieta
      Y que las cálidas manos de la noche encuentren sin fatalidad la mirada extasiada del alba.


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 08 Ene 2024, 08:30



      Não Comerei da Alface a Verde Pétala



      Não comerei da alface a verde pétala
      Nem da cenoura as hóstias desbotadas
      Deixarei as pastagens às manadas
      E a quem maior aprouver fazer dieta.

      Cajus hei de chupar, mangas-espadas
      Talvez pouco elegantes para um poeta
      Mas peras e maçãs, deixo-as ao esteta
      Que acredita no cromo das saladas.

      Não nasci ruminante como os bois
      Nem como os coelhos, roedor; nasci
      Omnívoro: deem-me feijão com arroz

      E um bife, e um queijo forte, e parati
      E eu morrerei feliz, do coração
      De ter vivido sem comer em vão.




      ******************







      _________________



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér 10 Ene 2024, 09:39

      Apavorado acordo, em treva. O luar
      É como o espectro do meu sonho em mim
      E sem destino, e louco, sou o mar
      Patético, sonâmbulo e sem fim.

      Desço na noite, envolto em sono; e os braços
      Como ímãs, atraio o firmamento
      Enquanto os bruxos, velhos e devassos
      Assoviam de mim na voz do vento.

      Sou o mar! sou o mar! meu corpo informe
      Sem dimensão e sem razão me leva
      Para o silêncio onde o Silêncio dorme

      Enorme. E como o mar dentro da treva
      Num constante arremesso largo e aflito
      Eu me espedaço em vão contra o infinito.


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Vie 12 Ene 2024, 10:43

      A MÚSICA DAS ALMAS



      Le mal est dans le monde comme un esclave qui monte l’eau.
      Claudel


      Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma
      E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...

      Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
      Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
      Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 13 Ene 2024, 18:04

      MENSAJE A LA POESÍA

      No puedo
      No es posible
      Díganle que es totalmente imposible
      Ahora no puede ser
      Es imposible
      No puedo
      Díganle que estoy tristísimo, pero no puedo ir esta noche a su encuentro.
      Cuéntenle que hay millones de cuerpos que enterrar
      Muchas ciudades que reconstruir, mucha pobreza por el mundo
      Y las mujeres se están volviendo locas, y hay legiones de ellas escardando
      La añoranza de sus hombres; cuéntenle que hay un vacío
      En los ojos de los parias, y su flacura es extrema; cuéntenle
      Que la vergüenza, la deshonra, el suicidio rondan los hogares,
      Y es preciso reconquistar la vida.
      Háganle ver que es necesario que yo esté alerta, de frente a todos los caminos
      Presto a socorrer, a amar, a mentir, a morir si es necesario.
      Explíquenle, con cuidado -no la acongogen…- que si no voy
      No es porque no quiera: ella sabe; es porque hay un héroe en una cárcel
      Hay un labrador que fue agredido, hay un charco de sangre en una plaza.
      Cuéntenle, en secreto, que debo estar preparado, que mis hombros
      No se deben curvar, que mis ojos no se deben
      Dejar intimidar, que llevo a cuestas las desgracias de los hombres
      Y ahora no es el momento de parar; díganle, mientras tanto,
      Que sufro mucho, pero no puedo mostrar mi sufrimiento
      A los hombres perplejos; díganle que me fue ordenada
      La terrible participación, y que posiblemente
      Deberé engañar, fingir, hablar con palabras extrañas
      Porque sé que, a lo lejos, clarea una aurora.
      Si ella no comprende, procuren convencerla
      De ese invencible deber que tengo; pero díganle
      Que, en el fondo, todo lo que estoy dando es de ella, y que me
      Duele tener que despojarla así, en este poema; que por otro lado
      No debo usarla en su misterio: la hora es de esclarecimiento
      Ni inclinarme sobre mí cuando a mi lado
      Hay hambre y mentira y el llanto de un niño solitario en una calle
      Junto al cadáver de una madre; díganle que hay
      Un náufrago en medio del océano, un tirano en el poder, un hombre
      Arrepentido; díganle que hay una casa vacía
      Con un reloj golpeando horas; díganle que hay un gran aumento
      De abismos en la tierra, hay súplicas, hay alaridos
      Hay fantasmas que me visitan de noche
      Y que debo recibir; coméntenle mi confianza
      En la mañana
      Que siento una sonrisa en el rostro invisible de la noche
      Vivo en tensión a la espera del milagro; por eso
      Pídanle que tenga paciencia, que no me llame ahora
      Con su voz de sombra, que no me haga sentir cobarde
      Y tener que abandonarla en este instante, en su inmedible
      Soledad; pídanle, oh pídanle que se calle
      Por un momento, que no me llame
      Porque no puedo ir
      No puedo ir
      No puedo.
      No la traicionaré. En mi corazón
      Vive su imagen, y nada diré que pueda
      Avergonzarla. Mi ausencia
      Es también un sortilegio
      De su amor por mí. Vivo del deseo de volverla a ver
      En un mundo en paz. Mi pasión de hombre
      Sobrevive conmigo. Tal vez yo deba
      Morir sin verla más, sin sentir más
      El gusto de sus lágrimas, sin mirarla correr
      Libre y desnuda en las playas y en los cielos
      Y en las calles de mi insomnio. Díganle que es ése
      Mi martirio; que a veces
      Me pesa en la cabeza el tiempo de la eternidad y las poderosas
      Fuerzas de la tragedia caen sobre mí y me empujan a la sombra
      Pero que debo resistir, que es preciso…
      Pero que la amo con toda la pureza de mi pasada adolescencia
      Con toda la violencia de las antiguas horas de extática contemplación
      Con un amor lleno de renuncia. Oh, pídanle a ella
      Que perdone a su triste e inconstante amigo
      A quien fue dado perderse por amor a su semejante
      A quien fue dado perderse por amor a una pequeña casa,
      A un jardín, a una muchacha vestida de rojo
      A quien fue dado perderse por amor al derecho
      De todos a tener una pequeña casa, un jardín
      Y una muchacha vestida de rojo; a quien perdiéndose le es dulce perderse…
      Por eso convénzanla, explíquenle que es terrible
      Pídanle de rodillas que no me olvide, que me ame
      Que me espere, porque soy suyo, sólo suyo; pero que ahora
      Es más fuerte que yo, no puedo ir
      No es posible
      Me es totalmente imposible
      No puede ser, no
      Es imposible
      No puedo.




      (Traducción de Manuel Díaz Martínez)


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      Mensaje por Maria Lua Mar 16 Ene 2024, 20:29

      PÔR-DO-SOL EM ITATIAIA

      Nascentes efêmeras
      Em clareiras súbitas
      Entre as luzes tardas
      Do imenso crepúsculo.

      Negros megalitos
      Em doce decúbito
      Sob o peso frágil
      Da pálida abóbada

      Calmo subjacente
      O vale infinito
      A estender-se múltiplo

      Inventando espaços
      Dilatando a angústia
      Criando o silêncio..



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 19 Ene 2024, 15:41

      Vinícius de Moraes, uno de los más grandes poetas y compositores de Brasil, nació el 19 de octubre de 1913 en Río de Janeiro. Desde muy joven, mostró un gran talento para la literatura y la música, lo que lo llevaría a convertirse en una figura icónica de la cultura brasileña del siglo XX.

      Durante su infancia y adolescencia en Río, Vinícius vivió en el bohemio barrio de Gávea, rodeado de un ambiente artístico y cultural muy estimulante. Desde pequeño mostró interés por la poesía y la literatura, y comenzó a escribir sus primeros versos a temprana edad. Además, fue influenciado por la música popular brasileña, en especial por el samba y la bossa nova, que marcarían su estilo musical en el futuro.


      A pesar de su pasión por las letras, Vinícius también destacó en sus estudios. Estudió derecho en la Universidad Federal de Río de Janeiro, donde se graduó en 1933. Sin embargo, su verdadera pasión siempre fue el arte, por lo que decidió dedicarse por completo a la poesía y la música.

      Durante su juventud en Río, Vinícius comenzó a relacionarse con otros artistas y escritores de la época, formando parte de los movimientos literarios y culturales que surgían en la ciudad. Esta etapa de su vida fue fundamental para su formación como artista, ya que le permitió experimentar y desarrollar su propio estilo creativo.

      La infancia y adolescencia de Vinícius de Moraes en Río de Janeiro fueron determinantes en su formación como poeta y compositor. El ambiente cultural y artístico en el que creció, así como su pasión por la literatura y la música, sentaron las bases de su brillante carrera y contribuyeron a convertirlo en una figura emblemática de la cultura brasileña.



      Vinícius de Moraes comenzó sus estudios en el Colegio Santo Inácio, donde demostró su talento para la escritura y la poesía desde temprana edad. Durante su adolescencia, publicó sus primeros poemas en periódicos y revistas, lo que le valió el reconocimiento y elogio de la crítica literaria. Su estilo poético se caracterizaba por su sensibilidad, su profundo amor por la vida y su habilidad para transmitir emociones a través de las palabras.

      Sociedad de los poetas vivos

      La Sociedad de los poetas vivos es un movimiento literario y artístico que tuvo lugar en Brasil durante el siglo XX. Fue fundada por Vinícius de Moraes, reconocido poeta y compositor brasileño.

      Esta sociedad fue un espacio de encuentro y creación para diversos artistas, poetas y músicos de la época. Su objetivo principal era promover la poesía y la cultura brasileña, así como fomentar la libertad de expresión y la experimentación artística.


      En la Sociedad de los poetas vivos, se realizaban encuentros regulares donde los miembros compartían sus obras, debatían sobre literatura y música, y colaboraban en proyectos artísticos conjuntos. Además, se organizaron recitales, conciertos y exposiciones para difundir el trabajo de los miembros y generar un impacto en la sociedad.

      Esta sociedad se convirtió en un referente cultural en Brasil, ya que promovió una visión renovada de la poesía y el arte, alejándose de los modelos tradicionales y explorando nuevas formas de expresión. Vinícius de Moraes fue uno de los impulsores más destacados de este movimiento, y su influencia se puede apreciar en su extensa obra literaria y musical.


      La Sociedad de los poetas vivos dejó un legado importante en el panorama artístico brasileño, y su impacto se puede percibir hasta el día de hoy. A través de sus actividades y propuestas, logró acercar la poesía a la vida cotidiana de las personas, y demostrar que el arte puede ser un medio de transformación y reflexión en la sociedad.

      Colaboración con Tom Jobim

      Vinícius de Moraes tuvo una estrecha colaboración con el famoso compositor brasileño Tom Jobim. Juntos, crearon algunas de las canciones más icónicas de la Bossa Nova, un género musical que se originó en Brasil en la década de 1950. Esta colaboración fue fundamental para el éxito y la difusión de la música brasileña en todo el mundo.

      Diplomacia y viajes internacionales

      Durante su vida, Vinícius de Moraes tuvo una destacada carrera diplomática que lo llevó a viajar por diferentes países y a establecer importantes lazos culturales con el extranjero. A lo largo de su trayectoria, desempeñó cargos diplomáticos en países como Uruguay, Estados Unidos, Francia y España, lo que le permitió conocer de cerca diferentes culturas y enriquecer su labor artística.

      Sus viajes internacionales fueron una fuente de inspiración para sus obras literarias y musicales. Durante sus estancias en el extranjero, Vinícius entró en contacto con reconocidos artistas y escritores de la época, lo que influenció su estilo y temáticas en sus creaciones. Además, estos viajes le permitieron difundir la cultura brasileña en el mundo y compartir su amor por la música y la poesía


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 19 Ene 2024, 15:41

      La influencia de Vinícius de Moraes en la música y la poesía brasileña es innegable. Aunque su vida fue corta, su legado perdura hasta el día de hoy y su obra sigue siendo admirada y estudiada por muchos. Uno de los aspectos más destacados de su legado es su colaboración con grandes figuras de la música brasileña, como Tom Jobim y João Gilberto, en el desarrollo del movimiento de la bossa nova. Juntos, crearon canciones icónicas como "Garota de Ipanema" y "Águas de Março", que se han convertido en clásicos de la música brasileña y han sido interpretadas por numerosos artistas a lo largo de los años. Además de su contribución a la música, Vinícius de Moraes dejó un legado importante en la poesía brasileña. Sus poemas, llenos de lirismo y sensibilidad, exploran temas como el amor, la vida, la naturaleza y la espiritualidad. Su poesía ha sido elogiada por su belleza y su capacidad para transmitir emociones de manera profunda y conmovedora. El reconocimiento póstumo a Vinícius de Moraes ha sido abundante. En 1980, fue nombrado miembro de la Academia Brasileña de Letras, una de las instituciones literarias más importantes de Brasil. Además, se le han dedicado numerosos homenajes y se han erigido estatuas en su honor en varios lugares de Brasil. Su legado también ha trascendido las fronteras de Brasil. Sus canciones y poemas han sido traducidos a varios idiomas y han sido apreciados en todo el mundo. Incluso en la actualidad, su obra continúa siendo objeto de estudio y admiración en el ámbito académico y artístico. El legado de Vinícius de Moraes es un testimonio de su genialidad como poeta y compositor. Su influencia en la música y la poesía brasileña es indiscutible, y su obra sigue siendo una fuente de inspiración para muchos. A través de su arte, Vinícius de Moraes dejó una huella imborrable en la cultura brasileña y en el corazón de quienes aprecian su talento y sensibilidad.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 19 Ene 2024, 15:42

      1. ¿Cuáles fueron las principales obras literarias de Vinícius de Moraes?

      Entre las principales obras literarias de Vinícius de Moraes se encuentran "Poemas, Sonetos e Baladas", "Para Viver um Grande Amor" y "O Operário em Construção".


      2. ¿Qué es la Bossa Nova y cuál fue la relación de Vinícius de Moraes con este género musical?

      La Bossa Nova es un género musical brasileño que surgió en la década de 1950. Vinícius de Moraes fue uno de los principales exponentes de este género, colaborando con músicos como Tom Jobim y João Gilberto.

      3. ¿En qué año se estrenó la película "Orfeo Negro", basada en una obra de Vinícius de Moraes?

      La película "Orfeo Negro" se estrenó en el año 1959 y fue dirigida por Marcel Camus. Está basada en la obra de teatro "Orfeu da Conceição" de Vinícius de Moraes.

      4. ¿Cuál fue la profesión de Vinícius de Moraes además de poeta y músico?

      Además de poeta y músico, Vinícius de Moraes fue diplomático, desempeñándose como embajador de Brasil en diversos países, como Uruguay y Francia.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Dom 21 Ene 2024, 11:20

      AGONIA


      No teu grande corpo branco depois eu fiquei.
      Tinha os olhos lívidos e tive medo.
      Já não havia sombra em ti — eras como um grande deserto de areia
      Onde eu houvesse tombado após uma longa caminhada sem noites.
      Na minha angústia eu buscava a paisagem calma
      Que me havias dado há tanto tempo
      Mas tudo era estéril e monstruoso e sem vida
      E teus seios eram dunas desfeitas pelo vendaval que passara.
      Eu estremecia agonizando e procurava me erguer
      Mas teu ventre era como areia movediça para os meus dedos.
      Procurei ficar imóvel e orar, mas fui me afogando em ti mesma
      Desaparecendo no teu ser disperso que se contraía como a voragem.

      Depois foi o sono, o escuro, a morte.

      Quando despertei era claro e eu tinha brotado novamente
      Vinha cheio do pavor das tuas entranhas.


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Mar 23 Ene 2024, 18:44

      O VALE DO PARAÍSO


      Quando vier de novo o céu de maio largando estrelas
      Eu irei, lá onde os pinheiros recendem nas manhãs úmidas
      Lá onde a aragem não desdenha a pequenina flor das encostas
      Será como sempre, na estrada vermelha a grande pedra recolherá sol
      E os pequenos insetos irão e virão, e longe um cão ladrará
      E nos tufos dos arbustos haverá enredados de orvalho nas teias de aranha.
      As montanhas, vejo-as iluminadas, ardendo no grande sol amarelo
      As vertentes algodoadas de neblina, lembro-as suspendendo árvores nas nuvens
      As matas, sinto-as ainda vibrando na comunhão das sensações
      Como uma epiderme verde, porejada.
      Na eminência a casa estará rindo no lampejar dos vidros das suas mil janelas
      A sineta tocará matinas e a presença de Deus não permitirá a Ave-Maria
      Apenas a poesia estará nas ramadas que entram pela porta
      E a água estará fria e todos correrão pela grama
      E o pão estará fresco e os olhos estarão satisfeitos.
      Eu irei, será como sempre, nunca o silêncio sem remédio das insônias
      O vento cantará nas frinchas e os grilos trilarão folhas secas
      E haverá coaxos distantes a cada instante
      Depois as grandes chuvas encharcando o barro e esmagando a erva
      E batendo nas latas vagas monotonias de cidade.

      Eu me recolherei um minuto e escreverei: — “Onde estará a volúpia?...”
      E as borboletas se fecundando não me responderão.

      Será como sempre, será a altura, será a proximidade da suprema inexistência
      Lá onde à noite o frio imobiliza a luz cadente das estrelas
      Lá onde eu irei.


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue 25 Ene 2024, 10:12

      SONETO DE CARTA E MENSAGEM


      “Sim, depois de tanto tempo volto a ti
      Sinto-me exausta e sou mulher e te amo
      Dentro de mim há frutos, há aves, há tempestades
      E apenas em ti há espaço para as consolações.

      “Sim, meus seios vazios me mortificam — e nas noites
      Eles têm ânsias de semente que sente germinar seu broto
      Ah, meu amado! é sobre ti que eu me debruço
      E é como se me debruçasse sobre o infinito!

      “Pesa-me, no entanto, o medo de que me tenhas esquecido
      Ai de mim! que farei sem o meu homem, sem o meu esposo
      Que rios não me levarão de esterilidade e de tristeza?

      “Mulher, para onde caminharei senão para a sombra
      Se tu, oh meu companheiro, não me fecundares
      E não esparzires do teu grão a terra pálida dos lírios?...”


      _________________



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      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Vie 26 Ene 2024, 19:26

      VIDA E POESIA



      A lua projetava o seu perfil azul
      Sobre os velhos arabescos das flores calmas
      A pequena varanda era como o ninho futuro
      E as ramadas escorriam gotas que não havia.
      Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
      — Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
      Só os perfumes teciam a renda da tristeza
      Porque as corolas eram alegres como frutos
      E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

      Eu me pus a sonhar o poema da hora.

      E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
      Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
      Talvez ao pressentir na carne misteriosa
      A germinação estranha do meu indizível apelo
      Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
      Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
      E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
      Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
      Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
      E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
      E marulhar entre os teus seios como uma onda
      Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
      De que me tivesses possuído antes do amor.




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      Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Ene 2024, 10:21

      A você, com amor



      O amor é o murmúrio da terra
      quando as estrelas se apagam
      e os ventos da aurora vagam
      no nascimento do dia...
      O ridente abandono,
      a rútila alegria
      dos lábios, da fonte
      e da onda que arremete
      do mar...

      O amor é a memória
      que o tempo não mata,
      a canção bem-amada
      feliz e absurda...

      E a música inaudível...

      O silêncio que treme
      e parece ocupar
      o coração que freme
      quando a melodia
      do canto de um pássaro
      parece ficar...

      O amor é Deus em plenitude
      a infinita medida
      das dádivas que vêm
      com o sol e com a chuva
      seja na montanha
      seja na planura
      a chuva que corre
      e o tesouro armazenado
      no fim do arco-íris.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 32 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Ene 2024, 10:22

      Amor


      Vamos brincar, amor? vamos jogar peteca
      Vamos atrapalhar os outros, amor, vamos sair correndo
      Vamos subir no elevador, vamos sofrer calmamente e sem precipitação?
      Vamos sofrer, amor? males da alma, perigos
      Dores de má fama íntimas como as chagas de Cristo
      Vamos, amor? vamos tomar porre de absinto
      Vamos tomar porre de coisa bem esquisita, vamos
      Fingir que hoje é domingo, vamos ver
      O afogado na praia, vamos correr atrás do batalhão?
      Vamos, amor, tomar thé na Cavé com madame de Sevignée
      Vamos roubar laranja, falar nome, vamos inventar
      Vamos criar beijo novo, carinho novo, vamos visitar N. S. do Parto?
      Vamos, amor? vamos nos persuadir imensamente dos acontecimentos
      Vamos fazer neném dormir, botar ele no urinol
      Vamos, amor?
      Porque excessivamente grave é a Vida.


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Ene 2024, 10:23

      Ela entrou como um pássaro no museu de memórias

      Ela entrou como um pássaro no museu de memórias
      E no mosaico em preto e branco pôs-se a brincar de dança.
      Não soube se era um anjo, seus braços magros
      Eram muito brancos para serem asas, mas voava.
      Tinha cabelos inesquecíveis, assim como um nicho barroco
      Onde repousasse uma face de santa de talha inacabada.
      Seus olhos pesavam-lhe, mas não era modéstia
      Era medo de ser amada; vinha de preto
      A boca como uma marca do beijo na face pálida.
      Reclinado; nem tive tempo de a achar bela, já a amava.



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      Mensaje por Maria Lua Dom 28 Ene 2024, 12:32

      ALBA


      Alba, no canteiro dos lírios estão caídas as pétalas de uma rosa cor de sangue
      Que tristeza esta vida, minha amiga...
      Lembras-te quando vínhamos na tarde roxa e eles jaziam puros
      E houve um grande amor no nosso coração pela morte distante?
      Ontem, Alba, sofri porque vi subitamente a nódoa rubra entre a carne pálida ferida
      Eu vinha passando tão calmo, Alba, tão longe da angústia, tão suavizado
      Quando a visão daquela flor gloriosa matando a serenidade dos lírios entrou em mim
      E eu senti correr em meu corpo palpitações desordenadas de luxúria.
      Eu sofri, minha amiga, porque aquela rosa me trouxe a lembrança do teu sexo que eu não via
      Sob a lívida pureza da tua pele aveludada e calma
      Eu sofri porque de repente senti o vento e vi que estava nu e ardente
      E porque era teu corpo dormindo que existia diante de meus olhos.
      Como poderias me perdoar, minha amiga, se soubesses que me aproximei da flor como um perdido
      E a tive desfolhada entre minhas mãos nervosas e senti escorrer de mim o sêmen da minha volúpia?
      Ela está lá, Alba, sobre o canteiro dos lírios, desfeita e cor de sangue
      Que destino nas coisas, minha amiga!
      Lembras-te quando eram só os lírios altos e puros?
      Hoje eles continuam misteriosamente vivendo, altos e trêmulos
      Mas a pureza fugiu dos lírios como o último suspiro dos moribundos
      Ficaram apenas as pétalas da rosa, vivas e rubras como a tua lembrança
      Ficou o vento que soprou nas minhas faces e a terra que eu segurei nas minhas mãos.


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      Mensaje por Maria Lua Miér 31 Ene 2024, 08:27

      SONETO AO INVERNO



      Inverno, doce inverno das manhãs
      Translúcidas, tardias e distantes
      Propício ao sentimento das irmãs
      E ao mistério da carne das amantes:

      Quem és, que transfiguras as maçãs
      Em iluminações dessemelhantes
      E enlouqueces as rosas temporãs
      Rosa-dos-ventos, rosa dos instantes?

      Por que ruflaste as tremulantes asas
      Alma do céu? o amor das coisas várias
      Fez-te migrar - inverno sobre casas!

      Anjo tutelar das luminárias
      Preservador de santas e de estrelas...
      Que importa a noite lúgubre escondê-las?

      Londres, 1939



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      Mensaje por Maria Lua Jue 01 Feb 2024, 08:50


      SONETO DA MADRUGADA



      Pensar que já vivi à sombra escura
      Desse ideal de dor, triste ideal
      Que acima das paixões do bem e do mal
      Colocava a paixão da criatura!

      Pensar que essa paixão, flor de amargura
      Foi uma desventura sem igual
      Uma incapacidade de ternura
      Nunca simples e nunca natural!

      Pensar que a vida se houve de tal sorte
      Com tal zelo e tão íntimo sentido
      Que em mim a vida renasceu da morte!

      Hoje me libertei, povo oprimido
      E por ti viverei meu ódio forte
      Nesse misterioso amor perdido.





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      Mensaje por Maria Lua Vie 02 Feb 2024, 11:15

      SONETO DE VÉSPERA



      Quando chegares e eu te vir chorando
      De tanto te esperar, que te direi?
      E da angústia de amar-te, te esperando
      Reencontrada, como te amarei?

      Que beijo teu de lágrimas terei
      Para esquecer o que vivi lembrando
      E que farei da antiga mágoa quando
      Não puder te dizer por que chorei?

      Como ocultar a sombra em mim suspensa
      Pelo martírio da memória imensa
      Que a distância criou - fria de vida

      Imagem tua que eu compus serena
      Atenta ao meu apelo e à minha pena
      E que quisera nunca mais perdida...



      Oxford, 1939











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      Mensaje por Maria Lua Sáb 03 Feb 2024, 21:31

      A MÚSICA DAS ALMAS


      Le mal est dans le monde comme un esclave qui monte l’eau.
      Claudel


      Na manhã infinita as nuvens surgiram como a loucura numa alma
      E o vento como o instinto desceu os braços das árvores que estrangularam a terra...

      Depois veio a claridade, o grande céu, a paz dos campos...
      Mas nos caminhos todos choravam com os rostos levados para o alto
      Porque a vida tinha misteriosamente passado na tormenta.





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      Mensaje por Maria Lua Dom 04 Feb 2024, 19:42

      VINTE ANOS


      Pela campina as borboletas se amam ao estrépito das asas.
      Tudo quietação de folhas. E um sol frio
      Interiorizando as almas.

      Mergulhado em mim mesmo, com os olhos errando na campina
      Eu me lembro da minha juventude.
      Penso nela como os velhos na mocidade distante:
      — Na minha juventude…

      Eu fui feliz nesse passado grato
      Viviam então em mim forças que já me faltam.
      Possuía a mesma sinceridade nos bons e maus sentimentos.
      Aos frenesis da carne se sucediam os grandes misticismos quietos.
      Era um pequeno condor que ama as alturas
      E tem confiança nas garras.
      Tinha fé em Deus e em mim mesmo
      Confessava-me todo domingo
      E tornava a pecar toda segunda-feira
      Tinha paixão por mulheres casadas
      E fazia sonetos sentimentais e realistas
      Que catalogava num grande livro preto
      A que tinha posto o nome de Fœderis Arca.

      A minha juventude...
      Onde eu seguia ansioso Tartarin pelos Alpes
      E Júlio Verne foi o mais audaz de todos os cérebros...
      Onde Mr. Pickwick era a alegria das noites de frio
      E Athos o mais perfeito de todos os homens...
      A minha juventude
      Onde Cervantes não era o filósofo de D. Quixote...

      A minha juventude
      E a noite passada em claro chorando Jean Valjean que Victor Hugo matara...

      Como vai longe tudo!
      Pesa-me como uma sufocação meus próximos vinte anos
      E esta experiência das coisas que aumenta a cada dia.

      Medo de ser jovem agora e ser ridículo
      Medo da morte futura que a minha juventude desprezava
      Medo de tudo, medo de mim próprio
      Do tédio das vigílias e do tédio dos dias...
      Virá para mim uma velhice como vem para os outros
      Que me dissecará na experiência?

      Da campina verde voaram as borboletas...

      Só a quietação das folhas
      E o meu turbilhão de pensamentos.


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