Aires de Libertad

¿Quieres reaccionar a este mensaje? Regístrate en el foro con unos pocos clics o inicia sesión para continuar.

https://www.airesdelibertad.com

Leer, responder, comentar, asegura la integridad del espacio que compartes, gracias por elegirnos y participar

Estadísticas

Nuestros miembros han publicado un total de 1051082 mensajes en 47940 argumentos.

Tenemos 1579 miembros registrados

El último usuario registrado es Roberto Canales Camacho

¿Quién está en línea?

En total hay 229 usuarios en línea: 2 Registrados, 1 Ocultos y 226 Invitados :: 3 Motores de búsqueda

Pascual Lopez Sanchez, Pedro Casas Serra


El record de usuarios en línea fue de 1156 durante el Mar 05 Dic 2023, 16:39

Últimos temas

» NO A LA GUERRA 3
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyHoy a las 01:25 por Pascual Lopez Sanchez

» ANTOLOGÍA DE GRANDES POETAS HISPANOAMÉRICANAS
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyHoy a las 00:32 por Lluvia Abril

» ELVIO ROMERO (1926-2004)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyHoy a las 00:25 por Lluvia Abril

» POESÍA SOCIAL XIX
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyHoy a las 00:18 por Lluvia Abril

» MAIAKOVSKY Y OTROS POETAS RUSOS Y SOVIÉTICOS, 2
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyHoy a las 00:14 por Lluvia Abril

» XI. SONETOS POETAS ESPAÑOLES SIGLO XX (VI)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyAyer a las 23:40 por Lluvia Abril

» POETAS LATINOAMERICANOS
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyAyer a las 19:29 por Maria Lua

» LA POESIA MÍSTICA DEL SUFISMO. LA CONFERENCIA DE LOS PÁJAROS.
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyAyer a las 19:22 por Maria Lua

» EDUARDO GALEANO (1940-2015)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyAyer a las 19:18 por Maria Lua

» CLARICE LISPECTOR II ( ESCRITORA BRASILEÑA)
CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 EmptyAyer a las 19:12 por Maria Lua

Julio 2024

LunMarMiérJueVieSábDom
1234567
891011121314
15161718192021
22232425262728
293031    

Calendario Calendario

Conectarse

Recuperar mi contraseña

Galería


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty

+15
Juan Martín
Samara Acosta
cecilia gargantini
Ligia Rafaela Gómez Deroy
helena
JuanPablo
Pedro Casas Serra
José Antonio Carmona
Ann Louise Gordon
Carmen Parra
MARI CRUZ VEGA
Elen Lackner
Pascual Lopez Sanchez
claudieta cabanyal
Andrea Diaz
19 participantes

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 18 Mar 2023, 08:54

    NOSSO TEMPO


    A Oswaldo Alves

    I

    Este é tempo de partido,
    tempo de homens partidos.
    Em vão percorremos volumes,
    viajamos e nos colorimos.
    A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.
    Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.
    As leis não bastam. Os lírios não nascem
    da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se
    na pedra.
    Visito os fatos, não te encontro.
    Onde te ocultas, precária síntese,
    penhor de meu sono, luz
    dormindo acesa na varanda?
    Miúdas certezas de empréstimo, nenhum beijo
    sobe ao ombro para contar-me
    a cidade dos homens completos.
    Calo-me, espero, decifro.
    As coisas talvez melhorem.
    São tão fortes as coisas!
    Mas eu não sou as coisas e me revolto.
    Tenho palavras em mim buscando canal,
    são roucas e duras,
    irritadas, enérgicas,
    comprimidas há tanto tempo,
    perderam o sentido, apenas querem explodir.

    II

    Este é tempo de divisas,
    tempo de gente cortada.
    De mãos viajando sem braços,
    obscenos gestos avulsos.
    Mudou-se a rua da infância.
    E o vestido vermelho
    vermelho
    cobre a nudez do amor,
    ao relento, no vale.
    Símbolos obscuros se multiplicam.
    Guerra, verdade, flores?
    Dos laboratórios platônicos mobilizados
    vem um sopro que cresta as faces
    ç dissipa, na praia, as palavras.
    A escuridão estende-se mas não elimina
    o sucedâneo da estrela nas mãos.
    Certas partes de nós como brilham! São unhas,
    anéis, pérolas, cigarros, lanternas,
    são partes mais íntimas,
    a pulsação, o ofego,
    e o ar da noite é o estritamente necessário
    para continuar, e continuamos.

    ///

    E continuamos. É tempo de muletas.
    Tempo de mortos faladores
    e velhas paralíticas, nostálgicas de bailado,
    mas ainda é tempo de viver e contar.
    Certas histórias não se perderam.
    Conheço bem esta casa,
    pela direita entra-se, pela esquerda sobe-se,
    a sala grande conduz a quartos terríveis,
    como o do enterro que não foi feito, do corpo esquecido na
    [mesa.
    conduz à copa de frutas ácidas,
    ao claro jardim central, á água
    que goteja e segreda
    o incesto, a bênção, a partida,
    conduz às celas fechadas, que contêm:
    papéis?
    crimes?
    moedas?
    ó conta, velha preta, ó jornalista, poeta, pequeno historiador
    [urbano,
    ó surdo-mudo, depositário de meus desfalecimentos, abre-te e
    [conta,
    moça presa, na memória, velho aleijado, baratas dos arquivos,
    [portas rangentes, solidão e asco,
    pessoas e coisas enigmáticas, contai,
    capa de poeira dos pianos desmantelados, contai;
    velhos selos do imperador, aparelhos de porcelana partidos,
    [contai;
    ossos na rua, fragmentos de jornal, colchetes no chão da
    [costureira, luto no braço, pombas, cães errantes,
    [animais caçados, contai.
    Tudo tão difícil depois que vos calastes...
    E muitos de vós nunca se abriram.

    IV

    É tempo de meio silêncio,
    de boca gelada e murmúrio,
    palavra indireta, aviso
    na esquina. Tempo de cinco sentidos
    num só. O espião janta conosco.
    É tempo de cortinas pardas,
    de céu neutro, política
    na maçã. no santo, no gozo,
    amor e desamor, cólera
    branda, gim com água tônica,
    olhos pintados,
    dentes de vidro,
    grotesca língua torcida.
    A isso chamamos: balanço.
    No beco,
    apenas um muro,
    sobre ele a policia.
    No céu da propaganda
    aves anunciam
    a glória.
    No quarto,
    irrisão e três colarinhos sujos.

    V

    Escuta a hora formidável do almoço
    na cidade. Os escritórios, num passe, esvaziam-se.
    As bocas sugam um rio de carne, legumes e tortas vitaminosas.
    Salta depressa do mar a bandeja de peixes argênteos!
    Os subterrâneos da fome choram caldo de sopa,
    olhos líquidos de câo através do vidro devoram teu osso.
    Come, braço mecânico, alimenta-te, mao de papel, é tempo de
    [comida,
    mais tarde será o de amor.
    Lentamente os escritórios se recuperam, e os negócios, forma
    [indecisa, evoluem.
    O esplêndido negócio insinua-se no tráfego.
    Multidões que o cruzam não vêem. É sem cor e sem cheiro.
    Está dissimulado no bonde, por trás da brisa do sul,
    vem na areia, no telefone, na batalha de aviões,
    toma conta de tua alma e dela extrai uma porcentagem.
    Escuta a hora espandongada da volta.
    Homem depois de homem, mulher, criança, homem,
    roupa, cigarro, chapéu, roupa, roupa, roupa,
    homem, homem, mulher, homem, mulher, roupa, homem
    imaginam esperar qualquer coisa,
    e se quedam mudos, escoam-se passo a passo, sentam-se,
    últimos servos do negócio, imaginam voltar para casa,
    já noite, entre muros apagados, numa suposta cidade,
    [imaginam.
    Escuta a pequena hora noturna de compensação, leituras,
    [apelo ao cassino, passeio na praia,
    o corpo ao lado do corpo, afinal distendido,
    com as calças despido-o incômodo pensamento de escravo,
    escuta o corpo ranger, enlaçar, refluir,
    errar em objetos remotos e, sob eles soterrado sem dor,
    confiar-se ao que-bem-me-importa
    do sono.
    Escuta o horrível emprego do dia
    em todos os países de fala humana,
    a falsificação das palavras pingando nos jornais,
    o mundo irreal dos cartórios onde a propriedade é um bolo
    [com flores,
    os bancos triturando suavemente o pescoço do açúcar,
    a constelação das formigas e usuários,
    a ma poesia, o mau romance,
    os frágeis que se entregam à proteção do basilisco,
    o homem feio, de mortal feiúra,
    passeando de bote
    num sinistro crepúsculo de sábado.

    VI

    Nos porões da família,
    orquídeas e opções
    de compra e desquite.
    A gravidez elétrica
    já não traz delíquios.
    Crianças alérgicas
    trocam-se; reformam-se.
    Há uma implacável
    guerra às baratas.
    Contam-se histórias
    por correspondência.
    A mesa reúne
    um copo, uma faca,
    e a cama devora
    tua solidão.
    Salva-se a honra
    e a herança do gado.

    VII

    Ou não se salva, e é o mesmo. Há soluções, há bálsamos
    para cada hora e dor. Há fortes bálsamos,
    dores de classe, de sangrenta fúria
    e plácido rosto. E há mínimos
    bálsamos, recalcadas dores ignóbeis,
    lesões que nenhum governo autoriza,
    não obstante doem,
    melancolias insubornáveis,
    ira, reprovação, desgosto
    desse chapéu velho, da rua lodosa, do Estado.
    Há o pranto no teatro,
    no palco? no público? nas poltronas?
    há sobretudo o pranto no teatro,
    já tarde, já confuso,
    ele embacia as luzes, se engolfa no linóleo,
    vai minar nos armazéns, nos becos coloniais onde passeiam
    [ratos noturnos,
    vai molhar, na roça madura, o milho ondulante,
    e secar ao sol, em poça amarga.
    E dentro do pranto minha face trocista,
    meu olho que ri e despreza»
    minha repugnância total por vosso lirismo deteriorado,
    que polui a essência mesma dos diamantes.

    VII

    O poeta
    declina de toda responsabilidade
    na marcha do mundo capitalista
    e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas
    promete ajudar
    8 destruí-lo
    como uma pedreira, uma floresta,
    um verme.




    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    36


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mar 2023, 09:13

    PASSAGEM DO ANO


    O último dia do ano
    não é o último dia do tempo.
    Outros dias virão
    e novas coxas e ventres te comunicarão o calor da vida.
    Beijarás bocas, rasgarás papéis,
    farás viagens e tantas celebrações
    de aniversário, formatura, promoção, glória, doce morte com
    [sinfonia e coral,
    que o tempo ficará repleto e não ouviras o clamor,
    os irreparáveis uivos
    do lobo, na solidão.

    O último dia do tempo
    não é o último dia de tudo.
    Fica sempre uma franja de vida
    onde se sentam dois homens.
    Um homem e seu contrário,
    uma mulher e seu pé,
    um corpo e sua memória,
    um olho e seu brilho,
    uma voz e seu eco,
    e quem sabe até se Deus...

    Recebe com simplicidade este presente do acaso.
    Mereceste viver mais um ano.
    Desejarias viver sempre e esgotar a borra dos séculos.
    Teu pai morreu, teu avô também.
    Em ti mesmo muita coisa já expirou, outras espreitam a morte,
    mas estás vivo. Ainda uma vez estás vivo,
    e de copo na mão
    esperas amanhecer.

    O recurso de se embriagar.
    O recurso da dança e do grito,
    o recurso da bola colorida,
    o recurso de Kant e da poesia,
    todos eles... e nenhum resolve.

    Surge a manhã de um novo ano.

    As coisas estão limpas, ordenadas.
    O corpo gasto renova-se em espuma.
    Todos os sentidos alerta funcionam.
    A boca está comendo vida.
    A boca está entupida de vida.
    A vida escorre da boca,
    lambuza as mãos, a calçada.

    A vida é gorda, oleosa, mortal, sub-reptícia.





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    39


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Mar 2023, 19:36

    PASSAGEM DA NOITE


    É noite. Sinto que é noite
    não porque a sombra descesse
    (bem me importa a face negra)
    mas porque dentro de mim,
    no fundo de mim, o grito
    se calou, fez-se desânimo.

    Sinto que nós somos noite,
    que palpitamos no escuro
    e em noite nos dissolvemos.
    Sinto que é noite no vento,
    noite nas águas, na pedra.
    E que adianta uma lâmpada?
    E que adianta uma voz?

    É noite no meu amigo.
    É noite no submarino.
    É noite na roça grande.
    É noite, não é morte, é noite
    de sono espesso e sem praia.
    Não é dor, nem paz, é noite,
    é perfeitamente a noite.

    Mas salve, olhar de alegria!
    E salve, dia que surge!
    Os corpos saltam do sono,
    o mundo se recompõe.
    Que gozo na bicicleta!
    Existir: seja como for.
    A fraterna entrega do pão.

    Amar: mesmo nas canções.
    De novo andar: as distâncias,
    as cores, posse das ruas.
    Tudo que à noite perdemos
    se nos confia outra vez.
    Obrigado, coisas fiéis!

    Saber que ainda há florestas,
    sinos, palavras; que a terra
    prossegue seu giro, e o tempo
    não murchou; não nos diluímos.
    Chupar o gosto do dia!
    Clara manhã, obrigado,
    o essencial é viver!


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Vie 24 Mar 2023, 15:04

    FRAGILIDADE



    Este verso, apenas um arabesco
    em torno do elemento essencial — inatingível.
    Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas,
    e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
    ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
    de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
    Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
    subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
    feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
    de um cristal de mil suspiros límpidos e frigidos: não mais
    que um arabesco, apenas um arabesco
    abraça as coisas, sem reduzi-las.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Vie 24 Mar 2023, 15:07

    VIDA MENOR


    A fuga do real,
    ainda mais longe a fuga do feérico,
    mais longe de tudo, a fuga de si mesmo,
    a fuga da fuga, o exílio
    sem água e palavra, a perda
    voluntária de amor e memória,
    o eco
    já não correspondendo ao apelo, e este fundindo-se,
    a mao tornando-se enorme e desaparecendo
    desfigurada, todos os gestos afinal impossíveis,
    senão inúteis,
    a desnecessidade do canto, a limpeza
    da cor, nem braço a mover-se nem unha crescendo.
    Não a morte, contudo.

    Mas a vida: captada em sua forma irredutível,
    já sem ornato ou comentário melódico,
    vida a que aspiramos como paz no cansaço
    (não a morte),
    vida mínima, essencial; um início-, um sono;
    menos que terra, sem calor; sem ciência nem ironia;
    o que se possa desejar de menos cruel: vida
    em que o ar, não respirado, mas me envolva;
    nenhum gasto de tecidos; ausência deles;
    confusão entre manhã e tarde, já sem dor,
    porque o tempo não mais se divide em seções; o tempo
    elidido, domado.
    Não o morto nem o eterno ou o divino,
    apenas o vivo, o pequenino, calado, indiferente
    e solitário vivo.
    Isso eu procuro.





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]



    64


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 25 Mar 2023, 19:53

    CAMPO, CHINÊS E SONO



    A João Cabral de Melo Neto



    O chinês deitado
    no campo. O campo é azul,
    roxo também. O campo,
    o mundo e todas as coisas
    têm ar de um chinês
    deitado e que dorme.
    Como saber se está sonhando?
    O sono é perfeito. Formigas
    crescem, estrelas latejam,
    Peixes são fluidos.
    E árvores dizem qualquer coisa
    que não entendes. Há um chinês
    dormindo no campo. Há um campo
    cheio de sono e antigas confidencias.
    Debruça-te no ouvido, ouve o murmúrio
    do sono em marcha. Ouve a terra, as nuvens.
    O campo está dormindo e forma um chinês
    de suave rosto inclinado
    no vão do tempo.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 25 Mar 2023, 19:54

    EPISÓDIO

    Manhã cedo passa
    à minha porta um boi.
    De onde vem ele
    se não há fazendas?

    Vem cheirando o tempo
    entre noite e rosa.
    Para à minha porta
    sua lenta máquina.

    Alheio à polícia
    anterior ao tráfego
    ó boi, me conquistas
    para outro, teu reino.

    Seguro teus chifres:
    eis-me transportado
    sonho e compromisso
    ao País Profundo.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 25 Mar 2023, 19:56

    NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO


    A Josué Montello


    Um sabiá
    na palmeira, longe.
    Estas aves cantam
    um outro canto.

    O céu cintila
    sobre flores úmidas.
    Vozes na mata,
    e o maior amor.

    Só, na noite,
    seria feliz:
    um sabiá,
    na palmeira, longe.

    Onde é tudo belo
    e fantástico,
    só, na noite,
    seria feliz.
    (Um sabiá,
    na palmeira, longe.)

    Ainda um grito de vida e
    voltar
    para onde é tudo belo
    e fantástico:
    a palmeira, o sabiá,
    o longe


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 25 Mar 2023, 19:56

    ECONOMIA DOS MARES TERRESTRES



    A queixa
    comprimida na garrafa
    quer escapar
    reunir os povos
    dizer a Matilde que lhe perdoa
    organizar a vida dos índios,
    a queixa
    no vácuo
    lembra uma queixa menor.
    Dir-se-ia, na chama, uma sombra,
    não arde, também se destrói.
    A queixa mínima
    já não pede ao vento que se cale,
    aos estudantes que estudem, a Elza
    que deposite flores sobre o retrato enterrado.
    Limita-se
    à contemplação metódica da mosca
    fora da garrafa
    (mas já são outros problemas).


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 25 Mar 2023, 19:57

    EQUÍVOCO


    Na noite sem lua perdi o chapéu.
    O chapéu era branco e dele passarinhos
    saiam para a glória, transportando-me ao céu.
    A neblina gelou-me até os nervos e as tias.
    Fiquei na praça oval aguardando a galera
    com fiscais que me perdoassem e me abrissem os rios.
    Um jardim sempre meu, de funcho e de coral,
    ergueu-se pouco a pouco, e eram flores de velho,
    murchando sem abrir, indecisas no mal.
    Ressurgi para a escola, e de novo adquiri
    a ciência de deslizar, tao própria de meus netos:
    Sou apenas um peixe, mas que fuma e que ri,
    e que ri e detesta.




    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    72


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 07:17

    MOVIMENTO DA ESPADA


    Estamos quites, irmão vingador.
    Desceu a espada
    e cortou o braço.
    Cá está ele, molhado em rubro.
    Dói o ombro, mas sobre o ombro
    tua justiça resplandece.

    Já podes sorrir, tua boca
    moldar-se em beijo de amor.
    Beijo-te, irmão, minha divida
    está paga.
    Fizemos as contas, estamos alegres.
    Tua lâmina corta, mas é doce,
    a carne sente, mas limpa-se.
    O sol eterno brilha de novo
    e seca a ferida.
    Mutilado, mas quanto movimento
    em mim procura ordem.

    O que perdi se multiplica
    e uma pobreza feita de pérolas
    salva o tempo, resgata a noite.

    Irmão, saber que és irmão,
    na carne como nos domingos.
    Rolaremos juntos pelo mar..
    .
    Agasalhado em tua vingança,
    puro e imparcial como um cadáver
    que o ar embalsamasse,
    serei carga jogada às ondas,
    mas as ondas, também elas, secam,
    e o sol brilha sempre.


    Sobre minha mesa, sobre minha cova,
    como brilha o sol!
    Obrigado, irmão, pelo sol que me deste,
    na aparência roubando-o.
    Já não posso classificar os bens preciosos.
    Tudo é precioso...
    e tranqüilo
    como olhos guardados nas pálpebras.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 07:18

    MOVIMENTO DA ESPADA


    Estamos quites, irmão vingador.
    Desceu a espada
    e cortou o braço.
    Cá está ele, molhado em rubro.

    Dói o ombro, mas sobre o ombro
    tua justiça resplandece.
    Já podes sorrir, tua boca
    moldar-se em beijo de amor.

    Beijo-te, irmão, minha divida
    está paga.
    Fizemos as contas, estamos alegres.
    Tua lâmina corta, mas é doce,
    a carne sente, mas limpa-se.

    O sol eterno brilha de novo
    e seca a ferida.
    Mutilado, mas quanto movimento
    em mim procura ordem.

    O que perdi se multiplica
    e uma pobreza feita de pérolas
    salva o tempo, resgata a noite.

    Irmão, saber que és irmão,
    na carne como nos domingos.
    Rolaremos juntos pelo mar...
    Agasalhado em tua vingança,
    puro e imparcial como um cadáver
    que o ar embalsamasse,

    serei carga jogada às ondas,
    mas as ondas, também elas, secam,
    e o sol brilha sempre.
    Sobre minha mesa, sobre minha cova,
    como brilha o sol!

    Obrigado, irmão, pelo sol que me deste,
    na aparência roubando-o.
    Já não posso classificar os bens preciosos.
    Tudo é precioso...
    e tranqüilo
    como olhos guardados nas pálpebras.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 07:20

    ANUNCIO DA ROSA


    Imenso trabalho nos custa a flor.
    Por menos de oito contos vendê-la? Nunca.
    Primavera não há mais doce, rosa tão meiga
    onde abrirá? Não, cavalheiros, sede permeáveis

    Uma só pétala resume auroras e pontilhismos,
    sugere estâncias, diz que te amam, beijai a rosa,
    ela é sete flores, qual mais fragrante, todas exóticas,
    todas históricas, todas catárticas, todas patéticas.

    Vede o caule,
    traço indeciso.

    Autor da rosa, não me revelo, sou eu, quem sou?
    Deus me ajudara, mas ele é neutro, e mesmo duvido
    que em outro mundo alguém se curve, filtre a paisagem,
    pense uma rosa na pura ausência, no amplo vazio

    Vinde, vinde,
    olhai o cálice.

    Por preço tão vil mas peça, como direi, aurilavrada,
    não, é cruel existir em tempo assim filaucioso.
    Injusto padecer exílio, pequenas eólicas cotidianas,
    oferecer-vos alta mercancia estelar e sofrer vossa irrisão.

    Rosa na roda,
    rosa na máquina,
    apenas rósea.

    Selarei, venda murcha, meu comércio incompreendido,
    pois jamais virão pedir-me, eu sei, o que de melhor se compôs
    [na noite,
    e não há oito contos. Já não vejo amadores de rosa.

    Ó fim do parnasiano, começo da era difícil, a burguesia apodrece.

    Aproveitem. A última
    rosa desfolha-se.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 07:23



    TELEGRAMA DE MOSCOU


    Pedra por pedra reconstruiremos a cidade.
    Casa e mais casa se cobrirá o chão.
    Rua e mais rua o trânsito ressurgirá.
    Começaremos pela estação da estrada de ferro
    e pela usina de energia elétrica.
    Outros homens, em outras casas,
    continuarão a mesma certeza.
    Sobraram apenas algumas árvores
    com cicatrizes, como soldados.
    A neve baixou, cobrindo as feridas.
    O vento varreu a dura lembrança.
    Mas o assombro, a fábula
    gravam no ar o fantasma da antiga cidade
    que peneirará o corpo da nova.
    Aqui se chamava
    e se chamará sempre Stalingrado.
    — Stalingrado: o tempo responde





    105

    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 09:04

    MENINO CHORANDONA NOITE

    Na noite lenta e morna, morta noite semruído, ummenino
    [chora.
    Ochoro atrás da parede, a luz atrás da vidraça
    perdem-se na sombra dos passos abafados, das vozes extenuadas.
    E no entanto se ouve até o rumor da gota de remédio caindo
    [na colher.

    Ummenino chora na noite, atrás da parede, atrás da rua,
    longe ummenino chora, emoutra cidade talvez,
    talvez emoutro mundo.

    E vejo a mão que levanta a colher, enquanto a outra sustenta
    [a cabeça
    e vejo o fio oleoso que escorre pelo queixo do menino,
    escorre pela rua, escorre pela cidade (umfio apenas).
    E não há ninguémmais no mundo a não ser esse menino
    [chorando.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 27 Mar 2023, 18:12

    Registro civil

    Ella juntaba margaritas
    cuando pasé. Las margaritas eran
    los corazones de sus enamorados,
    que después se transformaban en ostras
    que engullía en grupos de diez.

    Los teléfonos gritaban Dulce,
    Rosa, Leonora, Carmen, Beatriz.
    Pero Dulce había muerto
    y las demás se bañaban en Ostende
    bajo un sol neutro.

    Las ciudades perdían los nombres
    que un funcionario con un pájaro al hombro
    iba guardando en un libro de versos.
    En la última de ellas, Sodoma,
    quedaba encendida una luz
    que un ángel sopló.
    Y en la tierra
    yo solamente oía el rumor
    blando de las ostras que se deslizaban
    por la garganta implacable.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Mar 28 Mar 2023, 09:25

    A queixa


    A queixa
    comprimida na garrafa
    quer escapar
    reunir os povos
    dizer a Matilde que lhe perdoa
    organizar a vida dos índios,
    a queixa
    no vácuo
    lembra uma queixa menor.
    Dir-se-ia, na chama, uma sombra,
    não arde, também se destrói.
    A queixa mínima
    já não pede ao vento que se cale,
    aos estudantes que estudem, a Elza
    que deposite flores sobre o retrato enterrado.
    Limita-se
    à contemplação metódica da mosca
    fora da garrafa
    (mas já são outros problemas).


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Mar 2023, 09:26

    NOITE NA REPARTIÇÃO
    O OFICIAL ADMINISTRATIVO:



    Papel,
    respiro-te na noite de meu quarto,
    no sabão passas a meu corpo, na água te bebo.
    Até quando, sim, até quando
    te provarei por única ambrosia?
    Eu te amo e tu me destróis,
    abraço-te e me rasgas,
    beijo-te, amo-te, detesto-te, preciso de ti, papel, papel, papel!
    Ingrato, lês em mim sem me decifrares.
    O corpo de meu filho estava amortalhado em
    papel,
    em papel dormiam as roupas e brinquedos, em papel os doces
    do casamento. Em grandes pastas os rios, os caminhos
    se deixam viajar, e a diligência roda
    num chão fofo, azul e branco, de papel escrito.
    Basta!
    Quero carne, frutas, vida acesa,
    quero rolar em fêmeas, ir ao mercado, ao Araguaia, ao amor.
    Quero pegar em mão de gente, ver corpo de gente,
    falar língua de gente, obliviar os códigos,
    quero matar o DASP, quero incinerar os arquivos de amianto.
    Sou um homem, ou pelo menos quero ser um deles!


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Mar 2023, 09:27

    O PAPEL

    :
    Tu te queixas...
    Distrais-te na queixa e a mágoa que exalas
    é perfume que te unge, flor que te acarinha.
    Dissolves-te na queixa, e tornado incenso, halo, paz
    te sentes bem feliz enquanto eu sem consolo
    espero tua brutalidade
    sem a qual não vivo nem sou.
    Teu escravo, isto sim, tua coisa calada,
    teu servo branco, tapete onde passeias e compões.
    Tu me fazes sofrer, bicho implacável mais que a onça
    o é para o galho que pisa.
    Por que não sou sem ti? Por que não existo, como as árvores,
    [por conta própria?
    Sou apenas papel, e teu misterioso poder
    me oprime e suja.
    E te revoltas...
    Quisera dizer-te nomes feios independente de tua mão.
    Que as palavras brotassem em mim, formigas no tronco,
    moscas no ar; viessem para fora em caracteres ásperos,
    crescessem, casas e exércitos, e te esmagassem.
    Homenzinho porco, vilão amarelo e cardíaco!
    (Avança para o burocrata, que se protege atrás
    da porta.)


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Mar 2023, 09:28

    A PORTA:


    De tanto abrir e fechar perdi a vergonha.
    Estou exausta, cética, arruinada.
    Discussões não adiantam, porta é porta.
    Perdi também a fé, e por economia
    irão, quem sabe, me transformar em janela
    de onde a virgem
    enfrenta a noite
    e suspira.
    Seu ai de dentifrício americano cortará o céu
    e me salvará.
    Talvez me tornem ainda gaveta de segredos,
    bolsa, calça de mulher, carteira de identidade,
    simples alecrim, alga ou pedra.
    Sim: é melhor pedra.
    Dói nos outros, em si não.
    Uma pedra no coração.


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Mar 2023, 09:29

    A ARANHA:


    Chega!
    Espero que não me queiras nascer um simples vaga-lume.
    Fica quieta, me deixa subir
    e fazer no teto um lustre, uma rosa.
    Sou aranha-tatanha, preciso viver.
    A vida é dura, os corvos não esperam,
    ouço os sinos da noite, vejo os funerais,
    me sinto viúva, regresso à Inglaterra,
    a aranha é o mais triste dos seres vivos.
    O OFICIAL ADMINISTRATIVO.
    Depois de mim, é óbvio.
    Sou o número um — o triste dos tristíssimos.
    A outros o privilégio
    de embriagar-se. Non possumus.



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    114


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Miér 29 Mar 2023, 16:28

    UM MINUTO DEPOIS


    Nudez, último véu da alma
    que ainda assim prossegue absconsa.
    A linguagem fértil do corpo
    não a detecta nem decifra.
    Mais além da pele, dos músculos,
    dos nervos, do sangue, dos ossos,
    recusa o íntimo contato,
    o casamento floral, o abraço
    divinizante da matéria
    inebriada para sempre
    pela sublime conjunção.
    Ai de nós, mendigos famintos:
    pressentimos só as migalhas
    desse banquete além das nuvens
    contingentes de nossa carne.
    E por isso a volúpia é triste
    um minuto depois do êxtase.


    *************************




    UN MINUTO DESPUÉS

    Desnudez, último velo del alma,
    que aun así prosigue oculta.
    El fértil linguaje del cuerpo
    no la detecta ni la descifra.
    Pero más allá de la piel, de los músculos,
    de los nervios, de la sangre, de los huesos,
    rechaza el intimo contacto,
    el casamento floral, el abrazo
    divinizante de la materia
    embriagada para siempre
    por la sublime conjunción.
    Ay de nosotros, mendigos hambrientos:
    Presentimos sólo las migajas
    de ese banquete más allá de las nubes
    contingentes de nuestra carne.
    Y por eso el deleite es triste
    un minuto después del éxtasis.








    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Jue 30 Mar 2023, 20:12

    Necrológio dos Desiludidos do Amor


    Os desiludidos do amor

    estão desfechando tiros no peito.

    Do meu quarto ouço a fuzilaria.

    As amadas torcem-se de gozo.

    Oh quanta matéria para os jornais.


    Desiludidos mas fotografados,

    escreveram cartas explicativas,

    tomaram todas as providências

    para o remorso das amadas.


    Pum pum pum adeus, enjoada.

    Eu vou, tu ficas, mas nos veremos

    seja no claro céu ou turvo inferno.


    Os médicos estão fazendo a autópsia

    dos desiludidos que se mataram.

    Que grandes corações eles possuíam.

    Vísceras imensas, tripas sentimentais

    e um estômago cheio de poesia...


    Agora vamos para o cemitério

    levar os corpos dos desiludidos

    encaixotados competentemente

    (paixões de primeira e de segunda classe).





    Os desiludidos seguem iludidos,

    sem coração, sem tripas, sem amor.

    Única fortuna, os seus dentes de ouro

    não servirão de lastro financeiro

    e cobertos de terra perderão o brilho

    enquanto as amadas dançarão um samba

    bravo, violento, sobre a tumba deles.




    DE'Brejo das Almas'



    *********************



    Necrología de los desilusionados del amor





    Los desilusionados del amor

    están descargando tiros en el pecho.

    De mi cuarto oigo la fusilería.

    Las amadas se retuercen de gozo.

    Oh cuánto material para los periódicos.



    Desilusionados pero fotografiados,

    escribieron cartas explicativas,

    tomaron todas las providencias

    para el remordimiento de las amada
    Pum pum pum adiós, melindrosa.

    Yo me voy, tú te quedas, mas nos veremos

    en el claro cielo o en el turbio infierno.



    Los médicos están haciendo la autopsia

    de los desilusionados que se mataron.

    Qué grandes corazones tenían ellos.

    Vísceras inmensas, tripas sentimentales

    y un estómago lleno de poesía…



    Ahora vamos hacia el cementerio

    a llevar a los cuerpos de los desilusionados

    encajonados debidamente

    (pasiones de primera y de segunda clase).


    Los desilusionados siguen ilusos,

    sin corazón, sin tripas, sin amor.

    Única fortuna: sus dientes de oro

    no servirán de depósito financiero,

    y cubiertos de tierra perderán el brillo;

    en cuanto a las amadas, bailarán una samba

    brava, violenta, sobre sus tumbas.



    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Vie 31 Mar 2023, 16:41

    CONSOLO NA PRAIA


    Vamos, não chores...
    A infância está perdida.
    A. mocidade esta perdida.
    Mas a vida não se perdeu.

    O primeiro amor passou.
    O segundo amor passou.
    O terceiro amor passou.
    Mas o coração continua.

    Perdeste o melhor amigo.
    Não tentaste qualquer viagem.
    Não possuis casa, navio, terra.
    Mas tens um cão.

    Algumas palavras duras,
    em voz mansa, te golpearam.
    Nunca, nunca cicatrizam.
    Mas, e o humour?

    A injustiça não se resolve.
    A sombra do mundo errado
    murmuraste um protesto tímido.
    Mas virão outros.

    Tudo somado, devias
    precipitar-te, de vez, nas águas.
    Estás nu na areia, no vento...
    Dorme, meu filho.




    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    128


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 01 Abr 2023, 10:14

    Carlos Drummond de Andrade nace en Itabira, Minas Gerais, en 1902. A los 23 años de edad edita con otros escritores la publicación literaria llamada La Revista. La obra de Drummond en esa época respira el clima, los ordenamientos y los principios de la nueva dimensión poética que propugna el modernismo.

    Innovación del lenguaje poético y rompimiento con estructuras arcaizantes que rigen la mentalidad de los poetas del siglo XIX y principios del XX, son las características del modernismo brasileño que se inicia con la llamada Semana de Arte Moderna1. Los postulados del modernismo se extienden a través de tres etapas fundamentales: en el año 22; la de los años 30 —a la que pertenece Drummond— y finalmente, la denominada "Generación del 45".

    Drummond, puente entre la primera época del modernismo y el redescubrimiento de la poesía de los años posteriores, enlaza, a manera de un rompecabezas armándose, el lenguaje coloquial de la primera fase, con la nueva revigorización y la depuración de las formas poéticas. Esa primera fase se apoyaba en el acervo cultural específico del Brasil: su geografía, las costumbres de cierta región, cuya resultante fue la afirmación de un portugués abrasileñado. Drummond inicia una búsqueda consciente de mayor dimensión universal; estructura su obra con base en procedimientos donde la innovación y la originalidad son un mero recurso expresivo; estabiliza el uso del verso libre; elabora el soneto ante perspectivas estéticas —en relación al lenguaje— de mayor contenido vital. Replantea, por tanto, los procesos de creación del poema sujetándolos a una visión individual crítica vinculada con su mundo circundante.

    Mario de Andrade valoraba los inicios del modernismo así: "…existe un mérito innegable, aunque aquellos primeros modernistas… de las cavernas… hayamos servido apenas de altoparlantes de una fuerza universal y nacional mucho más compleja que nosotros"2. La necesidad de superar una época que le exige nuevos ordenamientos estéticos, lleva a Drummond a aprehender y fundamentar una poética personal, que le convierte no únicamente en un puente sino en el consolidador de los principios de una nueva poesía más rigurosa y al mismo tiempo multidimensional.

    La poesía de Drummond se bifurca, por una parte, en temas que aluden a la subjetividad, como es el caso del poema con el que Drummond es reconocido por la crítica literaria de la época como el creador de un lenguaje particular y de gran expresividad: "No meio do caminho", escrito en 1930.

    Y por la otra se caracteriza por el acento social con que enfoca sus textos. En este sentido, la obra drummoniana corresponde a una estética que se inscribe en el orden de la conciencia crítica, cuya gran virtud es la de proyectar poéticamente temas tradicionalmente ásperos a la poesía.

    Para estructurar su obra Drummond utiliza —formalmente— la imagen sugestiva con valores que van desde ritmos muy sencillos hasta la profundidad orquestal del poema; recurre al especulamiento musical y tonal tensando las voces de la manifestación poética. No se trata de un juego de palabras: es el matiz esencial de un lenguaje particular.

    onda e amor, onde amor, ando indagando…
    Otro rasgo de importancia en su obra es el recurso de la repetición que se constituye en el eje arquetípico de su obra:


    nas praias nu nu nu nu nu
    tu tu tu tu tu no meu coração
    Este procedimiento tiene las particularidades de la poesía hermética, abordable solamente a través de "interpretaciones", pero sin duda alguna es la resultante natural de los modernistas en contra de la retórica y la ramplonería entonces oficial. Por otra parte Drummond imprime en su obra la ironía y el humorismo, clásicos en él, que revelan un espíritu tímido siempre insatisfecho de su propia expresión:

    Jo ão que amava Teresa que amava Raimundo
    que amava María que amava Joaquín que amava Lili
    que não amava ninguén.

    Hay poemas de Drummond que aparentemente tienen una función tan sólo contemplativa y rítmica; sin embargo con un lenguaje sorprendente, tomado de la técnica de los anuncios comerciales, la sensación sonora es denunciada como una anticipación a las experiencias de la poesía concreta que constituye una de las derivaciones de la tercera fase del modernismo y cuyo auge se sitúa en Brasil en 1950. Drummond no es ajeno, por consiguiente, a la constante renovación, escribe en 1962 poemas que corresponden a esta vertiente como: "Os materias da vida", "Massacre"…

    La obra de Carlos Drummond de Andrade es vasta. Las traducciones se realizaron siguiendo el orden cronológico de publicación de sus libros. La importancia de su obra en la lírica brasileña es extraordinaria, por cuyas profundas resonancias tiene un lugar especial en la poesía latinoamericana contemporánea. Es por tanto imperdonable su desconocimiento en nuestro idioma; de ahí la justificación de las presentes traducciones como un tardío homenaje a su obra.




    Maricela Terán



    1 La Semana de Arte Moderna, realizada en 1922, fue un movimiento que reunió a todas las artes originando el modernismo brasileño. Tuvo lugar en São Paulo y fue la preconciencia y después la convicción de un arte nuevo preconizado en tres principios fundamentales: el derecho permanente a la investigación estética; la actualización de la inteligencia artística brasileña y la estabilización de una actitud creadora nacional. La importancia del movimiento logró la conjugación de tres normas en la conciencia colectiva, participaron entre otros, los poetas Mario de Andrade y Osvalde de Andrade, la pintora Anita Malfatti y el escultor Víctor Brecheret.

    2 Andrade Mario de, "O movimento modernista", Aspectos da literatura brasileira, Livraria Martins Editora, São Paulo, p. 231.





    Poema de siete faces



    Cuando nací, un ángel tuerto
    de esos que viven en la sombra
    dijo: ve, Carlos! sé gauche en la vida.1

    Las casas espían a los hombres
    que corren tras de mujeres.
    La tarde tal vez fuese azul
    si no hubiesen tantos deseos.

    El camión pasa lleno de piernas:
    Piernas blancas, negras, amarillas.
    Para qué tanta pierna, Dios mío, pregunta mi
    corazón.

    Entretanto mis ojos
    no preguntan nada.

    El hombre tras el bigote
    es serio, simple y fuerte.
    Casi no conversa.
    Tiene pocos, raros amigos.
    El hombre tras de los lentes y del bigote.

    Dios mío por qué me abandonaste
    si sabías que yo no era Dios
    si sabías que yo era débil.

    Mundo mundo vasto mundo,
    si yo me llamase Raimundo
    sería una rima, no sería una solución.
    Mundo mundo vasto mundo,
    más vasto es mi corazón.

    Yo no debía decírtelo,
    pero esa luna
    pero ese coñac
    lo ponen a uno conmovido como un demonio.



    1Gauche, en portugués, significa torpe, poco apto, etcétera.



    Yo también fui brasileño



    Yo también fui brasileño,
    moreno como ustedes.
    Punteé la guitarra, guié ganado
    y aprendí en la mesa de los bares
    que el nacionalismo es una virtud.
    Pero hay una hora en que los bares se cierran
    y todas las virtudes se niegan.

    Yo también fui poeta.
    Bastaba mirar a la mujer,
    pensar luego en las estrellas
    y otros celestes sustantivos.
    Pero eran tantas, el cielo tan grande,
    que mi poesía se turbó.

    Yo también tuve mi ritmo.
    Hacía esto, decía aquello.
    Y mis amigos me querían
    y mis enemigos me odiaban.
    Yo, irónico, me escurría
    satisfecho en mi ritmo.
    Pero acabé confundiéndolo todo.
    Hoy no me deslizo más,
    no soy irónico más,
    ya no tengo ritmo.








    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 01 Abr 2023, 10:15

    Nota social



    El poeta llega a la estación.
    El poeta se baja del tren.
    El poeta toma un auto.
    El poeta va al hotel.
    Y mientras hace eso
    como cualquier hombre común,
    una ovación lo persigue
    como una rechifla.

    Banderolas se apartan.
    Bandas de música. Cohetes.
    Discursos. El pueblo se pone su sombrero de paja.
    Cámaras fotográficas afocan.
    Coches parados.
    Bravos…
    El poeta está melancólico.

    En un árbol del paseo público
    (mejora de la actual administración)
    árbol gordo, prisionero
    de anuncios coloridos,
    árbol banal, árbol que nadie ve,
    canta una cigarra,
    canta una cigarra que nadie oye,
    un himno que nadie aplaude.
    Canta, bajo un sol endemoniado.

    El poeta entra en el elevador,
    el poeta sube,
    el poeta se encierra en su cuarto.

    El poeta está melancólico.



    ****************


    Cuadrilla



    Juan amaba a Teresa que amaba a Raimundo
    que amaba a María que amaba a Joaquín que amaba a Lili
    que no amaba a nadie.
    Juan se fue a los Estados Unidos, Teresa entró a un
    convento,
    Raimundo murió en un desastre, María se quedó soltera,
    Joaquín se suicidó y Lili se casó con J. Pinto Fernández
    que no había entrado en la historia.















    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 01 Abr 2023, 10:16

    Explicación



    Mi verso es mi consolación.
    Mi verso es mi bebida. Todo mundo tiene su bebida.
    Para beber en copa de cristal, en jarra de hojalata,
    hoja de plátano, poco importa: todo sirve.

    Para alabar a Dios, aliviar el pecho,
    lamentar el desprecio de la morena, contar mi vida y
    trabajos,
    hago mis versos. Y mi verso me agrada.

    Mi verso me agrada siempre…
    Tiene, a veces, el aire desvergonzado de quien va a dar
    una pirueta
    mas no es para el público, es para mí mismo.
    Yo me entiendo bien.
    No soy alegre: hasta soy muy triste.
    La culpa es de las bananeras de mi país, esta sombra
    blanda, floja.
    Hay días en que ando en la calle con los ojos bajos
    para que nadie desconfíe, nadie se dé cuenta
    que pasé la noche entera llorando.
    Estoy en el cine viendo una película de Hoot Gibson,
    de repente oigo la voz de una guitarra…
    salgo desanimado.
    Ah, ser hijo de hacendado!
    A la vera de San Francisco, de paraíba o de cualquier
    arroyuelo vagabundo,
    es siempre la misma sen-si-bi-li-dad.
    Y uno viajando por la patria, siente saudades por la patria.
    Aquella casa de nueve pisos comerciales
    es muy interesante.
    La casa colonial de la hacienda también era…
    En el elevador pienso en el campo,
    en el campo pienso en el elevador.
    Quien me hizo así fue mi gente y mi tierra,
    me gusta haber nacido con esa tara.
    Para mí, de todas las necedades, la mayor es suspirar
    por Europa.
    Europa es una ciudad muy vieja donde sólo hacen caso
    del dinero
    y tienen unas actrices de piernas adjetivas que engañan
    a uno.
    El francés, el italiano, el judío hablan una lengua de
    harapos.
    Aquí, al menos, uno sabe que todo es una canalla
    solamente.
    Lee su periódico, ataca al gobierno,
    se queja de la vida (la vida está tan cara)
    y al final acierta.

    Si mi verso no es, fue su oído que no oyó;
    ¿No dije a usted que no soy sino poeta?




    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Dom 02 Abr 2023, 21:30

    Necrología de los desilusionados del amor



    Los desilusionados del amor
    están descargando tiros en el pecho.
    De mi cuarto oigo la fusilería.
    Las amadas se retuercen de gozo.
    Oh cuánto material para los periódicos.

    Desilusionados pero fotografiados,
    escribieron cartas explicativas,
    tomaron todas las providencias
    para el remordimiento de las amadas.
    Pum pum pum adiós, melindrosa.
    Yo me voy, tú te quedas, mas nos veremos
    en el claro cielo o en el turbio infierno.

    Los médicos están haciendo la autopsia
    de los desilusionados que se mataron.
    Qué grandes corazones tenían ellos.
    Vísceras inmensas, tripas sentimentales
    y un estómago lleno de poesía…

    Ahora vamos hacia el cementerio
    a llevar a los cuerpos de los desilusionados
    encajonados debidamente
    (pasiones de primera y de segunda clase).

    Los desilusionados siguen ilusos,
    sin corazón, sin tripas, sin amor.
    Única fortuna: sus dientes de oro
    no servirán de depósito financiero,
    y cubiertos de tierra perderán el brillo;
    en cuanto a las amadas, bailarán una samba
    brava, violenta, sobre sus tumbas.



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Lun 03 Abr 2023, 19:26

    Sentimiento del mundo



    Tengo tan sólo dos manos
    y el sentimiento del mundo.
    Pero estoy lleno de esclavos:
    mis recuerdos que escapan
    y lo que el cuerpo concilia
    en la confluencia del amor.

    Cuando me levante, el cielo
    estará muerto y saqueado,
    yo mismo estaré muerto,
    muerto mi deseo, muerto
    el pantano.

    Los camaradas no me dijeron
    que había guerra
    y era necesario
    traer fuego y alimento.

    Humildemente les pido me perdonen:
    me siento disperso.
    Anterior a las fronteras.

    Cuando los cuerpos pasen,
    yo quedaré solito
    deshilachando el recuerdo
    del campanillero, de la viuda, del microcopista
    que habitaban la barraca
    y no fueron encontrados
    al alba:
    alba más oscura que la noche.



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]
    Maria Lua
    Maria Lua
    Administrador-Moderador
    Administrador-Moderador


    Cantidad de envíos : 71951
    Fecha de inscripción : 12/04/2009
    Localización : Nova Friburgo / RJ / Brasil

    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Maria Lua Mar 04 Abr 2023, 17:44

    Los hombros soportan el mundo



    Llega una época en que no se dice más: Dios mío.
    Época de absoluta depuración.
    Época en que no se dice más: amor mío.
    Porque el amor resultó inútil.
    Y los ojos no lloran.
    Y las manos tejen apenas su rudo trabajo.
    Y el corazón está seco.

    En vano mujeres golpean la puerta: no abrirás.
    Te quedaste solo; la luz se apagó,
    pero en la sombra tus ojos brillan enormes,
    Eres todo certeza; ya no sabes sufrir
    y de tus amigos no esperas nada.

    Poco importa que llegue la vejez, ¿qué es la vejez?
    Tus hombros soportan el mundo:
    y no pesa más que la mano de un niño.
    Las guerras, las hambres, las discusiones dentro de los
    edificios
    prueban apenas que la vida prosigue
    y no todos se liberan todavía.
    Algunos, encontrando bárbaro el espectáculo,
    preferirían (los delicados) morir.
    Llegó una época en que da igual morir.
    Llegó una época en que la vida es una orden.
    La vida apenas, sin mistificación.






    [Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]


    _________________



    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]


    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





    [Tienes que estar registrado y conectado para ver esa imagen]

    Contenido patrocinado


    CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 –  17/08/ 1987) - Página 18 Empty Re: CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE (Brasil, 31/10/ 1902 – 17/08/ 1987)

    Mensaje por Contenido patrocinado


      Fecha y hora actual: Sáb 27 Jul 2024, 02:40