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    Mensaje por Maria Lua Mar 16 Abr 2024, 19:49

    Achados e perdidos



    Generalizando, e dando ao caso um toque emocional de exagero, levo
    metade do dia a procurar o que se extraviou na véspera.
    Não, não tentem ajudar-me, ó bem-amadas, pois não se trata de joias e, se
    por acaso eu as houvesse herdado, não teriam para mim outro valor senão o de
    empenhá-las pouco a pouco.
    O que eu perco são coisas imponderáveis, suspiros não, mas pensamentos, se
    assim posso chamar o que às vezes me borboleteia na cuca e que procuro
    transfixar no papel, antes que um súbito buzinar ou britadeira as mate de
    nascença.
    E, enquanto procuro traçá-las a lápis no papel, pois graças a Deus não
    pertenço intelectualmente à era mecânica, às vezes me parece que, por
    exemplo, um manuscrito me saiu um garrancho, ou, antes, um gancho, que faz
    pender a linha destas escrituras e por conseguinte a linha do pensamento.
    Estão vendo? De que era mesmo que eu estava falando? Ah! era dos papéis
    escritos, extraviados, esquecidos.
    Quem sabe lá como seriam bons!
    Quanto a este, que tive o cuidado de não perder, o melhor será colocar-lhe
    no fim os três pontinhos das reticências...
    Ninguém sabe ao certo o que querem dizer reticências.
    Em todo caso, desconfio muito que esses três pontinhos misteriosos foram a
    maior conquista do pensamento ocidental...






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    Mensaje por Maria Lua Jue 18 Abr 2024, 15:36

    Até que enfim



    Ora, até que enfim chegou o outono, o outono de azulejo e porcelana. Olho
    (estou na nossa velha praça da Alfândega) a estátua equestre do general. Estão
    ambos verdes, num louvável mimetismo, contra o verde das árvores ao fundo,
    especialmente o daquele belíssimo guapuruvu, já cantado por Nogueira Leiria.
    Quero crer que o Leiria se foi antes que houvessem cortado um braço lateral
    da sua árvore, quebrando a bela simetria da copa. Espero que não tenha saído
    sangue dessa amputação, como aconteceu com a árvore no poema “O
    lenhador”, de Catulo da Paixão Cearense.
    Olho, para disfarçar, os guris no tobogã. Meu sorriso interior, no entanto, fica
    em meio. Porque esses guris em breve vão perecer. Isto é, vão perder a infância,
    a inocência animal, para ganhar em troca, no mínimo, uma sonsice social. E
    ostentarão esse falso cinismo da adolescência, mais perdoável, aliás, que o
    cinismo rancoroso dos velhos.
    Mas, por enquanto, ainda estão estragando por aí os fundilhos. E que brilho
    nas caras de maçãs, acesas na escorregadela a jato! A tarde mira-se nos seus
    olhos. Repara bem no que te digo: a tarde é que se mira nos seus olhos, que se
    limitam a refletir as coisas, em vez de refletir sobre as coisas. Eles estão na vida
    como peixes n’água: sem saber. E no mesmo contínuo movimento.




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    Mensaje por Maria Lua Vie 19 Abr 2024, 08:39

    A gente ainda não sabia

    A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
    E pensava-se que nalgum lugar, muito longe,
    deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer
    — uma tabuleta meio torta
    e onde se lia, em letras rústicas: FIM DO MUNDO.
    Ah! depois nos ensinaram que o mundo não tem fim
    e não havia remédio senão irmos andando às tontas
    como formigas na casca de uma laranja.
    Como era possível, como era possível, meu Deus,
    viver naquela confusão?
    Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins de mundo...


    *******************


    Todavia no lo sabiamos

    Todavía no sabíamos que la Tierra era redonda.
    Y se pensaba que en algún lugar, muy lejano,
    Debería haber algún cartel en un cartel antiguo.
    — un cartel medio torcido
    y donde se leía, en letras rústicas: FIN DEL MUNDO.
    ¡Ah! Luego nos enseñaron que el mundo no tiene fin.
    y no quedó más remedio que caminar mareado
    como hormigas sobre la piel de una naranja.
    Cómo era posible, cómo era posible, Dios mío,
    vivir en aquella confusión?
    Por eso establecimos un montón de fines del mundo...





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    Mensaje por Maria Lua Sáb 20 Abr 2024, 10:08


    Coisas nossas


    Quando eu tinha dezesseis, dezessete anos, evitava qualquer menção de local,
    qualquer laivo bairrista em meus contos, para que estes pudessem ser lidos sem
    dificuldade em traduções francesas. Eis aí como eram os adolescentes do meu
    tempo: viviam em Paris... Enquanto isto, no interior do meu Estado, Simões
    Lopes Neto escrevia em português, ou antes em brasileiro, ou melhor ainda em
    linguagem guasca, os “Contos gauchescos” e as “Lendas do Sul” — belas
    histórias tão tipicamente nossas, porém de gabarito universal. E desconfio até que
    nas “Lendas”, pelo verismo dos pormenores, tenha sido ele, nas três Américas, o
    verdadeiro precursor do realismo fantástico.



    **********************


    Cosas Nuestras



    Cuando tenía dieciséis o diecisiete años, evitaba cualquier mención de ubicación,
    cualquier toque provinciano en mis historias, para que pudieran ser leídas sin
    dificultad en las traducciones al francés.
    Así eran los adolescentes de mi tiempo: vivían en París...

    Mientras tanto, en el interior de mi Estado, Simões
    Lopes Neto escribía en portugués, o más bien en brasileño, o mejor aún en
    lengua guasca, los “Cuentos gauchescos” y las “Leyendas del Sur” – bellas
    historias tan típicamente nuestras, pero con un alcance universal.
    Y hasta sospecho que
    en las “Leyendas”, por la exactitud de los detalles, haya sido él fue, en las tres Américas,
    el verdadero precursor del realismo fantástico.







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    Mensaje por Maria Lua Mar 23 Abr 2024, 13:21

    O que chegou de outros mundos




    Tenho uma cadeira de espaldar muito alto
    Para o visitante noturno
    E enquanto levemente balanço entre uma e outra vaga de sono,
    Ei-lo
    O que chegou de outros mundos...
    ali sentado e sem um movimento.
    Talvez me olhe como se eu fora a branca estátua
    derribada de um deus.
    Talvez me olhe como a forma já ultrapassada
    (que tudo o seu espanto e imobilidade pode dizer).
    E eu então - ele ainda deve estar ali! -
    Levanto-me e vou cumprindo
    Todos os meus rituais.
    Todos os estranhos rituais de minha condição e espécie.
    Religiosamente.
    Cheio de humildade e orgulho.



    Mario Quintana,
    in A Vaca e o Hipogrifo




    *****************




    El que llegó de otros mundos


    Tengo una silla de espaldar muy alto

    Para el visitante nocturno

    Y en cuanto levemente me balanceo entre una y otra onda de sueño

    Helo aquí

    El que llegó de otros mundos —

    Allí sentado y sin un movimiento

    Tal vez me mira como si yo fuera la blanca estatua derribada de un dios.

    Tal vez me mira como a una forma ya ultrapasada

    (Que todo él es espanto e inmovilidad se puede decir)

    Y yo

    Entonces

    —¡él todavía debe estar allí!—

    Me levanto y voy cumpliendo

    Todos mis rituales.

    Todos los extraños rituales de mi condición y especie.

    Religiosamente. Lleno de humildad y orgullo.


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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Abr 2024, 20:12

    Reflexos, reflexões...


    I
    Quando a idade dos reflexos, rápidos, inconscientes, cede lugar à idade das
    reflexões — terá sido a sabedoria que chegou? Não! Foi apenas a velhice.
    II
    Velhice é quando um dia as moças começam a nos tratar com respeito e os
    rapazes sem respeito nenhum.
    III
    Ora, ora! não se preocupe com os anos que já faturou: a idade é o menor
    sintoma de velhice.



    ******************


    Reflejos, reflexiones...


    I
    Cuando la era de los reflejos rápidos, inconscientes da paso a la era de los
    reflexiones: ¿fue la sabiduría lo que llegó? ¡No! Es sólo la vejez.
    II
    La vejez es cuando un día las niñas empiezan a tratarnos con respeto y los
    chicos sin ningún respeto.
    III
    ¡Bien bien! No te preocupes por los años que ya has ganado: la edad es la más baja
    síntoma de la vejez.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 28 Abr 2024, 09:50

    Elegia número onze



    Não, não é uma série de pontos de exclamação
    — é uma avenida de álamos...
    E o que, e para quem, clamariam então?!
    Deserta está a cidade.
    Todas as avenidas, todas as ruas, todas as estradas atônitas
    se perguntam se vêm ou se vão...
    Em nada lhes poderiam servir esses postes de quilometragem:
    estão apenas desenhados, como num mapa.
    Ah, se houvesse uns passos, ainda que fossem solitários...
    Se houvesse alguém andando sozinho... e bastava!
    [São
    os passos
    — são os passos que fazem os caminhos.
    Deserta está a cidade.
    Se houvesse alguém andando sozinho
    — para ele se acenderiam então, como um olhar, todas
    [as
    cores!
    Porque a cidade está cega, também.
    O que não é visto por ninguém
    não sabe a cor e o aspecto que tem.
    A cidade está cega e parada com a descor de um morto.
    Porque tudo aquilo que jamais é visto
    — não existe...



    *******************


    Elegía número once



    No, no es una serie de signos de exclamación.
    — es una avenida de álamos...
    ¡¿Y qué y a quién gritarían entonces?!
    La ciudad está desierta.
    Todas las avenidas, todas las calles, todas las carreteras asombradas
    se preguntan si van o vienen...
    Esos carteles de kilometrajes no les servirían de nada:
    simplemente están dibujados, como en un mapa.
    Ah, si hubiera algunos pasos, aunque fueran solitarios...
    Si hhubiera alguien caminando solo... ¡y ya era suficiente!
    [Son
    los pasos
    - son los pasos los que hacen los caminos.
    La ciudad está desierta.
    Si hubiera alguien caminando solo
    — para él entonces se iluminarían, como una mirada, todos
    [hacia
    ¡colores!
    Porque la ciudad también es ciega.
    Lo que nadie ve
    no sabe qué color o apariencia tiene.
    La ciudad está ciega y quieta con la falta de color de un muerto.
    Porque todo lo que nunca se ve
    - no existe...


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    Mensaje por Maria Lua Mar 30 Abr 2024, 20:45

    Gramática da felicidade


    Vivemos conjugando o tempo passado (saudade, para os românticos) e o tempo futuro (esperança, para os idealistas). Uma gangorra, como vês, cheia de altos e baixos — uma gangorra emocional. Isto acaba fundindo a cuca de poetas e sábios e maluquecendo de vez o Homo sapiens. Mais felizes os animais, que, na sua gramática imediata, apenas lhes sobra um tempo: o presente do indicativo. E que nem dá tempo para suspiros...


    ******************


    Gramática de la felicidad


    Vivimos conjugando el tiempo pasado (nostalgia, para los románticos) y el tiempo futuro (esperanza, para los idealistas). Un columpio, como ves, lleno de altibajos, un columpio emocional. Esto acaba rompiendo los cerebros de poetas y sabios y volviendo loco al Homo sapiens de una vez por todas. Más felices son los animales, a los que, en su gramática inmediata, sólo les queda un tiempo: el tiempo presente. Y no hay tiempo para suspiros...


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    Mensaje por Maria Lua Miér 01 Mayo 2024, 19:12

    Bilhete a Heráclito


    Tudo deu certo, meu velho Heráclito,
    porque eu sempre consigo
    atravessar esse teu outro rio
    com o meu eu eternamente outro...


    **************


    Mensaje a Heráclito


    Todo salió bien, mi viejo Heráclito,
    porque siempre consigo
    cruzar ese otro río tuyo
    con mi yo eternamente otro...





    *******************


    *********************


    Viagens no tempo



    Os Reis Magos voltaram a seus remotos países. Mas todos os anos voltam
    para ver a Estrela como numa história que alguém conta de novo e sempre...
    Mas ninguém mais viu em parte alguma a Estrela (nem eles).
    Não adiantam satélites, radares, hipertelescópios: não há nada no Céu e — na
    Terra — está mudado o mapa...
    Mas os Reis Magos querem ver a Estrela!
    — Ora, é só deixares que passe esta noite mágica e eles regressam...
    — Mas como vão saber, os pobres, onde é que ficam seus países de lenda?



    ***********


    Viaje en el tiempo


    Los Reyes Magos regresaron a sus remotos países. Pero cada año vuelven
    a ver la Estrella como en una historia que alguien cuenta una y otra vez...
    Pero nadie más vio la Estrella en ninguna parte (ni siquiera ellos).
    No tienen sentido los satélites, los radares y los hipertelescopios: no hay nada en el Cielo y, en
    Tierra: el mapa ha cambiado...
    ¡Pero los Reyes Magos quieren ver la Estrella!
    — Bueno, deja que pase esta noche mágica y ellos volven...
    — ¿Pero cómo sabrán, los pobres, dónde están sus países legendarios?



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    Mensaje por Maria Lua Jue 02 Mayo 2024, 09:56

    OPERAÇÃO ALMA





    Há os que fazem materializações…
    Grande coisa! Eu faço desmaterializações.
    Subjetivações de objetos.
    Inclusive sorrisos,
    Como aquele que tu me deste um dia com o mais
    puro azul de teus olhos
    E nunca mais nos vimos. (Na verdade, a gente nunca
    mais se vê…) No entanto,
    Há muito que ele faz parte de certos estados do céu,
    De certos instantes de serena, inexplicável alegria,
    Assim como um voo sozinho põe um gesto de adeus
    na paisagem,
    Como uma curva de caminho,
    Anônima,
    Torna-se às vezes a maior recordação de toda uma
    volta ao mundo!



    Mario Quintana, Melhores poemas



    ********************



    “Operación Alma”:



    Están los que materializan,
    y tienen su importancia. Pero yo desmaterializo.
    Subjetivizo objetos,
    incluidas sonrisas,
    como aquélla que tú me diste un día con el más puro
             azul de tus ojos,
    y no nos vimos más. (Lo cierto es que la gente no se ve
             nunca más…) Entretanto tu sonrisa
    hace mucho que forma parte de ciertos estados de cielo
    y de ciertos momentos de serena, inexplicable alegría,
    como un vuelo de un pájaro pone un gesto de adiós en
             el paisaje,
    como una curva del camino,
    anónima,
    se vuelve a veces el mejor recuerdo de una vuelta al mundo.



    *****************


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Jue 02 Mayo 2024, 20:14

    Evolução


    Antes, quase todo mundo passava a vida em salas de espera. Mas, agora, em
    vez daquele abafamento, é nestas longas filas de espera, ao ar livre, em plena
    rua.


    *******************

    Evolución


    Antes, casi todo el mundo pasaba la vida en salas de espera. Pero ahora, en
    en lugar de esa ahogamiento, está en estas largas colas, al aire libre, en plena calle.



    **************
    ****************


    Seiscentos e sessenta e seis


    A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.
    Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...
    Quando se vê, já é 6ª-feira...
    Quando se vê, passaram 60 anos...
    Agora, é tarde demais para ser reprovado...
    E se me dessem — um dia — uma outra oportunidade,
    eu nem olhava o relógio
    seguia sempre, sempre em frente...
    E iria jogando pelo caminho a casca dourada
    e inútil das horas.


    ****************


    Seiscientos sesenta y seis

    La vida son algunos deberes que trajimos para hacer en casa.
    Cuando lo ves, ya son las 6: hay tiempo...
    Cuando lo ves, ya es viernes...
    Cuando lo ves, han pasado 60 años...
    Ahora, es demasiado tarde para ser suspendido.
    Y si me dieran, un día, otra oportunidad,
    Ni siquiera miraría el reloj.
    seguiría siempre, siempre en frente
    Y tiraría por el camino la concha dorada
    e inútil de las horas.



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 04 Mayo 2024, 09:32

    No princípio do fim



    Há ruídos que não se ouvem mais:
    — o grito desgarrado de uma locomotiva na madrugada
    — os apitos dos guardas-noturnos quadriculando como um mapa a cidade
    adormecida
    — os barbeiros que faziam cantar no ar suas tesouras
    — a matraca do vendedor de cartuchos
    — a gaitinha do afiador de facas
    — todos esses ruídos que apenas rompiam o silêncio.
    E hoje o que mais se precisa é de silêncios que interrompam o ruído.
    Mas que se há de fazer?
    Há muitos — a grande maioria — que já nasceram no barulho. E nem sabem,
    nem notam, por que suas mentes são tão atordoadas, seus pensamentos tão
    confusos. Tanto que, na sua bebedeira auricular, só conseguem entender as frases
    repetitivas da música Pop. E, se esta nossa “civilização” não arrebentar,
    acabamos um dia perdendo a fala — para que falar? para que pensar? —
    ficaremos apenas no batuque:
    “Tan!tan!tan!tan!tan!”




    **********************





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    Mensaje por Maria Lua Dom 05 Mayo 2024, 07:26

    Instabilidade


    Muita vez me entretenho em reconstruir de memória a nossa antiga casa
    paterna. Deixo-me estar no caramanchão, com sua mesa de pedra apanhando o
    sol coado pelas trepadeiras. Quanto aos longos corredores, será melhor que os
    evoque de noite, quando, no escuro do quarto, fico a imaginar que a noite de
    agora está cobrindo ainda a velha casa.
    Sim! nesta época de grandes transformações arquitetônicas, a nossa alma
    teimosa continua morando nessas casas-fantasmas.
    Reconstruíram a cidade antiga, mas esqueceram-se de reconstruir as nossas
    almas. Daí, a instabilidade contemporânea.
    Porque não somos contemporâneos de nós mesmos. Porque, hoje, só
    podemos dizer com saudade aquele belo verso de Sainte-Beuve:
    “Naître, vivre et mourir dans la même maison...”



    P.S.
    Este verso, é a segunda vez que o cito neste livro.
    Mas não há motivo para pedir desculpas. Muito pelo contrário.




    ***************


    Inestabilidad


    Muchas veces me entretengo a reconstruir de memoria nuestra antigua casa paternal.
    Me dejé estar en la glorieta, con su mesa de piedra recogiendo
    el sol que se filtraba entre las vides. En cuanto a los pasillos largos, será mejor que
    evocarlos por la noche, cuando, en la oscuridad de la habitación, imagino que la noche
    ahora todavía cubre la antigua casa.
    ¡Sí! En esta época de grandes transformaciones arquitectónicas, nuestra alma
    testaruda sigue viviendo en esas casas fantasmas.
    Reconstruyeron la ciudad antigua, pero se olvidaron de reconstruir nuestras.
    almas. De ahí la inestabilidad contemporánea.
    Porque no somos contemporáneos de nosotros mismos. Porque hoy sólo
    podemos decir con nostalgia aquel hermoso verso de Sainte-Beuve:
    “Naître, vivre et mourir dans la même maison...”



    PD
    Este verso es la segunda vez que lo cito en este libro.
    Pero no hay motivo para disculparme. Al contrário.


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    Mensaje por Maria Lua Miér 08 Mayo 2024, 18:35

    O tempo e os tempos



    Na idade em que eu fazia umas ficções — é o termo — um dia o Erico me
    disse, naquela sua maneira discreta e indireta de dar conselho: deve-se escrever
    sempre no presente do indicativo, dá mais vida à ação, às personagens, o leitor se
    sente como uma testemunha ocular do caso.
    Trinta e seis anos depois, o crítico Fausto Cunha notou a preferência, em
    meus poemas, pelo pretérito imperfeito. Por quê? Não sei, mas deve ser porque o
    tempo passado empresta às coisas um sabor definitivo, esse misterioso
    sentimento de saudade com que a gente olha uma cena num quadro de Renoir,
    um Anjo ou uma Vênus de Botticelli. Sem escusar-me, eu diria que o pretérito
    imperfeito não é um tempo morto: é um tempo continuativo...
    Porém, deixemos de bizantinismos e voltemos ao Erico. Confesso-lhe que
    sempre penso nele no presente do indicativo. Ele está aqui, tão presente que nem
    dá tempo para a saudade. Como também estão comigo o Augusto Meyer, o
    Telmo Vergara, a Cecília...


    ****************

    tiempo y tiempos



    A la edad en que escribía ficción -ese es el término- un día Erico me dijo
    en aquella forma discreta e indirecta de dar consejos: deberías escribir
    siempre en el presente del indicativo, le da más vida a la acción, a los personajes, el lector
    se siente como un testigo ocular del caso.
    Treinta y seis años después, el crítico Fausto Cunha señaló la preferencia, en
    mis poemas, por el pretérito imperfecto. ¿Por qué? No lo sé, pero debe ser porque el
    pretérito imperfecto da a las cosas un sabor definitivo, este misterioso
    sentimiento de añoranza con el que miramos una escena de un cuadro de Renoir,
    un ángel o una Venus de Botticelli. Sin disculparme, diría que el pretérito imperfecto
    no es un tiempo muerto: es un tiempo continuo...
    Sin embargo, detengámonos en el bizantinismo y volvamos a Erico. Confieso que
    Siempre pienso en él en presente del indicativo. Él está aquí, tan presente que ni siquiera
    hay tiempo para echarlo de menos. Como también siguen conmigo Augusto Meyer,
    Telmo Vergara, Cecília...


    *** Los sonmbre citados son de escritores. (Érico Veríssimo, Cecília Meireles)



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    Mensaje por Maria Lua Vie 10 Mayo 2024, 20:05

    Trecho de carta


    Se nunca nasceste de ti mesmo, dolorosamente, na concepção de um
    poema... estás enganado: para os poetas não existe parto sem dor.


    **********************

    Trecho de carta


    Si nunca naciste de ti mismo, dolorosamente, en la concepción de un
    poema... te equivocas: para los poetas no existe parto sin dolor.


    ******************


    *********************


    A vida



    Mas se a vida é tão curta como dizes
    por que é que me estás lendo até agora?


    ****************

    La vida



    Pero si la vida es tan corta como dices
    ¿Por qué me estás leyendo hasta ahora?



    **************


    *****************


    No meio da rua, não


    — Mas por que você não deita as suas ideias por escrito? — digo-lhe. Ele
    entrepara, não sabe se ofendido ou lisonjeado. Explico-lhe:
    — É que, por escrito, a gente pode ler em casa com todo o tempo...


    *******************


    En medio de la calle, no

    "¿Pero por qué no pones tus ideas por escrito?" Yo le digo. Él
    para, no sabe si está ofenddido o halagado. Le explico:
    — Es que, por escrito, podemos leer en casa con más tiempo...








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    Mensaje por Maria Lua Sáb 11 Mayo 2024, 18:23

    Ray Bradbury



    Eu queria escrever uns versos para Ray Bradbury,
    o primeiro que, depois da infância, conseguiu encantar-me
    [com
    suas histórias mágicas
    como no tempo em que acreditávamos no Menino Jesus
    que vinha deixar presentes de Natal em nossos sapatos
    [empoeiradode meninos
    e nada tinha a ver com a impenetrável Santíssima Trindade.
    Era no tempo das verdadeiras princesas,
    nossas belíssimas primeiras namoradas
    — não essas que saem periodicamente nos jornais.
    Era no tempo dos reis verdadeiramente heráldicos como
    [os
    das cartas de jogar
    e do bravo São Jorge, com seu cavalo branco, sua lança e seu
    [dragão.
    Era no tempo em que o cavaleiro Dom Quixote
    realmente lutava com gigantes,
    os quais se disfarçavam em moinhos de vento.
    Todo esse encantamento de uma idade perdida
    Ray Bradbury o transportou para a Idade Estelar
    e os nossos antigos balõezinhos de cor
    agora são mundos girando no ar.
    Depois de tantos anos de cínico materialismo
    Ray Bradbury é a nossa segunda vovozinha velha
    que nos vai desfiando suas histórias à beira do abismo
    — e nos enche de susto, esperança e amor.


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    Mensaje por Maria Lua Dom 12 Mayo 2024, 19:55

    O poeta é belo

    O poeta é belo como o Taj-Mahal
    feito de renda e mármore e serenidade

    O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
    ao primeiro relâmpago da tempestade

    O poeta é belo porque os seus farrapos
    são do tecido da eternidade


    ****************

    El poeta es bello

    El poeta es bello como el Taj-Mahal
    hecho de encaje y mármol y serenidad

    El poeta es bello como el imprevisto perfil de un árbol.
    al primer relámpago de la tormenta

    El poeta es bello porque sus harapos
    son del tejido de la eternidad


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    Mensaje por Maria Lua Lun 13 Mayo 2024, 18:55

    A terra


    As fronteiras foram riscadas no mapa,
    a Terra não sabe disso:
    são para ela tão inexistentes
    como esses meridianos com que os velhos sábios a recortaram
    como se fosse um melão.
    É verdade que vem sentindo há muito uns pruridos,
    uma leve comichão que às vezes se agrava:
    ela não sabe que são os homens...
    Ela não sabe que são os homens com as suas guerras
    e outros meios de comunicação.


    ********************


    La tierra


    Las fronteras fueron borradas en el mapa,
    la Tierra no lo sabe:
    son tan inexistentes para ella
    como esos meridianos con los que la cortaban los viejos sabios
    como si fuera un melón.
    Es cierto que lleva mucho tiempo sintiendo picazón,
    un ligero picor que a veces empeora:
    Ella no sabe que son los hombres...
    Ella no sabe que son los hombres con sus guerras.
    y otros medios de comunicación.










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    Mensaje por Maria Lua Miér 15 Mayo 2024, 18:38

    O mapa

    Olho o mapa da cidade
    Com quem examinasse
    A anatomia de um corpo...

    (É nem que fosse o meu corpo)

    Sinto uma dor infinita
    Das ruas de Porto Alegre
    Onde jamais passarei...

    Há tanta esquina esquisita,
    Tanta nuança de paredes
    Há tanta moça bonita
    Nas ruas que não andei
    (E há uma rua encantada
    que nem em sonhos sonhei...)

    Quando eu for, um dia desses,
    Poeira ou folha levada
    No vento da madrugada,
    Serei um pouco do nada
    invisível, delicioso

    Que faz com que o teu ar
    Pareça mais um olhar,
    Suave mistério amoroso,
    Cidade de meu andar
    (Deste já tão longo andar!)

    E talvez de meu repouso...




    *****************

    El mapa

    Miro el mapa de la ciudad
    Como quien examinase
    La anatomía de un cuerpo...

    (Y ni que fuese mi cuerpo)

    Siento un dolor infinito
    Por las calles de Porto Alegre
    Por las que jamás pasaré...

    Hay tanta esquina esquisita,
    Tanto matiz de paredes,
    Hay tanta moza bonita
    En las calles que no andé
    (Y hay una calle encantada
    que ni en mis sueños soñé...)

    Cuando sea, un día de estos,
    Poeta u hoja levantada
    Al aire de madrugada,
    Seré un poco de la nada
    Invisible, delicioso

    Que hago con que tu arte
    Parezca más un mirar,
    Suave misterio amoroso,
    Ciudad de mi caminar
    (¡De este ya tan largo andar!)

    Y tal vez de mi reposo...


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 18 Mayo 2024, 18:09

    A eternidade está dormindo
    A Eternidade está dormindo: o seu segredo é esse, por isso nunca morre...
    Às vezes sonha as guerras, pesadelos que vivemos no tempo.
    E, como o tempo não tem tempo nem para folhear o álbum de família, tudo
    pode acontecer: Tamerlão, Alexandre, Hitler... E nós sempre vamos na onda, pois
    nunca ninguém pôde adivinhar o novo pseudônimo do Papão do Mundo. Nunca
    se sabe...
    O que vai ser, meu Deus?!
    Serão as multinacionais, os emirados árabes, os Lions Clubes, a solerte
    infiltração das múltiplas religiões asiáticas? Pois já disse o Diabo certa vez, na
    Bíblia: “O meu nome é Legião.”
    Portanto, poeta, não te filies a nada, muito menos às escolas poéticas. Evita,
    principalmente, as academias de letras, tanto as provincianas como a academiamãe: nunca se sabe...
    Faze no teu cantinho o teu poeminho. Esse absurdo de sempre existirem
    poetas apesar de tudo — deve significar alguma coisa...
    Deve ser o fio de vida que vai unindo, pedaço a pedaço, essa colcha de
    retalhos que é a história do mundo.






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    MARIO QUINTANA    ( Brasil: 30/07/1906 -05/05/1994)  - Página 32 Empty Re: MARIO QUINTANA ( Brasil: 30/07/1906 -05/05/1994)

    Mensaje por Maria Lua Lun 20 Mayo 2024, 18:25

    Poema Reminiscências de Mario Quintana retratou enchentes de 1941 em Porto Alegre


    Lançado sete anos após as inundações que assolaram Porto Alegre, em 1941, a obra apresenta um testemunho do autor, semelhante ao que está sendo vivido na atualidade.
    .
    Quintana retrata a cheia que ao longo de 83 anos foi considerada o maior desastre natural do Estado do Rio Grande do Sul, quando o Guaíba atingiu 4m76cm, sendo que a cota de inundação é de três metros.
    .
    Confira o poema:




    .
    A enchente de 1941. Entrava-se de barco pelo corredor da velha casa de cômodos onde eu morava. Tínhamos assim um rio só para nós. Um rio de portas adentro. Que dias aqueles! E de noite não era preciso sonhar: pois não andava um barco de verdade assombrando os corredores?
    Foi também a época em que era absolutamente desnecessário fazer poemas…



    – Mario Quintana, no livro “Sapato Florido”. 1948





    Na época, sem a proteção do muro da Mauá e outros sistemas de contenção, o Guaíba chegou até a Rua da Praia, atual Rua dos Andradas, no trecho junto à Praça da Alfândega, assim como em bairros às margens do rio.
    .
    O recorde de maior nível foi ultrapassado este ano (2024), quando a água chegou a marca de 5m33cm. Em razão das cheias, a Casa de Cultura Mario Quintana, onde o poeta gaúcho morou entre 1968 a 1980, foi afetada pelo avanço da água. A inundação tomou toda a parte térrea do prédio e os danos ainda estão sendo contabilizados.


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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Mayo 2024, 07:42

    Los Poemas abren ventanas



    por Gustavo Luján



    Mario Quintana es uno de los grandes poetas brasileños del siglo XX, un poeta poco traducido al castellano. Una obra de aparente simpleza. Luego de leer sus poemas es imposible quedar indiferentes. Aquí una reseña de su vida y un breve muestrario de su obra.
    Mario Quintana. Poesía para todos.

    Todo comienza en Alegrete, una ciudad brasileña de Rio Grande Do Sul, la ciudad donde nació el poeta Olegario Andrade en 1839. Pero hablaremos de otro poeta nacido en Alegrete, que también fue huérfano de padre y madre, como Andrade, a muy temprana edad.

    Mario Quintana, nació el 30 de julio de 1906, se mudó en 1919 a Porto Alegre, a los 18 años una vez que dejó los estudio del Colegio Militar de Porto Alegre comenzó a trabajar en Livraria do Globo. Perdió a su madre, Virgínia, en 1926 y, al año siguiente, su padre, Celso de Oliveira Quintana, muere.

    Trabaja como traductor asalariado en Editora Globo. Curiosamente, Quintana, que sería un celebrado poeta, debutó con el cuento “El séptimo personaje”, publicado en el Diário de Notícias, de Porto Alegre, en 1926. Solo al año siguiente tendría un poema publicado.

    El gobierno resultado de la Revolución de 1930 implementó y adoptó en Brasil las primeras formas de legislación social y de estímulo al desarrollo industrial, a partir de ello la clase obrera empezó a aumentar en número e importancia política.

    La Revolución de 1930 fue un golpe de Estado liderado por los estados de Minas Gerais y Río Grande Do Sul en Brasil, que culminó derrocando al presidente paulista Washington Luís en octubre de 1930 y poniendo fin a la denominada República Velha. La revuelta llevó a Getúlio Vargas al poder. Nuestro poeta se presentó como voluntario y marchó a Río de Janeiro, durante seis meses participó como miembro del séptimo batallón de cazadores Harbor Alegre. Estaba a cargo del diario de la tropa.

    En 1940, por la insistencia de uno de sus hermanos y de su amigo y también escritor Erico Verissimo, publicará su primer libro. Su debut como poeta fue con A Rua dos Cataventos, libro de sonetos editado por la empresa donde trabajaba, el libro no tuvo prácticamente resonancia, excepto en un círculo de escritores y amigos. Quintana utilizó el soneto, considerado refinado, para recrear sonidos de la calle y del día a día. A cualquier lector le gusta un soneto de él.

    En ese tiempo, Mario Quintana fue traductor asalariado en la editorial Globo y trabajó en las obras de, entre otros, Giovanni Papini (Palabras y sangre), Alessandro Varaldo (La gata persa), Joseph Conrad (Lord Jim), Guy de Maupassant (Historias), Virginia Woolf (Sra. Dalloway ) y Marcel Proust (La sombra de las muchachas en flor y Por el camino de Swann, ambas de la serie de siete novelas En busca del tiempo perdido).

    En 1943, comienza la publicación del Cuaderno H en la revista Provincia de São Pedro, luego pasaría al diario Correio do Povo. En 1973 publicó el libro Cuaderno H, que reunía textos publicados en la prensa. La poesía de Quintana coquetea con la crónica, lo que la hace poderosamente comunicable.

    Quintana recibió diversos premios, entre otros honores, incluido el título de Ciudadano Porto Alegre Honorario (1967), placa de bronce (en Alegrete en 1968) en el que se inscriben las palabras del autor: “Un error en bronce es un eterno engaño «

    En 1982 otro importante homenaje distingue al poeta. Es el título de Doctor Honoris Causa concedido por la Universidad Federal de Rio Grande Do Sul. Ocho años después, otras dos universidades, la Unicamp, de Campinas, y la Universidad Federal de Río de Janeiro, también le otorgan el mismo título.

    El Hotel Majestic, donde vivió el poeta entre 1968 y 1980, se convierte en 1983 en la Casa de Cultura Mario Quintana.

    Mario Quintana publicó más de una treintena de libros, en su mayoría de poesía y varios de ellos dedicados al público infantil.

    El 5 de mayo de 1994, a los 87 años, en Porto Alegre, moría uno de los más grandes poetas brasileños.

    La producción aforística de Mario Quintana, que el escritor Manuel Bandeira llegó a definir como quintanares, por considerar que no respondían totalmente a lo que debería ser ni un proverbio, ni una máxima, ni un aforismo, próximos en ocasiones de la greguería y en otras del pensamiento ilustrado francés.

    El profesor de la Pontificia Universidad Católica de Rio Grande do Sul (PUCRS) Altair Martins, sostiene en un artículo donde analiza la relación de Quintana con el canon de la poesía brasileña:

    “Siempre hay una nariz torcida exigiendo a Quintana que sea Carlos Drummond de Andrade o que había algo de João Cabral de Melo Neto. Pero Quintana es único y natural”

    Para Martins, tal vez la naturalidad y la espontaneidad de la poesía de Quintana son algunos de los factores que conquistan lectores hasta el día de hoy.

    “Es extraño: lo que Quintana ayudó a construir, esta poesía que reconecta al lector y al poema, parece ser exactamente lo que le impide muchas veces a los estudios académicos. Pero su poesía, siempre ella, es vengativa: late por entrar por varias puertas”.

    Yo agregaría, también, que por varias ventanas.

    Los poemas abren ventanas




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    Mensaje por Maria Lua Miér 22 Mayo 2024, 07:46

    Los poemas abren ventanas


    Versiones de poemas de Mario Quintana realizadas por Gustavo Luján




    EMERGENCIA


    Quem faz um poema abre uma janela.
    Respira, tu que estás numa cela abafada,
    esse ar que entra por ela.
    Por isso é que os poemas têm ritmo
    – para que possas profundamente respirar.

    Quem faz um poema salva um afogado.


    **************


    EMERGENCIA


    Quien hace un poema abre una ventana.
    Respira, tú que estás en una celda asfixiante,
    respira ese aire que entra por ella.
    Por eso es que los poemas tienen ritmo
    para que puedas respirar profundamente.

    Quien hace un poema salva a un ahogado.



    *************

    *************



    ENVELHECER


    Antes, todos os caminhos iam.
    Agora todos os caminhos vêm.
    A casa é acolhedora, os livros poucos.
    E eu mesmo preparo o chá para os fantasmas.


    **************

    ENVEJECER


    Antes, todos los caminos iban
    Ahora todos los caminos vienen
    La casa es acogedora, los libros pocos
    uno mismo prepara el té para los fantasmas.




    *************

    ***************


    O MORTO


    Eu estava dormindo e me acordaram
    E me encontrei, assim, num mundo estranho e louco...
    E quando eu começava a compreendê-lo
    Um pouco,
    Já eram horas de dormir de novo.


    ***************


    EL MUERTO


    Estaba dormido y me despertaron
    Me encontré, así, en un mundo extraño y loco
    Y cuando empezaba a comprenderlo
    Un poco,
    Ya era hora de dormir de nuevo.


    ********
    ******


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    Mensaje por Maria Lua Vie 24 Mayo 2024, 20:53

    Los poemas abren ventanas


    Versiones de poemas de Mario Quintana realizadas por Gustavo Luján




    SESTA ANTIGA


    A ruazinha lagarteando ao sol.
    O coreto de música deserto
    Aumenta ainda mais o silêncio.
    Nem um cachorro.
    Este poeminho,
    Brotado áspero e quebradiço,
    é a única coisa do mundo.



    ANTIGUA SIESTA


    La callecita arrastrándose al sol.
    El quiosco de música desierto
    Aumenta aún más el silencio.
    No es un perro.
    Este poemita
    Brotado áspero y quebradizo,
    es la única cosa en el mundo.



    *********************



    OS POEMAS


    Os poemas são pássaros que chegam
    não se sabe de onde e pousam
    no livro que lês.
    Quando fechas o livro, eles alçam vôo
    como de um alçapão.
    Eles não têm pouso
    nem porto
    alimentam-se um instante em cada par de mãos
    e partem.
    E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
    no maravilhado espanto de saberes
    que o alimento deles já estava em ti...




    LOS POEMAS


    Los poemas son pájaros que llegan
    no sabemos donde se posan
    en el libro que leíste.
    Cuando cierras el libro, toman vuelo
    como una trampilla.
    No tienen aterrizaje
    ni puerto
    se alimentan por un instante de cada par de manos
    y parten.
    Mira, entonces, tus manos vacías,
    en el asombro del conocimiento
    que su comida ya estaba en ti...



    *********************

    DOS CRIMES PASSIONAIS


    Os verdadeiros crimes passionais são os sonetos de amor.


    CRÍMENES PASIONALES


    Los verdaderos crímenes pasionales son los sonetos de amor.




    ********************


    TRISTEZA DE ESCREVER


    Cada palavra é uma borboleta morta espetada na página:
    Por isso a palavra escrita é sempre triste..



    TRISTEZA DE ESCRIBIR


    Cada palabra es una mariposa muerta clavada en la página:
    Por eso la palabra escrita es siempre triste...





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    Mensaje por Maria Lua Mar 28 Mayo 2024, 21:28

    Conto familiar




    Era um velho que estava na família há noventa e nove anos, há mais tempo que os velhos móveis, há mais tempo até que o velho relógio de pêndulo. Por isso estava ele farto dela, e não o contrário, como poderiam supor. A família o apresentava aos forasteiros, com insopitado orgulho:

    “Olhem! vocês estão vendo como ‘nós’duramos?!” Caduco? Qual nada! Tinha lá as suas ideias. Tanto que, numa dessas grandes comemorações domésticas, o pobre velho envenenou o barril de chope. No entanto, como era obviamente impraticável — a não ser em novelas policiais — deitar veneno nas bebidas engarrafadas, apenas sobreviveram os inveterados bebedores de coca-cola.

    — Mas como é possível — lamentava-se agora tardiamente o pobre velho —, como é possível passar o resto da vida com esses? Com gente assim? Porque a coca-cola não é verdadeiramente uma bebida — concluiu ele —, a coca-cola é um estado de espírito... E, assim pensando, o sábio ancião se envenenou também.





    De: A vaca e o hipogrifo


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    Mensaje por Maria Lua Jue 30 Mayo 2024, 18:32

    O límpido cristal


    Que límpido o cristal de abril!... Um grito
    não vai como os da noite — para os extramundos...
    Todas as vozes, todas as palavras ditas — cigarras presas
    dentro do globo azul — vão em redor do mundo
    e a ninguém é preciso entender o que elas dizem;
    basta aquele bordoneio profundo
    que vibra com o peito de cada um...
    palavras felizes de se encontrarem uma com a outra
    nas solidões do mundo!






    ******************************






    El límpido cristal


    ¡Qué claro el cristal de abril! ... Un grito
    no va como los de la noche - a los extramundos ...
    Todas las voces, todas las palabras dichas - cigarras atrapadas
    dentro del globo azul - dan la vuelta al mundo
    y nadie necesita entender lo que dicen;
    solo ese bordonio profundo
    que vibra con el pecho de cada uno ...
    palabras felices para encontrarse
    en las soledades del mundo!


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    Mensaje por Maria Lua Dom 02 Jun 2024, 19:32

    A poesia é necessária


    Título de uma antiga seção do velho Braga na Manchete. Pois eu vou mais
    longe ainda do que ele. Eu acho que todos deveriam fazer versos. Ainda que
    saiam maus. É preferível, para a alma humana, fazer maus versos a não fazer
    nenhum. O exercício da arte poética é sempre um esforço de autossuperação e,
    assim, o refinamento do estilo acaba trazendo a melhoria da alma.
    E, mesmo para os simples leitores de poemas, que são todos eles uns poetas
    inéditos, a poesia é a única novidade possível. Pois tudo já está nas enciclopédias,
    que só repetem estupidamente, como robôs, o que lhes foi incutido. Ou embutido.
    Ah, mas um poema, um poema é outra coisa...


    *********************





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    Mensaje por Maria Lua Lun 03 Jun 2024, 17:17

    Poema entredormido ao pé da lareira


    O anjo depenado tremia de frio
    mas veio o Conde Drácula e emprestou-lhe a sua capa negra.
    Na litografia da parede
    Helena a bela grega
    mantém sua pose olímpica... Desloca-se um tição:
    uma chama
    começa a lamber como um gato minha perna de pau.


    *****************


    Poema casi dormido junto a la chimenea.


    El ángel desplumado tremblaba de frío
    pero el Conde Drácula vino y le prestó su capa negra.
    En la litografía en la pared
    Helena la bella griega
    mantiene su pose olímpica... Un tizón se mueve:
    una llama
    comienza a lamer como un gato. mi pata de palo


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    Mensaje por Maria Lua Miér 05 Jun 2024, 08:43

    História quase mágica


    O Idiota da Aldeia gostava de coisas brilhantes.
    Mas nos respondia: éramos apenas gentes...
    Mas uma noite o surpreendi falando longamente a um trinco de porta
    redondo, luzente de luar.
    Só vos digo,
    ao que me parece,
    que o brilho do metal ora abrandava, ora fulgia mais
    como se por instantes ouvisse e depois respondesse.
    Só vos digo que, nestes ocultos assuntos, nada se pode dizer...


    ************
    Historia casi magica


    Al Idiota del Pueblo le gustaban las cosas brillantes.
    Pero él nos respondió: éramos solo personas...
    Pero una noche lo atrapé hablando largo y tendido en el pestillo de una puerta.
    redonda, iluminado por la luna.
    Yo solo os digo,
    como me parece,
    que el brillo del metal a veces se suavizaba, a veces brillaba más
    como si por un momento escuchara y luego respondiera.
    Sólo os digo que, en esteo temas ocultas, nada se puede decir...



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    Mensaje por Maria Lua Miér 05 Jun 2024, 21:55

    Os elefantes


    — Os elefantes deveriam ser assinzinhos — diz Lili. Tomo nota, não pela
    ideia, que já deve ter ocorrido utilitariamente a muitos, mas pelo “assinzinhos”.
    E, na falta de um elefante doméstico, peço a ela que me traga um copo
    d’água.
    Só os novelistas ianques e os seus personagens é que tomam uísque a cada
    página. Mas, por outro lado, não têm quem lhos traga. Eles próprios se servem.


    *******************


    Los elefantes

    “Los elefantes deberían ser así pequeñitos, dice Lili. Tomo nota, no por la
    idea, que ya se le debe haber ocurrido utilitariamente a muchos, pero por los “ así pequeñitos”.
    Y a falta de elefante doméstico, le pido que me traiga un vaso
    de agua.
    Sólo los novelistas yanquis y sus personajes beben whisky a cada.
    página. Pero, por otro lado, no tienen a nadie que los traiga. Se sirven solos.


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