Nem sabes como foi aquele dia...
Uma reunião em suma tão vulgar!
Tu caíste em estado de poesia
Quando o Sr. Prefeito ia falar...
O mal sagrado! Que remédio havia?!
E como para nunca mais voltar,
Lá te foste na tarde de elegia,
Por essas ruas a perambular.
Paraste enfim junto a um salgueiro doente,
Um salgueiro que espiava sobre o rio
A primeira estrelinha... E, longamente,
Também ficaste à espera (quanta ânsia!)...
Mas a estrelinha, como um sonho, abriu,
Longe, no céu azul da tua infância!
XXXIII (a Reynaldo Moura)
Que bom ficar assim, horas inteiras,
Fumando... e olhando as lentas espirais...
Enquanto, fora, cantam os beirais
A baladilha ingênua das goteiras
E vai a Névoa, a bruxa silenciosa,
Transformando a Cidade, mais e mais,
Nessa Londres longínqua, misteriosa
Das poéticas novelas policiais...
Que bom, depois, sair por essas ruas,
Onde os lampiões, com sua luz febrenta,
São sóis enfermos a fingir de luas...
Sair assim (tudo esquecer talvez!)
E ir andando, pela névoa lenta,
Com a displicência de um fantasma inglês...
XXXIV
Lá onde a luz do último lampião
Uns tristes charcos alumia embalde,
Moram, numa infinita solidão,
As estrelinhas quietas do arrabalde...
Na cidade, quem é que atenta nelas,
Na sua história anônima, escondida?
São menininhas pobres às janelas,
Olhando inutilmente para a vida...
Quando ao Centro descemos à noitinha,
Penso às vezes o quanto essas meninas
No seu desejo triste hão de sofrer
Ao ver os bondes que, do fim da linha,
Partem, iluminados como vitrinas,
Para a doida Cidade do Prazer!...
XXXV
Quando eu morrer e no frescor de lua
Da casa nova me quedar a sós,
Deixai-me em paz na minha quieta rua...
Nada mais quero com nenhum de vós!
Quero é ficar com alguns poemas tortos
Que andei tentando endireitar em vão...
Que lindo a Eternidade, amigos mortos,
Para as torturas lentas da Expressão!...
Eu levarei comigo as madrugadas,
Pôr-de-sóis, algum luar, asas em bando,
Mais o rir das primeiras namoradas...
E um dia a morte há de fitar com espanto
Os fios de vida que eu urdi, cantando,
Na orla negra do seu negro manto...
[Tienes que estar registrado y conectado para ver este vínculo]
Hoy a las 10:39 por Maria Lua
» DELMIRA AGUSTINI (1886-1914)
Hoy a las 10:31 por Maria Lua
» ALFONSINA STORNI (1892-1938)
Hoy a las 09:17 por Maria Lua
» SALOMÉ UREÑA DE HENRÍQUEZ (1850-1897)
Hoy a las 09:06 por Maria Lua
» POESÍA SOCIAL XIX
Hoy a las 07:20 por Pascual Lopez Sanchez
» ANTOLOGÍA DE GRANDES POETAS HISPANOAMÉRICANAS
Hoy a las 06:52 por Pascual Lopez Sanchez
» XI. SONETOS POETAS ESPAÑOLES SIGLO XX (VI)
Hoy a las 06:48 por Pascual Lopez Sanchez
» Juan Antonio González Iglesias (1964-
Hoy a las 04:10 por Pedro Casas Serra
» 2014-05-24 ENCARGO
Hoy a las 03:25 por Pedro Casas Serra
» NO A LA GUERRA 3
Hoy a las 03:09 por Pedro Casas Serra