Aires de Libertad

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    Mensaje por Maria Lua Miér 05 Abr 2023, 14:50

    Poema Relativo



    Vem, ó
    bem-amada
    Junto à minha casa
    Tem um regato (até quieto o regato).

    Não tem pássaros que pena!

    Mas os coqueiros fazem,
    Quando o vento passa,
    Um barulho que às vezes parece
    Bate-bate de asas.

    Supõe, ó bem-amada,
    Se o vento não sopra,
    Podem vir borboletas
    À procura das minhas jarras
    Onde há flores debruçadas,
    Tão debruçadas que parecem escutar.

    Todos os homens têm seus crentes,
    Ó bem-amada:
    - os que pregam o amor ao próximo
    e os que pregam a morte dele.

    Mas tudo é pequeno
    E ligeiro no mundo, ó amada.
    Só o clamor dos desgraçados
    É cada vez mais imenso!

    Vem, ó bem-amada.
    Junto à minha casa
    Tem um regato até manso.
    E os teus passos podem ir devagar
    Pelos caminhos:
    - aqui não há a inquietação
    de se atravessar o asfaalto

    Vem, ó bem-amada,
    Porque como te disse
    Se não há pásssaros no meu parque,
    Pode ser, se o vento
    Não soprar forte
    Que venham borboletas.
    Tudo é relativo
    E incerto no mundo.
    Também tuas sobrancelhas
    Parecem asas abertas.


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    Mensaje por Maria Lua Miér 05 Abr 2023, 14:52

    Democracia



    Punhos
    de redes embalaram o meu canto
    Para adoçar o meu país, ó Whitman.
    Jenipapo coloriu o meu corpo contra os maus-olhados,
    Catecismo me ensinou a abraçar os hóspedes,
    Carumã me alimentou quando eu era criança,
    Mãe-negra me contou histórias de bicho,
    Moleque me ensinou safadezas,
    Massoca, tapioca,pipoca, tudo comi,
    Bebi cachaça com caju para limpar-me,
    Tive maleita, catapora e ínguas,
    Bicho-de-pé, saudade, poesia;
    Fiquei aluado, mal-assombrado, tocando maracá,
    Dizendo coisas, brincando com as crioulas,
    Vendo espiritos, abusões, mães-d água,
    Conversando com os malucos, conversando sozinho,
    Emprenhando tudo o que encontrava,
    Abraçando as cobras pelos matos,
    Me misturando, me sumindo, me acabando,
    Apara salvar a minha alma benzida
    E o meu corpo pintado de urucu,
    Tatuado de cruzes, de corações, de mãos ligadas,
    De nomes de amor em todas as línguas de branco
    De mouro ou pagão.





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    Mensaje por Maria Lua Vie 07 Abr 2023, 14:11

    CANTO III

    POEMAS RELATIVOS

    I

    Caída a noite
    o mar se esvai,
    aquele monte
    desaba e cai
    silentemente.

    Bronzes diluídos
    já não são vozes,
    seres na estrada
    nem são fantasmas,
    aves nos ramos
    inexistentes;
    tranças noturnas
    mais que impalpáveis,
    gatos nem gatos,
    nem os pés no ar,
    nem os silêncios.

    O sono está.
    E um homem dorme.

    II

    Queres ler o que
    tão só se entrelê
    e o resto em ti está?
    Flor no ar sem umbela
    nem tua lapela;
    flor que sem nós há.

    Subitamente olhas:
    nem lês nem desfolhas;
    folha, flor, tiveste-as.

    E nem as tocaste:
    folha e flor. Tu - haste,
    elas reais, mas réstias.

    III

    qualquer voz alou-se
    muito desejada.
    Branco fosse o espaço
    e ela ardente cor.

    Quis o espaço a voz
    a voz veio e ampliou-o.

    Mas se não houvesse
    propriamente voz...

    Vamos nós supô-los:
    dois sem seus sentidos.

    Desejemos mesmo
    dois incompreensíveis.

    Bom nos ecoarmos
    na voz recebida.

    E o espaço esvaziado
    povoá-lo de vez.

    Amá-los tão sem
    amada presença,
    só com o coração
    sem correspondência,
    só com a vocação
    do verso feliz.

    IV

    Numas noites chegamos à janela,
    e as mandíbulas do ar tanto nos roem,
    que os leitos rotos logo deliqüescem
    com os nossos corpos complacentemente.

    Certos dias olhamos o sol claro;
    e a boca hiante das cores nos devora
    carnes e sangues, poeiras de costelas,
    que ficamos inúteis, sem matéria.

    Essas bocas nos sugam noite e dia,
    vigiando dia e noite nossas vidas
    um minuto no espaço, menos que ai
    de chumbo soluçado nos silêncios,
    ou cal de fome longa, revelada,
    na noite igual ao dia, de tão gêmeos.

    V

    Agora o sem senso
    sorriso nos ares,
    minha alma perdida,
    os vales lá embaixo
    de minhas lonjuras
    de não existido,
    parado nos antes,
    nem sei de pecados,
    nem sei de mim mesmo,
    eu mesmo não sou
    nem nada me vê;
    ausentes palavras
    não soam no vácuo
    dos antes das coisas,
    das coisas sem nexo,
    nem fluidos. Só o Verbo
    chorando por mim.

    VI

    Agora, escutai-me
    que eu falo de mim;
    ouvi que sou eu,
    sou eu, eu em mim;
    tocai esses cravos
    já feitos pra mim,
    suores de sangue,
    pressuados sem poros
    verônica herdada.
    sem face do ser.

    Embora; escutai-me,
    que eu falo com a voz
    inata que diz
    que a voz não é essa
    que fala por mim,
    talvez minha fala
    saída de ti.

    VII

    Alegria achareis neste poema
    como poema ilícito, como um
    corpo casual ou vão, como a memória
    dura e acídula, como um homem se
    conhece respirando, ou como quando
    se entristece sem causa ou se doente,
    ou se lavando sempre ou comparando-se
    às dimensões das coisas relativas;
    ou como sente os ombros de seu ser,
    transmitidos e opacos, e os avós
    responsabilizando-se presentes.

    São alegrias rápidas. Lugares,
    reencontrados países, becos, passos
    sob as chuvas que não vos molharão.

    VIII

    Se falta alguém nesses versos
    pele vento interminável,
    pelas arenas de estátuas,
    sucedam-lhe os cegos olhos
    sacudidos pelos medos,
    mãos de chuvas lhe inteiricem
    o corpo com algas remissas
    e com matérias tranqüilas
    tão soturna como os poços,
    exasperados invernos,
    ombros de escova comida,
    as asas secas caídas,
    ante seus netos calados;
    e incorporem-se a esse alvitre
    esse sabor de cortiça,
    essas esponjas morridas,
    essas marés estanhadas,
    essas escunas de espáduas
    estritamente fechadas
    como casas de abandono,
    restringem-se os conciliábulos,
    certos sigilos de pez,
    certas coisas enlutadas,
    refúgios, dramas ocultos,
    pois as rosas são de trapos
    e os fios menos que teias,
    menos que finos agora,
    e as camisas sem os pêlos
    enterrados nas ilhargas,
    vestem enganos e punhos
    e crimes em vez de adegas,
    mas tudo em vão, mesmo as plumas,
    mesmo os ausentes e as vozes
    aderidas a fragmentos
    aí moram degredadas,
    listrando as grades, de faces
    que não conhecem espelhos

    IX

    Numa hora perdida cantos doeram. Os desejos
    E flores despenteadas, flores largas e a barbárie
    e inconfidentes quase abominadas dos corpos.
    por oculta paixão, se intumesceram. E a relatividade
    do espírito
    Lírios eram pilares de cristal sob o cerco
    subindo para as aves; então dardos da matéria.
    desceram sobre os mais amados colos
    cantando amor com seus sentimentos.

    Canção melhor. Mais consentimentos puros olhos. Eu
    sei de cor os rebanhos, e olho o mundo.
    Tudo contém pequenas doces máscaras.
    Mas da selva selvagem desce o pranto
    dos que mastigam suas próprias fomes,
    sem saliva de pão, e o gosto ausente.

    Ninguém consegue assim amar os lírios.
    E esse amor é amaríssimo e adstringente
    com a memória das dores engolidas.

    X

    Vós não viveis sozinhos
    os outros vos invadem
    felizes convivências
    agregações incômodas
    enfim ambientalismos,
    e tudo subsistências
    e mais comunidades;
    e tantas ventanias
    acotovelamentos,
    desgastes de antemão,
    acréscimos depois,
    depois substituições,
    a massa vos tragando,
    as coisas vos bisando;
    os hábitos, os vícios,
    as moças embutidas
    mudando vossas cartas;
    sereis administrados
    no sono e nos pecados,
    vós mapas e diagramas
    com várias delinqüências,
    e insanidades várias,
    dosando o vosso espaço,
    pesando o vosso pão
    de tempos racionados;
    e não tereis vivido
    e não tereis amado,
    porém sereis morrido.

    XI

    Éreis vós Tiago, Diogo, Jaques, Jaime?
    Clodoveu ou Clodovigo?
    Éreis vós por acaso eles?
    Éreis vós aqueles nomes,
    estes, e os demais já mortos,
    os mortos tão renovados
    nós mesmos sempre chamados
    Lútero, Lotário, otário,
    sim otário tão singelo,
    tão puro de todo o mal,
    relativo, universal.

    Éreis vós Tiago, Diogo, Jaques, Jaime?
    Dizei-me se acaso vós
    éreis eles ou voz sou
    de algum avo tão otário,
    tão eu mesmo como voz,
    como poema de outros vários.

    XII

    O simples ar
    de uma só corda
    em curta raia,
    mão de menino,
    punhado escasso,
    ar perfumado,
    sem o alvoroço
    dos vendavais;
    anjo acolhido
    em róseo céu
    abrigo instante,
    pranto lavado,
    chorar em ti
    de arrependido,
    subir teus vales,
    amar teu pólen,
    nunca escapar-me
    de tuas pétalas
    cair com elas.

    XIII

    Uma janela aberta
    e um simples rosto hirto,
    e que provavelmente
    nela se debruçou;
    e nesse gesto puro
    do rosto na janela
    estava todo o poema
    que ninguém escutou;
    só a janela aberta
    e o espaço dentro dela
    que o tempo atravessou.

    XIV

    O contro era um dia,
    um dia futuro,
    e dentro do dia
    incluído o conforme,
    e dentro o que foi
    porque fora isso
    se tal não se dera,
    se o mundo parasse
    e o espaço se excluí



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    Mensaje por Maria Lua Dom 09 Abr 2023, 12:06

    Essa Infanta


    Essa infanta boreal era a defunta
    em noturna pavana sempre ungida,
    colorida de galos silenciosos,
    extrema-ungida de óleos renovados.

    Hoje é rosa distante prenunciada,
    cujos cabelos de Altair são dela;
    dela é a visão dos homens subterrâneos,
    consolo como chuva desejada.

    Tendo-a a insônia dos tempos despertado,
    ontem houve enforcados, hoje guerras,
    amanhã surgirão campos mais mortos.

    Ó antípodas, ó pólos, somos trégua,
    reconciliemo-nos na noite dessa
    eterna infanta para sempre amada.





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    Mensaje por Maria Lua Dom 16 Abr 2023, 16:58

    Essa Pavana


    Essa pavana é para uma defunta
    infanta, bem-amada, ungida e santa,
    e que foi encerrada num profundo
    sepulcro recoberto pelos ramos

    de salgueiros silvestres para nunca
    ser retirada desse leito estranho
    em que repousa ouvindo essa pavana
    recomeçada sempre sem descanso,

    sem consolo, através dos desenganos,
    dos reveses e obstáculos da vida,
    das ventanias que se insurgem contra

    a chama inapagada, a eterna chama
    que anima esta defunta infanta ungida
    e bem-amada e para sempre santa.




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    Mensaje por Maria Lua Mar 18 Abr 2023, 19:13

    Madorna de Iaiá



    Iaiá está
    na rede de tucum.
    A mucama de Iaiá tange os piuns,
    Balança a rede,
    Canta um lundum
    Tão bambo, tão molengo, tão dengoso,
    Que Iaiá tem vontade de dormir

    Com quem?

    Rem-rem.

    Que preguiça, que calor!
    Iaiá tira a camisa,
    Toma aluá
    Prende o cocó,
    Limpa o suor
    Pula pra rede.

    Mas que cheiro gostoso tem Iaiá!
    Que vontade doida de dormir,,,

    Com quem?

    Cheiro de mel da casa das caldeiras!
    O saguim de Iaiá dorme num coco.

    Iaiá ferra no sono
    Pende a cabeça,
    Abre-se a rede
    Como uma ingá.

    Para a mucama de cantar,
    Tange os piuns,
    Cala o ram-rem,
    Abre a janela,
    Olha o curral:
    - um bruto sossego no curral!

    Muito longe uma peitica faz si-dó....
    Si-dó.....si-dó......si-dó....

    Antes que Iaiá corte a madorna
    A moleca de Iaiá
    Balança a rede,
    Tange os piuns,
    Canta um lundum
    Tão bambo,
    Tão molengo,
    Tão dengoso,
    Que Iaiá sem se acordar,
    Se coça,
    Se estira
    E se abre toda, na rede de tucum.

    Sonha com quem?


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 07:55

    Jorge Mateus de Lima (União dos Palmares, Alagoas, 23 de abril de 1893 - Río de Janeiro, 15 de noviembre de 1953) fue un escritor, traductor, pintor, político y médico brasileño. Es el autor del poema Invenção de Orfeu (Invención de Orfeo), obra fundamental de la lírica brasileña. Completó sus estudios en Río de Janeiro en 1914, pero decidió que no quería ser médico sino poeta. Ese mismo año, publicó su primer libro de poemas, XIV Alexandrinos. Compuso los primeros poemas con la métrica Alejandrina, pero más tarde se convirtió en un modernista. Regresó a Maceió en 1915 y se dedicó a la literatura, la medicina y la política. Fue miembro de la Asamblea Legislativa de Alagoas de 1918 a 1922. La revolución de 1930 lo inspiró a mudarse a Río de Janeiro, donde abrió una oficina cerca de Cinelândia. Más tarde, la oficina también sirvió como un estudio de arte y lugar de reunión para intelectuales. Durante estas reuniones conoció a Murilo Mendes, Graciliano Ramos y José Lins do Rego. Durante este tiempo, publicó diez libros, incluyendo cinco colecciones de poemas. En 1935 se convirtió al catolicismo y muchos de sus poemas posteriores reflejan su religiosidad. En 1939 decidió dedicar más tiempo a las artes visuales, participando en algunas exposiciones. Entre 1937 y 1945, su solicitud a la Academia Brasileña de letras fue rechazada seis veces. En 1952 publicó su libro más importante, invención de Orfeo. En 1953, unos meses antes de su muerte, grabó poemas para los archivos de la palabra hablada en la biblioteca del Congreso.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 07:56

    De las bodegas viene un olor de marejada

    mezclado al olor de ratas y de charqui.

    Verde náusea ese barco que presagia

    males a quien embarque o desembarque.



    Silencioso sin nadie que lo marque

    recorre embarcaderos errabundo,

    así avisa al comercio que acapare

    la carga apenas el día se oscurezca.



    Parece muerto entre los muelles sucios

    que le pueblan el casco de gusanos

    y lo manchan con musgo del desagüe.



    Y nadie sabe si vinieron esas velas

    —marineros que infestan los océanos—

    a traer los esclavos o llevarlos.





    *********************


    Dos porões vem um cheiro à maresia

    mesclado a odor de ratos e de charque.

    Verde náusea essa nau que pressagia

    males a quem embarque ou desembarque.



    Silenciosa sem que ninguém a marque

    percorre ancoraduros erradia;

    e é avisado o comercio que açambarque

    a carga apenas escureça o dia.



    Ela parece morta nos cais sujos

    que lhe povoam o casco de gusanos

    e a emporcalham com o limo de seus ralos.



    E ninguém sabe se essas velas, cujos

    marinheiros corvejam os oceanos,

    vieram trazer escravos ou levá-los.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 07:58

    Estão aqui as pobres coisas: cestas

    esfiapadas, botas carcomidas, bilhas

    arrebentadas, abas corroídas,

    com seus olhos virados para os que



    as deixaram sozinhas, desprezadas,

    esquecidas com outras coisas, sejam:

    búzios, conchas, madeiras de naufrágio,

    penas de ave e penas de caneta,



    e as outras pobres coisas, pobres sons,

    coitos findos, engulhos, dramas tristes,

    repetidos, monótonos, exaustos,



    visitados tão só pelo abandono,

    tão só pela fadiga em que essas ditas

    coisas goradas e órfãs se desgastam.



    *****************


    Aquí están las pobres cosas: cestas

    destejidas, botas carcomidas, botijas

    reventadas, alas corroídas,

    con sus ojos vueltos a los que



    solas las dejaron, despreciadas,

    olvidadas entre las otras cosas, es decir:

    conchas, caracolas, maderas de naufragio,

    plumas de aves y plumas de escribir,



    y las otras pobres cosas, pobres ruidos,

    coitos terminados, ansias, dramas tristes

    repetidos, monótonos, exhaustos,



    tan sólo visitados por el abandono,

    tan sólo por la fatiga en que las dichas

    cosas abortadas y huérfanas se gastan.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 07:59

    Agora os girassóis entardecidos,

    e esse lírio e essa rosa tão exangue

    e essa mancha de símbolos sombrios

    quase como um desmaio ou leve sangue.



    Sobre os bosques caiu a tarde cinza

    e a estrela temporária se augurou,

    pendem das hastes cálices noviços,

    e a cansada corola se esboroou.



    E os cílios baixam gotejando chuvas

    sobre os vidros das horas enterradas

    com os momentos dos crimes e virtudes.



    Algum arroio corre com essas lágrimas,

    mas tão ligeiro pela escarpa aguda

    que os olhos de quem vê nunca veem nada.




    ******************


    Ahora los girasoles atardecidos,

    y ese lirio y esa rosa tan exangüe

    y esa mancha de símbolos sombríos

    casi como un desmayo o leve sangre.



    Sobre los bosques cayó la tarde en luto

    y la estrella temporaria se auguró:

    de los mástiles penden los cálices novicios,

    y la cansada corola se partió.



    Gotean las pestañas esas lluvias

    sobre los vidrios de las horas enterradas

    con los días de crímenes y gloria.



    Algún arroyo corre con las lágrimas,

    mas tan ligero por la vertiente aguda

    que el ojo del que ve nunca ve nada.


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    Mensaje por Maria Lua Vie 29 Dic 2023, 08:00

    Aqui é o fim do mundo, aqui é o fim do mundo

    em que até aves vêm cantar para encerrá-lo.

    Em cada poço, dorme um cadáver, no fundo,

    e nos vastos areais — ossadas de cavalo.



    Entre as aves do céu: igual carnificina:

    se dormires cansado, à face do deserto,

    quando acordares hás de te assustar. Por certo,

    corvos te espreitarão sobre cada colina.



    E, se entoas teu canto a essas aves (teu canto

    que é debaixo dos céus, a mais triste canção),

    vem das aves a voz repetindo teu pranto.



    E, entre teu angustiado e surpreendido espanto,

    tangê-las-ás de ti, de ti mesmo, em que estão

    esses corvos fatais. E esses corvos não vão.





    ************


    Aquí es el fin del mundo, aquí es el fin del mundo

    adonde hasta las aves cantan para cerrarlo.

    Duerme un cadáver en cada pozo hundido

    en vastos arenales —osarios de caballo.



    Entre las aves del cielo: igual carnicería:

    si tú duermes cansado en el desierto

    cuando despiertes te asustarás.Por cierto,

    te acechan ya los cuervos en todas las colinas.



    Y si entonas tu canto a esas aves (tu canto

    que es bajo los cielos la más triste canción),

    tu voz regresará desde las aves repitiendo tu llanto.



    Y entre tu angustiado y sorprendido espanto,

    tañerás de ti mismo, donde están

    esos fatales cuervos. Y esos cuervos no se irán.







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    Mensaje por Maria Lua Jue 04 Jul 2024, 16:19

    De Poemas Negros de Jorge de Lima




    MARINHEIRO DE SAGRES

    Vai marinheiro audaz, vence a grandeza
    dos mares e peleja com lealdade !
    E conta ao bugre, com tua alma acesa,
    as fa<;anhas da tua mocidade !

    E avan<;o! E gloso minha heroicidade 1
    E a glosar a dos meus, tenho a surpresa
    que a palavra é de música! O' saudade!
    O' do<;ura da língua portuguesa!

    E com o peito a vibrar, a mente em Sagre~
    marinheiro de Henrique, reproduzo
    minhas bravezas como bom vassalo.

    E ao bugre conto sensacionais milagres :
    as fa<;anhas do Infante, o arrojo luso ...
    Mas a saudade me sufoca... e calo !





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    Mensaje por Maria Lua Jue 04 Jul 2024, 16:21

    A MORTE DO ARTISTA

    E' morto o Artista, o torturado Artista .. .
    Ei-lo sem vida, como um cristo louro .. .
    Dizem que foi sua maior conquista
    Polir o verso do seu estro de ouro !

    Paira por tudo a viuvez e o agouro ...
    Não há talvez quem neste mundo exista
    Que ao vê-lo morto para sempre, em choro
    Não sinta logo anuviar-se a vista ...

    Mas o martírio que se renovava !
    Quando quiseram transportá-lo, fora
    Cobriu-se tudo de um celeste brilho :

    Nossa Senhora soluçando estava ...
    Tanto chorara por Jesus outrora,
    Quanto chorava pelo novo filho !



    1908


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    Mensaje por Maria Lua Jue 04 Jul 2024, 16:24


    MANGUE

    Como se nasce plátano ou carva1ho
    Eu nasci mangue no meu pátrio solo.
    Enquanto a1teio em meu 10uvor um galho
    Trinta raízes de a1icerce atolo

    Outros são glórias, eu apenas valho
    Esse rochedo, humílimo que rolo :
    Viver comigo, para o meu traba1ho,
    Fincar-me as ribas deste meu Pactolo ..•

    Deixar que os outros sejam 1eito e altar,
    Ostentem galas pomo grato as gentes,
    Ornem a fronte dos que vão casar;

    Para meu gozo, quero ser raiz,
    Ser galho tosco, distribuir sementes,
    Conquistar solo para o meu país.




    1916






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    Mensaje por Maria Lua Vie 05 Jul 2024, 20:01

    A LAGRIMA


    Ao desgraçado, ao réu, ao pecador, que importa!
    És um alívio presto, um conforto, um alento !
    Quantas vezes oh! céus, a lágrima conforta
    O que diz a Saudade e o que fala o Tormento!

    Do desejo que nasce, a Paixao que está morta,
    A lágrima completa o universal concento ...
    Atentai no meu estro: ela convence e exorta
    Qual se fora um gemido, um soluço, um lamento !

    Quando a voz titubeia, agonizante, louca,
    E a paixão quer falar e se constrange e cala,
    E' a lágrima que diz o que não diz a boca ...

    A lágrima, meu Deus! que não tem voz nem fala,
    E' t~~ao boa! parece um confidente mudo
    Que, assim mesmo, sem voz e sem falar, diz tudo !
    11 - Abril - 1915




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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:10

    PERFIL Y DRAMA DE JORGE DE LIMA




    Con Jorge de Lima, desapareció nna de las figuras más
    ilustres de la poesía americana contemporánea.
    Desde muy joven se había dedicado con pasión benedictina al cultivo del verso y en el curso de los cuarenta años
    posteriores, consagrados a las letras, fue estudiando en todos los detalles la intimidad espiritual y solidaria de la palabra escrita hasta arrancarle nuevas modulaciones. Con José Martí, Manuel González Prada y Kubén Darío, la poesía
    americana perdió al más grande de sus animadores, que en
    este momento logró sacudirle el polvo del siglo anterior, para hacerla sentimentalmente evocativa e imprimirle, dentro
    de los conceptos modernos, la libertad lírica, ennobleciéndola
    en forma y significado dentro del tiempo y la eternidad.
    Había nacido en Uniao, Estado de Alagoas, Brasil, el
    23 de abril de 1895, perteneciendo a una de las más distinguidas y antiguas familias y desde los cinco años hasta cerca de los sesenta, ha vivido sometido a una disciplina intelectual que lo colocó entre su generación como el vigía literario indiscutible, por la audacia de sus conceptos, tanto en
    la poesía como en sus cuentos y novelas. Cultor de las bellas
    artes, ha ejercido esporádicamente la docencia y el periodismo, alternando con la medicina, que era su profesión, multiplicándose en una actividad tan intensa que le agotó en
    edad temprana. Espíritu "ático, inteligencia extraordinaria,
    capacidad envidiable, su cultura tan bien formada alcanza
    a veces muy elevadas alturas'', dice uno de sus comentaris149
    tas. Pero es en el estilo y en su interpretación del mundo humano, que concibió a través de la poesía y de la prosa, donde, siguiendo las orientaciones del arte moderno, se impregnó de mística dulzura. Y en grandeza fue devolviendo a la
    humanidad trozos de sí mismo en composiciones poéticas
    donde cada estrofa, cada verso es una iluminación.



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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:11

    ***

    Jorge de Lima se ha convertido, dentro de las letras
    brasileñas, en un genuino innovador y tanto en la cátedra
    como en las letras y las artes, fue uno de los valores más sólidos de la cultura de aquel país, que arrancó a la entraña
    popular los secretos escondidos, como forjador de bellos versos que abarcan algunos volúmenes. Su personalidad de bardo "se impone a los continentes americano y europeo, dentro del ámbito modernista, pero sin extravagancias ni exageraciones. Porque la poesía de Jorge de Lima, como producto
    de un movimiento de eterna renovación, es sutil e imperecedera por su arrobamiento y candencia en metros y rimas.
    Hasta en sus poliritmos o libres de rima encontramos la simplicidad del paisaje y de la naturaleza manifestados en la
    simplicidad de su universal grandeza. Para Jorge de Lima
    la poesía ha de ser representación de humanidad viva y ha
    de expresarse en lenguaje de tal sencillez que cautive por lo
    que anima, por lo que enternece. De ahí que sus cuadros descriptivos del paisaje y costumbres brasileños tengan tanto
    de leyenda popular, exaltada con tanta ternura. Porque costumbres, montes, ríos, floresta, y todo lo selvático que este
    poeta singular del mundo literario de hoy cantó en todos los
    tonos, resume lo agreste con lo simple para encontrar la belleza, desde el mar hasta la vida semiprimitiva del negro y
    del mestizo, tanto en los ingenios y usinas donde se industrializa la caña del azúcar, de las haciendas, de donde se cultiva el café que recorre el mundo, hasta el zumbido de los
    aviones. Porque todo lo concibió en elevado sentimiento, y
    con conocimiento profundo de artista.



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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:12

    ***

    SU CULTO A LA BELLEZA


    Dentro de este ámbito, la poesía de tal bardo brasileño
    se desenvuelve en una constante renovación en procura de
    la belleza increada que le consumió. Fina inteligencia, de
    sensibilidad delicada, ha vivido plenamente el drama del
    mundo moderno que ya 110 encuentra espacio para sus ambiciones materiales. Presa de esa pavura, contra su voluntad,
    se zambulló espiritualmente en el folklore para arrancarle
    los atractivos que presenta su obra. Después de haberse independizado de las diversas escuelas literarias, imprimió a
    su poesía una musicalidad de himno de alabanza, con cierto
    misticismo, que la enaltece. Porque, luego del "Encendedor
    de faroles", soneto con llave de oro que inicia la revolución
    poética en su país, sus composiciones marcan un pronunciado acento evocativo y adquieren esa musicalidad casi litúrgica que surge del fondo del tiempo para venir a nosotros
    como redentora plegaria en las alas del viento.
    Sus descripciones, tanto en prosa como en verso, se caracterizan por su concreción. Trata de reducir vida, movimientos y gestos a metáforas, observando todo con ojo de
    artista para cantarlo luego como poeta de raíz tan honda en
    la entraña del pueblo como no pudo Manuel Bandeira. Un
    recorrido a su obra, nos presenta esa singularidad de síntesis y de espontaneidad lírica, de tensión emotiva consubstancial de los motivos artísticos revolucionarios. En esa concreción su arte palpita y se convierte en portavoz de la eternidad. Enamorado del ambiente popular, su verso fue sorpresa y asombro por el mundo íntimo descubierto, por la ingenuidad creadora con que lo viste, por la indisciplina con
    que lo presenta y por su hondo contenido humano.




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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:13

    ***

    La poesía de Jorge de Lima trasunta un triunfo evolutivo y de propia decisión dentro del panorama literario brasileño. Por su arte de la rima, su ajustada candencia y los
    ritmos profundos le convierten en un inspirado, no sólo lí151
    rico, sino épico, tratando siempre de llegar a una perfección
    que exprima todo el sentimiento del hombre, para lo cual
    se rebeló contra la sintaxis y la gramática. Poeta ya en plena
    adolescencia, presenta una permanente y angustiosa decepción terrena y de ahí que la grandeza de su canto aparezca como resignada y dolorida. Los primeros sonetos, que datan de su juventud, tienen ese marcado acento angustioso
    del que no pudo liberarse totalmente, aún en los poemas posteriores. Fénix de los poetas de su generación, resucitó de las
    cenizas literarias de su país variadísimas experiencias. Huyendo de la teorización, de los problemas implícitos en cada
    artista y explícitos en sus obras, afirma Manuel Anselmo que
    la personalidad de este poeta alcanzó refluencias de'todos los
    cambiantes de la poética universal.



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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:14

    ***

    EL NOMBRE DE LA MUSA



    No te llamo Eva.
    No te doy nombre de mujer nacida,
    ni de liada, ni de diosa, ni de musa,
    sibila, ni do tierras, de astros ni de flores.
    Mas te llamo la que bajó de la luna
    para causar las mareas
    e influir en las cosas oscilantes.
    Cuando veo campos de margaritas agitando,
    sé que no es el viento:
    eres tú que pasas con los cabellos sueltos.
    Amo contemplarte en los enjambres
    de medusas que van a los mares boreales,
    o en el bando de gaviotas
    y de pájaros de los polos, volando.
    No te llamo Eva.
    No te doy nombre de mujer nacida.
    Tu nombre debe estar en los labios
    de los niños que nacieron mudos,
    en las arenas movedizas y silenciosas
    que han sido fondo de mar;
    en el aire lavado
    que sucede a las grandes borrascas,
    en la palabra de los anacoretas
    que te vieron soñando y han muerto al despertar,
    en el zigzag que los rayos describen
    y que nunca nadie leyó.
    En todos esos movimientos hay apenas
    sílabas de tu nombre secular
    que escucharon cosas primitivas
    y no trasmitieron a las generaciones.
    Esperemos, amigos, que las micscs
    gratuitas crezcan nuevamente
    y los animales de la creación
    se reconcilien bajo el mismo arco iris.
    Entonces oiréis el nombre
    de la que yo no llamo Eva,
    y ni le doy nombre de mujer nacida.



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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:15

    ***

    Descriptivo en sus primeros poemas, fue entrando luego
    en el corazón, superándose por necesidad de su propio estro.
    "Sus motivos exigían una emoción poética, más amplia y libre, que no podía encasillarse en fórmulas clásicas o románticas" propiamente dichas. Tomando en tonos vivos y minuciosos la realidad hechicera del nordeste de su país, creó una
    imagen lírica. Por ejemplo, un tren de la Great Western of
    Brazil Railway que atraviesa aquella región, "hace desfilar
    ante nosotros, a través de la imaginación de Jorge de Lima,
    una magnífica realización literaria, con sus diferentes paisajes, las diversas figuras características, la propia saudade".
    Así, expresa también que debe "hacer un poema en loor de
    esa calle, con todos los bemoles de mi alma lírica, porque ella,
    en mi inocencia de niño, fue mi primera maestra de paisaje.
    Ahí el paisaje de la línea: una casita blanca, una morena en
    la ventana, un pedazo de selva, las colinas, el río, y las mañanas y los crepúsculos... y mi trencito romántico, moviéndose despacito para que el poeta provinciano viese caer la tarde y viese el paisaje pasando".
    El poeta no se olvida de consignar que el conductor de
    esc trencito tiene "bigotes parnasianos y ojos caídos" y que
    "cultiva la metáfora intuitiva y los adjetivos rubicundos, lo
    que demuestra su caricaturesca y espontánea ironía .Pero en
    el mismo convoy viaja la fauna humana que le merece la más
    conmovida solidaridad, en los inválidos que mendigan, los
    hombres sin nariz, de las mujeres astrosas y de los niños sin
    padre, vestidos de heridas en tanto otros exponen sus vientres hinchados y rostros de boxeadores vencidos en el último round". El comentarista Manuel Anselmo agrega que la
    verdad y humanidad de estas descripciones demuestran que
    el nordeste del poeta no tiene literatura, siendo que es minuciosamente real, violentamente arrancado dolorosa y pintorescamente de su totalidad humana y vegetal.







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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:16

    ***

    POETA DEL ALMA BRASILEÑA



    En su parte lírica, siempre liay un sentimiento de ternura en sus poemas, aun, por ejemplo en el que describe la
    "apeiba cimbalanea", propia de aquella región, cuando dice
    que su "nombre, coterránea, es Embiía Blanca, palo de jangada, simplemente, con el que el hombre de las playas vence las olas y abate al tiburón, al mero y a la raya". Y tiene
    también "copaúba, dendé, coco pindoba, palo de arco color
    del oro, camará color del lunar, sapucaia color de rosa, cañafístula color de heridas; ya 110 hay palo brasil, pero hay
    plantas que dan pan, sal, aceite, agua, género, remedios,
    154
    miel, trancas, y íiay la caña que da todo, porque da al hombre triste de estas tierras la alegría, color de brasa de la embriaguez y el olvido color de ceniza".
    Donde se presenta, sin embargo, con todo su deslumbramiento lírico es en el descubrimiento del alma brasileña.
    La Modorra de Yaya y los otros grandes temas locales, como la caña de azúcar, el ingenio, el cangaceiro y las circunstancias geográficas de aquel ambiente brasileño, con el vicio
    mórbido de comer barro, el invierno, la sequía, las crecientes y los indelebles recuerdos de su juventud encuentran en
    él espiritualizada su poesía. La modorra tan característica
    de aquella zona está documentada en un documento insofistimable: "Yayá está en la red de palmera. La mucama de
    Yayá espanta los mosquitos, hamaca la red, canta una canción tan dulce, tan blanda, tan melodiosa, que Yayá tiene
    deseos de dormir. ¡Qué pereza, qué calor! Yayá tira la camisa, toma un refresco, prende el monito, limpia el sudor,
    salta en la red. ¡Qué perfume agradable tiene Yayá! ¡Qué
    deseo dolorido de dormir... Olor a miel de la casa de las
    calderas! El monito de Yayá duerme en un rincón. Yayá se
    queda dormida, inclina la cabeza y se abre en la red como
    una flor. La mucama cesa de cantar, espanta los mosquitos,
    calla el vaivén, abre la ventana, mira al corral. A lo lejos,
    un pajarito canta. Antes que Yayá se desperece, la negrita
    de Yayá hamaca la red, espanta los mosquitos, canta una
    canción, tan dulce, tan blanda, tan melosa, que Yayá sin
    acordarse, se rasca, se estira y se abre toda en la red de palmera".









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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:17

    ***
    EL FAROLERO


    ¡Ahí viene el farolero de la calle!
    ¡ Viene, imperturbablemente,
    parodiando al sol, enamorando a la luna
    cuando la sombra de la tarde ennegrece el poniente!

    Una, dos, tres lámparas enciende y continúa
    encendiendo otras, interminablemente,
    a medida que la noche a poco se acentúa
    y la palidez de la luna apenas se presente.

    ¡Triste ironía atroz la del cerebro humano!
    El, que dora la noclic e ilumina la ciudad,
    tal vez no tenga luz en la covacha que habita!

    Cierta gente, sin que su corazón estalle,
    ciencias, religión, amor, felicidad a otros insinúa
    como ese encendedor de faroles de la calle.





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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:19

    ***

    En su "Evolución de la Poesía Brasileña", Agripino
    Clrieco señala la rareza de fidelidad con que el poeta interpretó la carga atávica del sexo y del lirismo que hacen del
    nordeste una especie de Taliití más melancólica, como un
    pedazo de la India múltiple y contradictoria de las peregrinaciones infantiles. Porque en Jorge de Lima, ubicado den
    tro del ambiente de aquella región, presenta muchos puntos
    de contacto con el mundo selvático de Rudyard Kipling. Y
    no es todo fiesta cuando se interna en el centro del panorama, ya que también presenta la otra faz dolorida y trágica.
    Algunos de sus contemporáneos mencionaron que hay un
    fondo dramático de poema épico por la elocuencia de su testimonio. Cuando trata de los buscadores de oro que "primero descendieron por el río Opara, eran los hombres que fueron a herir la tierra en busca de oro. Y después fueron a
    levantar la cruz para curar las llagas que el oro levantó"
    O aquella que trata del invierno, admirable por su sencillez, que es un modelo de virtud: "Sefa: ¡llegó el invierno!
    ¡Hormigas de largas alas! ¡Llegó el invierno! Barro y más
    barro, lluvia y más lluvia! ¡Todo va a nacer, Sefa! Va haber verde, verde del bueno: verde en las ramas, verde en la
    tierra, verde en tí, Sefa, que yo quiero bien!".





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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:19

    POETA DE LA HUMANIDAD


    En contraste, las cantigas de las lavanderas tan tristes,
    tan pensativas y es que "las almas negras pesan tanto, son
    tan sucias, tan pesadas como los bueyes". La tristeza es característica en su temperamento lírico, evocativo, tan natural que lo domina siempre. "Mujer proletaria, única fábrica
    que tiene el obrero, fábrica de hijos, tú, en tu producción
    de máquina humana suministras ángeles para Jesucristo y
    brazos para el señor burgués. En los engranajes de las fábricas se mueven como vermes los dedos machucados de los
    obreros. Hay intestinos rotos de criaturas en el vaivén de
    las trasmisiones. El avión comió la saudad de las madres
    que la distancia separó de los hijos vagabundos. Alcanza la
    luz trémula de la vela para iluminar mi poema antiguo. El
    lirismo perdió su liturgia. Las lámparas Osram velan fúnebremente la poesía".


    Dentro de su noche, desea huir, oculto en las sombras
    "hacia otros lugares donde las gaviotas sean menos inútiles
    y haya un corazón en cada puerto: y las aves marinas de
    alba blancura, cadenciosas y sabedoras de viajes vengan a
    revolotear sobre mi pipa cuando los cometas del cielo se apaguen. ¡Oh!, ¡qué noche larga! ¿Quién está llorando afuera?
    ¿Es la humanidad o alguna fuente?".
    Una dulce emoción de amargura nostálgica huye de sus
    páginas con la utilidad de blanca humareda por el ritmo
    particular de sus poemas. En todos campea el drama humano con ese dejo melancólico que algunas veces resulta supersticioso como arrancado de la imaginación del niño artista
    que llegó a poblar el mundo al momento que "viene descendiendo una noche encantada de la lámpara que expira lentamente en la pared de la sala. El niño apoya la cabeza y
    sueña dentro de la noche quieta de la lámpara apagada con
    el mundo maravilloso que él arrancó de la nada". Rebelde a
    toda imposición literaria, ha ensayado todos los estilos poé157
    ticos, desde el alejandrino clásico hasta el impresionismo riguroso, llegando a encontrarse dentro de una melodía lírica
    moderna, tan suya como la más delicada de todos los tiempos.




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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:20

    ***


    Jorge de Lima ha roto con las ligaduras de esa "literatura sin realidad, contra lo negro de Castro Alves elevado a
    Espartaco y servidor del peor romanticismo del mundo que
    fue el gongórico". Insatisfecho de su obra, estableció su propia fórmula poética definitiva, luego de destrozar los juguetes de la vieja literatura brasileña y hasta mismo los exportados por Moscú. En procura de una tendencia literaria que
    sucediera a la actual, podría quizás llegarse al regreso de
    un "nuevo clasicismo, si consideráramos nuestros clásicos las
    producciones portuguesas escritas por brasileños, a partir de
    la prosopopeya hasta los primeros románticos. Sería una resurrección de lo retórico, del gongorismo español al seicentismo portugués". Lo que importa es volver a un estado de alma
    más o menos real que hasta ahora no ha existido en aquella
    literatura, pasando por la escrófula del romanticismo como
    la había denominado Proudhon, en pos de lo sublime y lo
    humano expresados en la primera fase de una estética viva.
    El poeta comprendió con amplitud singular cómo del
    espíritu literario surge la verdadera obra de arte, hija de la
    aventura, de la ambición e insumisión, según la interpretación de Cassou. El arte está ligado a la vida, porque no es
    abstracto y porque palpita, dice Manuel Anselmo; y es así
    porque la vida tiene su mejor expresión en el individuo. La
    crítica equivale a una pedagogía "de lo vivo, a una escuela
    de inquietud, verificada a través de las personalidades y de
    las tendencias comunes". Fue así como estamos frente a las
    inquietudes, latentes aún, surgidas inmediatamente después
    de terminada la primera guerra mundial, manifestadas en
    ese mundo personal del arte que se proyecta del hombre al
    paisaje humanizados sobre todo en la novela contemporánea, verdadero movimiento poético revolucionario del intelecto.






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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Jul 2024, 08:22

    ***


    EN LA CARRERA DEL VIENTO


    Allá viene el viento corriendo
    montado en su caballo.
    En las alas del caballo
    viene un mundo de vasallos,
    viene la desgracia gimiendo,
    viene la bonanza sonriendo,
    viene un grito, revoloteando,
    revoloteando, revoloteando.

    Allá viene el viento corriendo
    montado en su caballo.
    En las alas del caballo
    viene la tristeza del mundo,
    viene la camisa mojada
    del sudor de los desgraciados,
    viene un grito, revoloteando,
    revoloteando, revoloteando.

    Allá viene el viento corriendo
    montado en su caballo.
    En las alas del caballo
    viene un mundo amaneciendo.
    Ligado un mundo a otro mundo
    viene un grito, revoloteando,
    revoloteando, revoloteando.
    Allá viene el viento corriendo,
    los siglos corriendo atrás.
    Allá viene un grito de Dios
    y un grito de Satanás.
    Ligado un grito a otro grito,
    viene la vida, viene la muerte,
    viene el viento, revoloteando,
    revoloteando, revoloteando.

    Allá viene el viento revoloteando
    con sus caballos motores,
    revoloteando en los aviones.
    Allá viene el progreso, polvareda,
    carrera, velocidad.
    Allá viene, en las alas del viento,
    el lamento de la saudad,
    revoloteando, revoloteando.

    Allá viene el viento corriendo
    montado en su caballo.
    Quien viene ahora es un chiquillo
    montado en un cordero.
    ¡Parad al viento. Dejad
    reposar al caballero!
    Pero el viento viene rabiando,
    revoloteando, revoloteando.



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    Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Jul 2024, 11:04

    ***

    LOS GRANDES POEMAS



    En Jorge de Lima, esa manifestación también fue el
    producto apasionado de su amor por el arte, que en sus
    grandes poemas de contenido llegó a convertirse en obra
    completa, confundida como está con su alma. También él ha
    debido sufrir los dolores del parto y dar libre anchura de
    contenido a su vocación, a su "singular destino emotivo intelectual" para imprimirle el acento de materia viviente. Había pasado la época del alejandrino, del soneto bien rimado,
    sin asonancias ni disonancias, cortado al milímetro, para ser
    declamado en salones a donde no llega la voz de la calle ni
    el barro salpica las blondas vestiduras. Los primeros sonetos
    de Jorge de Lima quedaron atrás en tanto el poeta seguía
    adelante, sin detenerse, cada día con una sorpresa literaria.
    En el ánimo de mantener como tea encendida la nueva cultura en formación, el "espíritu creador vigilante" y una personalidad esclarecida autónoma, alcanzó el misterio de la
    creación artística, privilegio reservado sólo a los grandes espíritus.
    Los tres poemas que dieron a Jorge de Lima el renombre continental y casi ya universal que hoy distinguen al
    poeta son "Esa Negra Fulo", "¡Hola, Negro!" y "Padre
    Juan". Le sigue también "Sierra de la Barriga" y "En la Carrera del Viento". Pero, particularmente, en aquellos tres
    poemas mencionados, íntimamente conmovedores, es donde se
    afirma su estro lírico con tonalidades épicas, por su musicali160
    dad, ritmo, construcción, modelos ejemplares de realización
    poética inspirados de humana ternura. Los temas centrales giran en torno a la esclavitud del hombre que, primitivamente
    originario del continente negro, enfrente mismo al panorama
    brasileño, es sometido al rigor de la raza ensoberbecida y que
    la humana víctima soporta con religiosa resignación, con bondad de amar, de cantar y sonreír







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    Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Jul 2024, 11:04

    ***

    "Esa Negra Fuló" es una negrita hermosa que ha caído
    en un ingenio, donde queda como mucama para vigilar a la señora. y planchar al señor, el capataz o gamonal, que en el
    mundo brasileño se denominó "feitor". La negrita ha de
    abanicar el cuerpo de la señora, hacerle cosquillas, quitarle
    los piojos, hamacarle la red donde se acuesta, contarle historias para que pueda dormir plácidamente, hacer acostar
    los chiquillos y cantarles canciones de cuna. Y la señora acusa a la negrita ante el marido, el "feitor", de haberle robado el
    frasco de perfume. El crumiro dispónesc a azotar a la negrita que, luego de quitarse la ropa, ofrece resignada su cuerpo desnudo para recibir el castigo. Ante su presencia, la
    vista del sátiro se enceguece de lascivia. Después, la) señora
    la acusa nuevamente ante el verdugo de haberle robado un
    broche de oro. Y éste se dispone a azotar a la negrita que
    "luego tiró la saya y después el camisón y de dentro de él
    salió desnuda negra Fuló". Finalmente, la señora pregunta
    a la negrita por el marido que "Nuestro Señor me mandó.
    ¡Ah! Fuiste tú que lo ha robado. Fuiste tú, negra Fuló".
    El esquema en sí del poema no da idea de su construcción poética acerca de la que tanto se ha discutido dentro
    del ambiente intelectual brasileño. Su ritmo cálido y embriagador respira un anhelo social lo mismo que "Padre
    .Juan" que "quedó seco como un palo sin raíz" y que "va a
    morir" porque la piel de Padre Juan quedó en la punta de
    los chicotes y porque la fuerza del Padre Juan quedó en el
    cabo de la azada y de la hoz", después ele haber sido humillado y vejado.
    "El Blanco hurtó la mujer del Padre Juan para hacerla su mucama. La sangre del Padre Juan se sumió en sangre buena como un terrón de azúcar en bruto en una taza de
    leche. El Padre Juan fue caballo que montaron los hijos del
    patrón. El Padre Juan sabía historias muy bonitas que inspiraban deseos de llorar".



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    Jorge de Lima (1893-1953) - Página 2 Empty Re: Jorge de Lima (1893-1953)

    Mensaje por Maria Lua Sáb 27 Jul 2024, 11:05

    ***

    En "¡Hola, Negro!" Jorge de Lima va más lejos aun,
    pues expone una verdadera y sincera indignación cuando
    dice que los "nietos de tus mulatos y de tus cafusos y la
    cuarta y la quinta generación de tu sangre doliente tentarán apagar tu color! Y las generaciones de esas generaciones cuando apaguen el tatuaje execrado, no apagarán de su
    alma tu alma, negro. ¡Hola, negro! La raza que te esfuerza,
    esfuérzase de tedio, negro. Y eres tú quien la alegras con
    tus jazzes, con tus songs, con tus lunduns! Los poetas, los
    libertadores, los que derraman babosos torrentes de falsa
    piedad c hicieron de ti un motivo literario, no comprendían
    que tú ibas a reír! Y que tu risa y tu virginidad y tus miedos y tu bondad cambiarían el alma cansada de todas las
    crueldades. Negro que fuiste en las balas de algodón para
    IT. S. A. o que caíste en los cañaverales del Brasil. ¿Cuántas
    veces las cabelleras han de blanquear para que los cañaverales puedan dar más dulzura al alma humana?".



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    "Ser como un verso volando
    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Jorge de Lima (1893-1953) - Página 2 Empty Re: Jorge de Lima (1893-1953)

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