Aires de Libertad

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    Mensaje por Maria Lua Sáb 13 Feb 2021, 22:10

    Hora da minha morte. Hirta, ao meu lado,
    A Idéia estertorava-se... No fundo
    Do meu entendimento moribundo
    Jazia o Último Número cansado.

    Era de vê-lo, imóvel, resignado,
    Tragicamente de si mesmo oriundo,
    Fora da sucessão, estranho ao mundo,
    Como o reflexo fúnebre do Incriado.

    Bradei: — Que fazes ainda no meu crânio?
    E o Último Número, atro e subterrâneo,
    Parecia dizer-me: “É tarde, amigo!

    Pois que a minha autogênita Grandeza
    Nunca vibrou em tua língua presa,
    Não te abandono mais! Morro contigo!”


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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Dom 14 Feb 2021, 05:09

    Solitário


    Como um fantasma que se refugia
    Na solidão da natureza morta,
    Por trás dos ermos túmulos, um dia,
    Eu fui refugiar-me à tua porta!

    Fazia frio e o frio que fazia
    Não era esse que a carne nos contorta...
    Cortava assim como em carniçaria
    O aço das facas incisivas corta!

    Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
    E eu saí, como quem tudo repele,
    - Velho caixão a carregar destroços -

    Levando apenas na tumba carcaça
    O pergaminho singular da pele
    E o chocalho fatídico dos ossos!


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    Mensaje por Maria Lua Lun 15 Feb 2021, 14:50

    Noute! O silêncio vinha entrando pelo mundo
    E ele, lúgubre e só, trôpego e cambaleando
    Foi-se arrastando, foi aos poucos se arrastando,
    Para as bordas fatais dum precipício fundo!

    Quis um momento ainda olhar para o Passado...
    E em tudo que o rodeava, oito vezes, funéreo
    Horrorizado viu como num cemitério
    Cadáveres de um lado e cinzas de outro lado!

    De súbito, avistando uma frondosa tília
    Julgou, louco, avistar a ÁRvore da Esperança...
    E bateram-lhe então de chofre na lembrança
    A casa que deixara, os filhos, a família!

    Não morreria, pois! Somente morreria
    Se da Vida, sozinho, ele pisasse os trilhos...
    Que mal lhe haviam feito a esposa e a irmã e os filhos?!
    Preciso era viver! Portanto, viveria!


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    Mensaje por Maria Lua Jue 18 Feb 2021, 15:18

    Hora da minha morte. Hirta, ao meu lado,
    A Idéia estertorava-se... No fundo
    Do meu entendimento moribundo
    Jazia o Último Número cansado.

    Era de vê-lo, imóvel, resignado,
    Tragicamente de si mesmo oriundo,
    Fora da sucessão, estranho ao mundo,
    Como o reflexo fúnebre do Incriado.

    Bradei: — Que fazes ainda no meu crânio?
    E o Último Número, atro e subterrâneo,
    Parecia dizer-me: “É tarde, amigo!

    Pois que a minha autogênita Grandeza
    Nunca vibrou em tua língua presa,
    Não te abandono mais! Morro contigo!”


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    Mensaje por Maria Lua Sáb 20 Feb 2021, 05:01



    A lágrima

    - Faça-me o obséquio de trazer reunidos
    Cloreto de sódio, água e albumina...
    Ah! Basta isto, porque isto é que origina
    A lágrima de todos os vencidos!

    -"A farmacologia e a medicina
    Com a relatividade dos sentidos
    Desconhecem os mil desconhecidos
    Segredos dessa secreção divina"

    - O farmacêutico me obtemperou. -
    Vem-me então à lembrança o pai Yoyô
    Na ânsia física da última eficácia...

    E logo a lágrima em meus olhos cai.
    Ah! Vale mais lembrar-me eu de meu Pai
    Do que todas as drogas da farmácia!



    ------------------
    In "Augusto dos Anjos: Poesia e Prosa", de Zenir
    Campos Reis, Ed. Ática, São Paulo, 1977.


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    Mensaje por Maria Lua Lun 22 Feb 2021, 05:40

    Asa de corvo


    Asa de corvos carniceiros, asa
    De mau agouro que, nos doze meses,
    Cobre às vezes o espaço e cobre às vezes
    O telhado de nossa própria casa...

    Perseguido por todos os reveses,
    É meu destino viver junto a essa asa,
    Como a cinza que vive junto à brasa,
    Como os Goncourts, como os irmãos siameses!

    É com essa asa que eu faço este soneto
    E a indústria humana faz o pano preto
    Que as famílias de luto martiriza...

    É ainda com essa asa extraordinária
    Que a Morte - a costureira funerária -
    Cose para o homem a última camisa!



    **************************



    ALA DE CUERVO



    Ala de cuervos sanguinarios, ala
    De mal agüero que, en los doce meses,
    Cubre a veces el espacio y cubre a veces
    El tejado de nuestra propia casa…

    ¡Perseguido por todos los reveses,
    Es mi destino vivir junto a esa ala,
    Como la ceniza que vive con la brasa,
    Como los Goncourt, como hermanos siameses!

    Es con esa ala que hago este soneto
    Y la industria humana hace el paño prieto
    Que a las familias de luto martiriza…

    Es aun con esa ala extraordinaria
    Que la Muerte –la costurera funeraria-
    Le cose al hombre la última camisa!



    ***********************


    Ala di corvo


    Ala di corvi sanguinari, ala
    Di malaugurio che, nei dodici mesi,
    Copre a volte il cielo e copre in altri casi
    Il tetto della nostra stessa casa…

    Perseguitato da tutte le sciagure,
    È mio destino vivere accanto a quest’ala,
    Come cenere che vive accanto alla brace,
    Come i Goncourt, come i fratelli siamesi!

    Sotto quest’ala questo sonetto faccio
    E l’umano zelo fa il nero canovaccio
    Che le famiglie in lutto tanto cruccia…

    È ancora con quest’ala straordinaria
    Che la Morte - la camiciaia funeraria -
    All’uomo cuce l’ultima camicia!






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    Mensaje por Maria Lua Miér 24 Feb 2021, 06:47

    Não enterres, coveiro, o meu Passado,
    Tem pena dessas cinzas que ficaram;
    Eu vivo d’essas crenças qe passaram,
    E quero sempre tê-las ao meu lado!

    Não, não quero o meu sonho sepultado
    No cemitério da Desilusão,
    Que não se enterra assim sem compaixão
    Os escombros benditos do Passado!

    Ai! não me arranques d’alma este conforto!
    -- Quero abraçar o meu Passado morto
    -- Dizer adeus aos sonhos meus perdidos!

    Deixa ao menos que eu suba à Eternidade
    Velado pelo círio da Saudade,
    Ao dobre funeral dos tempos idos!


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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 06:57

    Augusto dos Anjos y su único libro Eu


    El extraño personaje que resulta Augusto dos Anjos al leerlo, quizá se deba de la gran capacidad
    reflexiva que tuvo con respecto al contexto en que vivió, a la instrucción que tuvo durante los
    años de universidad en Recife, o inclusive a los cambios fundamentales en la vida de los
    brasileños que tuvieron lugar durante la transición del s. XIX al s. XX. Pero ¿quién es Augusto
    dos Anjos?

    A veces parece escaparse a toda voluntad de materialización biográfica.
    Auguso de Carvalho Rodrigues dos Anjos nació el 20 de abril de 1884, en el ingenio
    azucarero Pau d’Arco, Paraiba, en la época en que el Estado luchaba por recuperarse
    económicamente y posicionarse en el ramo de la exportación.

    Sobre su mocedad poco se
    menciona, Alfredo Bosi16 da algunos datos sobre este periodo, según él, Augusto dos Anjos
    aprendió a leer con un sacerdote que era bachiller y después hizo estudios secundarios en el
    Liceo Paraibano. Además se sabe que tenía una condición enfermiza y nerviosa. En el artículo
    de Rogerio Caetano de Almeida,
    17 se menciona que la madre perteneció a la familia dueña del
    ingenio y que éste se vio envuelto en los problemas económicos de fin de siglo y, curiosamente,
    este mismo problema marcaría la vida financiera del poeta, acompañándolo hasta su muerte.
    Se sabe que estudió en la Facultad de Derecho de Recife de 1903 a 190718 y que ejerció
    poco tiempo la profesión de abogado, pasando después a maestro de literatura.19 Lo interesante
    de esta época es precisamente la formación que tuvo en Recife. La figura clave de la facultad
    fue Tobias Barreto, quien abriera la nueva época de la inteligencia brasileña con su influencia
    sobre el positivismo francés y el materialismo alemán.20 Pese a que la muerte de Barreto fue en
    1889, es decir, años antes, incluso, del ingreso de dos Anjos a la facultad, la influencia en el
    poeta paribano puede notarse en todo ese lenguaje proveniente de las ciencias positivas que
    estuvieron en boga durante la época que vivió, por ejemplo, la biología y sus términos que
    abundan en sus poemas.

    Para 1910, a sus 26 años, se había casado con Ester Filhão, trabajaba como profesor de
    literatura y las tierras familiares se habían perdido. Sus dificultades económicas le impulsaron
    a buscar nuevos horizontes, artísticos y profesionales. Aprovechando su amistad con el
    Gobernador de Paraiba, le pide un permiso para viajar a Río de Janeiro y así, en caso de fracasar
    en la capital, asegurarse de mantener el trabajo. No obstante, su petición fue negada y esto le
    provocó un enojo tal que, según Francisco de Assis Barbosa, el poeta dijo: ¡Vamos para Río.
    Nunca más pondré un pie en Paraiba!21
    Su viaje a la capital no fue fácil, pues su mujer se encontraba con tres meses de embarazo,
    además de que el viaje lo realizó gracias a la ayuda económica de su hermano, lo que le parecía
    inaceptable.


    Desconocido en Río se instaló en una pensión de la Plaza Mauá, compartiendo los
    infortunios de su vida capitalina con uno de sus colegas (José Oiticica). Ahí pudo colocarse
    como profesor en la Escuela Normal,
    22 aunque para él este puesto no aliviaba las penurias que
    pasaba con su familia, aunado al hecho de que el mismo dos Anjos no lo consideraba como un
    trabajo estable o fijo, puesto que le parecía temporal en lo que lograba incorporarse al cuerpo
    docente del Colegio Pedro II, lugar por donde pasaban todas las grandes personalidades de la
    época y donde sólo logró ser profesor de geografía.
    23 No es difícil adivinar el porqué de su
    intención, pues tan sólo en el viaje a Río apostó mucho y en la carta que manda su esposa a la
    madre del poeta, cuando éste fallece, menciona cuán importantes eran para él sus poemas:

    Él me llamó, se despidió de mí diciéndome: manda mis lágrimas para mi madre,
    manda saludos para mis amigos de Río, […] me recomendó que guardase con
    cuidado todos sus éxitos [poemas]24
    En 1912 aparece publicado su único libro de poesía y que no tuvo la recepción que él
    esperaba. El cronista del periódico El país, Oscar Lopes, se mostrará escandalizado: “Tocando
    el volumen con la punta de los dedos, para no ensuciarme las manos de sangre en el rojo título
    que ocupa toda la pasta”.25 En efecto, su único libro fue publicado con un Eu en la pasta que la
    abarcaba casi toda y en tinta roja, pero sin éxito entre los lectores pues la estética fue considerada
    grotesca.

    Casi en el anonimato, él y su libro, abandona Río y se traslada a Leopoldina, Minas
    Gerais, donde pretende asumir el cargo de director del Grupo Escolar Ribeiro Junqueira, pero
    muere a los tres meses de su llegada. Ni toda la ciencia moderna, ni los remedios que su esposa
    le procuraba, lograron salvarlo de la neumonía y muere el 12 de noviembre de 1914.
    Luego de su muerte, su amigo Órris Soares, juntó algunos poemas dispersos y dio a
    conocer en 1920 el libro de poesía más reeditado de la literatura brasileña: Eu e Outras Poesias,
    sobre todo porque para entonces ya estaban presentes las vanguardias brasileñas (modernistas).
    Como suele ocurrir, el libro de dos Anjos, con su estética insólita, demoró algunos años para ser
    totalmente aceptado.

    Los motivos de esa adhesión paulatina del público hacia la poesía de dos
    Anjos pueden ser: que los temas lentamente dejaron de ser agresivos en su lectura, temas como
    la muerte, la putrefacción, la peste, entre otros, terminaron siendo, más que ideas grotescas,
    temas de una literatura filosófica, como a algunos críticos les ha parecido la obra del poeta
    paraibano. Como dato último digo que su vida fue objeto de biografías diversas, una de ellas,
    novelada, A última quimera, de Ana Miranda, en 1995.



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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 07:06

    Psicología de un vencido

    Yo, hijo del carbono y del amoniaco,
    Monstruo de oscuridad y rutilancia,
    Sufro, desde la epigénesis de la infancia,
    La influencia mala de los signos del zodiaco.

    Profundísimamente hipocondriaco,
    Este ambiente me causa repugnancia…
    Súbeme a la boca un ansia análoga al ansia
    Que se escapa de la boca de un cardiaco.

    Ya el gusano – este operario de las ruinas –
    Que la sangre podrida de las carnificinas
    Come, y a la vida en general declara guerra,

    Anda espiando mis ojos para roerlos,
    ¡y ha de dejarme apenas los cabellos,
    En la frialdad inorgánica de la tierra!


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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 07:12

    La característica mórbida de sus poemas se encuentra relacionada a imágenes agónicas
    y de putrefacción. Sin embargo, dos Anjos marca su particularidad al tratar el tema a través del
    lenguaje positivista, el cual le permite explorar los fenómenos de la muerte desde la ciencia.
    Como señala Ginaldos Santos Silva, este estilo mórbido de dos Anjos muestra “una perplejidad
    asfixiante ante la condición humana”,
    155 ante el sabernos mortales, lo que dota del tono pesimista
    a los poemas y nos permiten puntear sobre esa predilección hacia el tema de la muerte. En
    Monólogo de una sombra observamos lo siguiente:
    Monólogo de una sombra156 (fragmento)

    ¡Es una trágica fiesta emocionante!
    La bacteriología inventariante
    Toma cuenta del cuerpo que se pudre…
    Y hasta los miembros de la familia engullen,
    Viendo las larvas malignas que se meten
    En el cadáver malsano, haciendo una s.


    ¿Qué elementos nos afirman el gusto por el tema mórbido? En primer lugar destacamos la
    analogía que se establece entre la “fiesta emocionante” y la “bacteriología inventariante”.
    158 Si
    afirmamos que el “gusto” por algo siempre es en sentido positivo, entonces, esa “bacteriología
    inventariante”, que no es otra cosa que la putrefacción, se encuentra en ese mismo sentido al
    compararse con una “fiesta”, y por lo tanto deviene en gusto por lo mórbido, en celebración. En
    segundo lugar, a este tratamiento se le une la referencia antropofágica de los siguientes versos.
    Aunque pudiera parecer ambiguo quién o quiénes “engullen”, quiénes “ven larvas” o “hacen
    una s”; la verdad es que no. Las últimas dos acciones corresponden a un complemento modal
    del verbo “engullen”, con ello, una nueva analogía se establece entre “familia” y “larvas”. Así,
    la familia es quien “engulle” el “cadáver malsano” tanto 1) “viendo larvas malignas” como 2)
    “haciendo una s”. Considerando esto, decimos que al hablar de familia no se refiere tanto a las
    personas, sino al conjunto de larvas que habitan el cadáver. De ahí que, tanto el cuerpo
    putrefacto esté hecho de larvas, como las larvas del cuerpo putrefacto; cerrándose así la acción
    de cometer antropofagia o, por decirlo de otro modo, en comerse así mismo. Con lo anterior nos
    acercamos más a la afirmación que hiciéramos líneas arriba, a decir que en la poesía agustina se
    desarrolla el gusto por lo mórbido.





    ***************

    A un cordero muerto


    Misericordiosísimo cordero
    Despedazado, ¡la maldición de Pio
    Décimo caía en tu infortunio sombrío
    Y en todo aquel que fuere tu heredero!

    Maldito sea el mercader errático
    Que te vendiera las carnes por dinero,
    ¡Pues, tu lana calienta el mundo entero
    Y guarda las carnes de los que están con frío!

    Cuando la daga rasgó en tu pescuezo,
    Al monstruo que exprimió tu sangre gruesa
    ¡Tus ojos – fuentes de perdón – perdonaron!

    ¡Oh! Tú que en el perdón yo simbolizo,
    Se fueses Dios, en el día del Juicio,
    ¡Tal vez perdonases a los que te mataron!




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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
    (Hánjel)





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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 07:14

    El poema que dedica a su hijo muestra esta pérdida teleológica y los sufrimientos que ha
    de padecer:



    Soneto

    A mi primer hijo nacido
    muerto con siete meses incompletos
    2 de febrero de 1911

    Agregado infeliz de sangre y cal,
    Fruto rojo de carne agonizante,
    Hijo de la gran fuerza fecundante
    De mi bróncea trama neuronial,

    ¡¿Qué poder embriológico fatal
    Destruyó, con la sinergia de un gigante,
    En tu morfogénesis de infante
    Mi morfogénesis ancestral?!

    Porción de mi plásmica substancia,
    ¿En qué lugar irás a pasar la infancia,
    Trágicamente anónimo, a heder?...

    ¡Ah! ¡puedas tú dormir feto olvidado,
    Panteísticamente disuelto
    En la noumenalidad181 del No Ser!



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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 07:21

    Monólogo de uma sombra

    “Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
    Do cosmopolitismo das moneras...
    Pólipo de recônditas reentrâncias,
    Larva de caos telúrico, procedo
    Da escuridão do cósmico segredo,
    Da substância de todas as substâncias!

    A simbiose das coisas me equilibra.
    Em minha ignota mônada, ampla, vibra
    A alma dos movimentos rotatórios...
    E é de mim que decorrem, simultâneas,
    A saúde das forças subterrâneas
    E a morbidez dos seres ilusórios!

    Pairando acima dos mundanos tetos,
    Não conheço o acidente da Senectus
    - Esta universitária sanguessuga
    Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
    O amarelecimento do papirus
    E a miséria anatômica da ruga!

    Na existência social, possuo uma arma
    - O metafisicismo de Abidarma -
    E trago, sem bramânicas tesouras,
    Como um dorso de azêmola passiva,
    A solidariedade subjetiva
    De todas as espécies sofredoras.

    Como um pouco de saliva quotidiana
    Mostro meu nojo à Natureza Humana.
    A podridão me serve de Evangelho...
    Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
    E o animal inferior que urra nos bosques
    É com certeza meu irmão mais velho!


    Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
    Amarguradamente se me antolha,
    À luz do americano plenilúnio,
    Na alma crepuscular de minha raça
    Como uma vocação para a Desgraça
    E um tropismo ancestral para o Infortúnio.

    Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
    Trazendo no deserto das idéias
    O desespero endêmico do inferno,
    Com a cara hirta, tatuada de fuligens
    Esse mineiro doido das origens,
    Que se chama o Filósofo Moderno!

    Quis compreender, quebrando estéreis normas,
    A vida fenomênica das Formas,
    Que, iguais a fogos passageiros, luzem.
    E apenas encontrou na idéia gasta,
    O horror dessa mecânica nefasta,
    A que todas as coisas se reduzem!

    E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
    Sobre a esteira sarcófaga das pestes
    A mostrar, já nos últimos momentos,
    Como quem se submete a uma charqueada,
    Ao clarão tropical da luz danada,
    O espólio dos seus dedos peçonhentos.

    Tal a finalidade dos estames!
    Mas ele viverá, rotos os liames
    Dessa estranguladora lei que aperta
    Todos os agregados perecíveis,
    Nas eterizações indefiníveis
    Da energia intra-atômica liberta!

    Será calor, causa ubíqua de gozo,
    Raio X, magnetismo misterioso,
    Quimiotaxia, ondulação aérea,
    Fonte de repulsões e de prazeres,
    Sonoridade potencial dos seres,
    Estrangulada dentro da matéria!

    E o que ele foi: clavículas, abdômen,
    O coração, a boca, em síntese, o Homem,
    -- Engrenagem de vísceras vulgares --
    Os dedos carregados de peçonha,
    Tudo coube na lógica medonha
    Dos apodrecimentos musculares.

    A desarrumação dos intestinos
    Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
    Dentro daquela massa que o húmus come,
    Numa glutoneria hedionda, brincam,
    Como as cadelas que as dentuças trincam
    No espasmo fisiológico da fome.

    É uma trágica festa emocionante!
    A bacteriologia inventariante
    Toma conta do corpo que apodrece...
    E até os membros da família engulham,
    Vendo as larvas malignas que se embrulham
    No cadáver malsão, fazendo um s.

    E foi então para isto que esse doudo
    Estragou o vibrátil plasma todo,
    À guisa de um faquir, pelos cenóbios?!...
    Num suicídio graduado, consumir-se,
    E após tantas vigílias, reduzir-se
    À herança miserável dos micróbios!

    Estoutro agora é o sátiro peralta
    Que o sensualismo sodomita exalta,
    Nutrindo sua infâmia a leite e a trigo...
    Como que, em suas clélulas vilíssimas,
    Há estratificações requintadíssimas
    De uma animalidade sem castigo.

    Brancas bacantes bêbadas o beijam.
    Suas artérias hírcicas latejam,
    Sentindo o odor das carnações abstêmias,
    E à noite, vai gozar, ébrio de vício,
    No sombrio bazer domeretrício,
    O cuspo afrodisíaco das fêmeas.

    No horror de sua anômala nevrose,
    Toda a sensualidade da simbiose,
    Uivando, à noite, em lúbricos arroubos,
    Como no babilônico sansara,
    Lembra a fome incoercível que escancara
    A mucosa carnívora dos lobos.

    Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda.
    Negra paixão congênita, bastarda,
    Do seu zooplasma ofídico resulta...
    E explode, igual à luz que o ar acomete,
    Com a veemência mavórtica do aríete
    E os arremessos de uma catapulta.

    Mas muitas vezes, quando a noite avança,
    Hirto, observa através a tênue trança
    Dos filamentos fluídicos de um halo
    A destra descarnada de um duende,
    Que tateando nas tênebras, se estende
    Dentro da noite má, para agarrá-lo!

    Cresce-lhe a intracefálica tortura,
    E de su’alma na caverna escura,
    Fazendo ultra-epiléticos esforços,
    Acorda, com os candeeiros apagados,
    Numa coreografia de danados,
    A família alarmada dos remorsos.

    É o despertar de um povo subterrâneo!
    É a fauna cavernícola do crânio -
    Macbeths da patológica vigília,
    Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
    As incestuosidades sangüinárias
    Que ele tem praticado na família.

    As alucinações tácteis pululam.
    Sente que megatérios o estrangulam...
    A asa negra das moscas o horroriza;
    E autopsiando a amaríssima existência
    Encontra um cancro assíduo na consciência
    E três manchas de sangue na camisa!

    Míngua-se o combustível da lanterna
    E a consciência do sátiro se inferna,
    Reconhecendo, bêbedo de sono,
    Na própria ânsia dionísica do gozo,
    Essa necessidade de horroroso,
    Que é talvez propriedade do carbono!

    Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
    De que a dor como um dartro se renova,
    Quando o prazer barbaramente a ataca...
    Assim também, observa a ciência crua,
    Dentro da elipse ignívoma da lua
    A realidade de uma esfera opaca.

    Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
    Abranda as rochas rígidas, torna água
    Todo o fogo telúrico profundo
    E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
    À condição de uma planície alegre,
    A aspereza orográfica do mundo!

    Provo desta maneira ao mundo odiento
    Pelas grandes razões do sentimento,
    Sem os métodos da abstrusa ciência fria
    E os trovões gritadores da dialética,
    Que a mais alta expressãoda dor estética
    Consiste essencialmente na alegria.

    Continua o martírio das criaturas:
    - O homicídio nas vielas mais escuras,
    - O ferido que a hostil gleba atra escarva,
    - O último solilóquio dos suicidas --
    E eu sinto a dor de todas essas vidas
    Em minha vida anônima de larva!”

    Disse isto a Sombra. E, ouvindo estes vocábulos,
    Da luz da lua aos pálidos venábulos,
    Na ânsa de um nervosíssimo entusiasmo,
    Julgava ouvir monótonas corujas,
    Executando, entre daveiras sujas,
    A orquestra arrepiadora do sarcasmo!

    Era a elegia panteísta do Universo,
    Na produção do sangue humano imenso,
    Prostituído talvez, em suas bases...
    Era a canção da Natureza exausta,
    Chorando e rindo na ironia infausta
    Da incoerência infernal daquelas frases.

    E o turbilhão de tais fonemas acres
    Trovejando grandíloquos massacres,
    Há-de ferir-me as auditivas portas,
    até que minha efêmera cabeça,
    Reverta à quietação datrava espessa
    E à palidez das fotosferas mortas!


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    y en ese vuelo y en ese sueño
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    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Jue 25 Feb 2021, 07:37

    Agonia de um filósofo

    Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
    Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo...
    O Inconsciente me assombra e eu nele rolo
    Com a eólica fúria do harmatã inquieto!

    Assisto agora à morte de um inseto!...
    Ah! todos os fenômenos do solo
    Parecem realizar de pólo a pólo
    O ideal do Anaximandro de Mileto!

    No hierático areópago heterogêneo
    Das idéias, percorro como um gênio
    Desde a alma de Haeckel à alma cenobial!...

    Rasgo dos mundos o velário espesso;
    E em tudo igual a Goethe, reconheço
    O império da substância universal!


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Dom 28 Feb 2021, 10:38

    Noute! O silêncio vinha entrando pelo mundo
    E ele, lúgubre e só, trôpego e cambaleando
    Foi-se arrastando, foi aos poucos se arrastando,
    Para as bordas fatais dum precipício fundo!

    Quis um momento ainda olhar para o Passado...
    E em tudo que o rodeava, oito vezes, funéreo
    Horrorizado viu como num cemitério
    Cadáveres de um lado e cinzas de outro lado!

    De súbito, avistando uma frondosa tília
    Julgou, louco, avistar a ÁRvore da Esperança...
    E bateram-lhe então de chofre na lembrança
    A casa que deixara, os filhos, a família!

    Não morreria, pois! Somente morreria
    Se da Vida, sozinho, ele pisasse os trilhos...
    Que mal lhe haviam feito a esposa e a irmã e os filhos?!
    Preciso era viver! Portanto, viveria!

    Viveria! E a fecunda e deleitosa seara
    Verde dos campos, onde arde e floresce a Crença,
    Compensaria toda a sua dor imensa
    Tal qual o Céu a dor de Cristo compensara!

    E aos tropeços, tombando, o Velho caminhava...
    Caminhava, e a sonhar, bêbado de miragem,
    Nem viu que era chegado o termo da viagem,
    E amplo, a rugir-lhe aos pés, o precipício estava.

    Num instante viu tudo, e compreendendo tudo,
    Quis fazer um esforço -- o último esforço, e o braço
    Pendeu exangue, o peito arqueou-se, o cansaço
    Empolgara-o, e ele quis falar e estava mudo!

    Mudo! E a quem contaria agora as suas mágoas?!
    E trágico, no horror brutoda despedida
    Abraçou-se com a Dor, abraçou-se com a Vida
    E sepultou-se ali no coração das águas!

    Cantavam muito ao longe uns carmes doloridos!
    Eram tropeiros, era a turba trovadora
    Que assim cantava, enquanto a Terra Vencedora
    Celebrava ao luar a Missa dos Vencidos!

    E o cadáver, a toa, a flux d’água, flutua!
    Ninguém o vê, ninguém o acalenta, o acalenta...
    Somente entre a negrura atra da terra poenta
    Alguém beija, alguém vela o cadáver: a Lua!


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Mar 02 Mar 2021, 10:03

    A MI PADRE MUERTO III



    ¡Pobre mi Padre! La mirada la Muerte le vidria.
    En sus labios que mis labios besan
    Microorganismos fúnebres pululan
    En una fermentación gorda de cidra.

    ¡Duras leyes las que los hombres y la hórrida hidra
    A una sola ley biológica vinculan,
    ¡Y la marcha de moléculas regulan,
    Con la invariabilidad de la clepsidra!…

    ¡Pobre mi padre! Y la mano que llené de besos
    Toda roída de insectos, como los quesos
    Sobre la mesa de orgiásticos festines!…

    ¡Amo a mi Padre en el atómico desorden
    Entre las bocas necrófagas que lo muerden
    Y la tierra infecta que le cubre los riñones!



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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Mar 09 Mar 2021, 12:51

    Agonia de um filósofo

    Consulto o Phtah-Hotep. Leio o obsoleto
    Rig-Veda. E, ante obras tais, me não consolo...
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    Das idéias, percorro como um gênio
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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:28

    Saudade

    Hoje que a mágoa me apunhala o seio,
    E o coração me rasga atroz, imensa,
    Eu a bendigo da descrença, em meio,
    Porque eu hoje só vivo da descrença.

    À noute quando em funda soledade
    Minh’alma se recolhe tristemente,
    P’ra iluminar-me a alma descontente,
    Se acende o círio triste da Saudade.

    E assim afeito às mágoas e ao tormento,
    E à dor e ao sofrimento eterno afeito,
    Para dar vida à dor e ao sofrimento,

    Da saudade na campa enegrecida
    Guardo a lembrança que me sangra o peito,
    Mas que no entanto me alimenta a vida.


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:29

    Hino à dor

    Dor, saúde dos seres que se fanam,
    Riqueza da alma, psíquico tesouro,
    Alegria das glândulas do choro
    De onde todas as lágrimas emanam..

    És suprema! Os meus átomos se ufanam
    De pertencer-te, oh! Dor, ancoradouro
    Dos desgraçados, sol do cérebro, ouro
    De que as próprias desgraças se engalanam!

    Sou teu amante! Ardo em teu corpo abstrato.
    Com os corpúsculos mágicos do tato
    Prendo a orquestra de chamas que executas...

    E, assim, sem convulsão que me alvorece,
    Minha maior ventura é estar de posse
    De tuas claridades absolutas!


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:29

    O Meu Nirvana

    No alheamento da obscura forma humana,
    De que, pensando, me desencarcero,
    Foi que eu, num grito de emoção, sincero
    Encontrei, afinal, o meu Nirvana!

    Nessa manumissão schopenhauereana,
    Onde a Vida do humano aspecto fero
    Se desarraiga, eu, feito força, impero
    Na imanência da Ideia Soberana!

    Destruída a sensação que oriunda fora
    Do tato — ínfima antena aferidora
    Destas tegumentárias mãos plebeias —

    Gozo o prazer, que os anos não carcomem,
    De haver trocado a minha forma de homem
    Pela imortalidade das Ideias!


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:30

    Ecos D'Alma

    Oh! madrugada de ilusões, santíssima,
    Sombra perdida lá do meu Passado,
    Vinde entornar a clâmide puríssima
    Da luz que fulge no ideal sagrado!

    Longe das tristes noites tumulares
    Quem me dera viver entre quimeras,
    Por entre o resplendor das Primaveras
    Oh! madrugada azul dos meus sonhares.

    Mas quando vibrar a última balada
    Da tarde e se calar a passarada
    Na bruma sepulcral que o céu embaça

    Quem me dera morrer então risonho
    Fitando a nebulosa do meu sonho
    E a Via-Látea da Ilusão que passa!


    _________________



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    o un ciego soñando
    y en ese vuelo y en ese sueño
    compartir contigo sol y luna,
    siendo guardián en tu cielo
    y tren de tus ilusiones."
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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:30

    Ceticismo

    Desci um dia ao tenebroso abismo,
    Onde a Dúvida ergueu altar profano;
    Cansado de lutar no mundo insano,
    Fraco que sou, volvi ao ceticismo.

    Da Igreja - A Grande Mãe - o exorcismo
    Terrível me feriu, e então sereno,
    De joelhos aos pés do Nazareno
    Baixo rezei, em fundo misticismo:

    - Oh! Deus, eu creio em ti, mas me perdoa!
    Se esta dúvida cruel que me magoa
    Me torna ínfimo, desgraçado réu.

    Ah, entre o medo que o meu Ser aterra,
    Não sei se viva pra morrer na terra,
    Não sei morra pra viver no Céu.


    _________________



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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:31

    Triste regresso

    Uma vez um poeta, um tresloucado,
    Apaixonou-se d’uma virgem bela;
    Vivia alegre o vate apaixonado,
    Louco vivia, enamorado dela.

    Mas a Pátria chamou-o. Era o soldado,
    E tinha que deixar p’ra sempre aquela
    Meiga visão, olímpica e singela!
    E partiu, coração amargurado.

    Dos canhões ao ribombo e das metralhas,
    Altivo lutador, venceu batalhas,
    Juncou-lhe a fronte aurifulgente estrela

    E voltou, mas a fronte aureolada,
    Ao chegar, pendeu triste e desmaiada,
    No sepulcro da loura virgem bela.


    _________________



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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:31

    Amor e crença

    Sabes que é Deus?! Esse infinito e santo
    Ser que preside e rege os outros seres,
    Que os encantos e a força dos poderes
    Reúne tudo em si, num só encanto?

    Esse mistério eterno e sacrossanto,
    Essa sublime adoração do crente,
    Esse manto de amor doce e clemente
    Que lava as dores e que enxuga o pranto?!

    Ah! Se queres saber a sua grandeza,
    Estende o teu olhar à Natureza,
    Fita a cúp’la do Céu santa e infinita!

    Deus é o templo do Bem. Na altura Imensa,
    O amor é a hóstia que bendiz a Crença,
    ama, pois, crê em Deus, e... Sê bendita!


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    AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914) - Página 3 Empty Re: AUGUSTO DOS ANJOS (1884-1914)

    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:32

    A Esperança

    A Esperança não murcha, ela não cansa,
    Também como ela não sucumbe a Crença,
    Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
    Voltam sonhos nas asas da Esperança.

    Muita gente infeliz assim não pensa;
    No entanto o mundo é uma ilusão completa,
    E não é a Esperança por sentença
    Este laço que ao mundo nos manieta?

    Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
    Sirva-te a Crença do fanal bendito,
    Salve-te a glória no futuro -- avança!

    E eu, que vivo atrelado ao desalento,
    Também espero o fim do meu tormento,
    Na voz da Morte a me bradar; descansa!


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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 08:33

    Primavera

    Primavera gentil dos meus amores,
    - Arca cerúlea de ilusões etéreas,
    Chova-te o Céu cintilações sidéreas
    E a terra chova no teu seio flores!

    Esplende, Primavera, os teus fulgores,
    Na auréola azul, dos dias teus risonhos,
    Tu que sorveste o fel das minhas dores
    E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!

    Cedo virá, porém, o triste outono,
    Os dias voltarão a ser tristonhos
    E tu hás de dormir o eterno sono,

    Num sepulcro de rosas e de flores,
    Arca sagrada de cerúleos sonhos,
    Primavera gentil dos meus amores!


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    Mensaje por Maria Lua Miér 10 Mar 2021, 09:21

    A minha estrela

    A meu irmão Aprígio A.


    E eu disse - Vai-te, estrela do Passado!
    Esconde-te no Azul da Imensidade,
    Lá onde nunca chegue esta saudade,
    - A sombra deste afeto estiolado.

    Disse, e a estrela foi p’ra o Céu subindo,
    Minh’alma que de longe a acompanhava,
    Viu o adeus que do Céu ela enviava,
    E quando ela no Azul foi-se sumindo

    Surgia a Aurora - a mágica princesa!
    E eu vi o Sol do Céu iluminando
    A Catedral da Grande Natureza.

    Mas a noute chegou, triste, com ela
    Negras sombras também foram chegando,
    E nunca mais eu vi a minha estrela!


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    Mensaje por Maria Lua Vie 12 Mar 2021, 05:27



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    Mensaje por Maria Lua Vie 12 Mar 2021, 05:28



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    Mensaje por Maria Lua Vie 12 Mar 2021, 05:29



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