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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:51

      NOVOS POEMAS




      Rio de Janeiro, José Olympio, 1938
      Novos Poemas é o livro que aponta o momento de ruptura na obra poética – e na vida – de Vinicius de Moraes. O título, indicando a novidade, faz jus à renovação temática e formal de seus poemas. Adotando o soneto como espaço privilegiado de suas pesquisas com rimas e ritmos, aliando a forma fixa aos versos mais amplos e palavrosos que costumava a usar, e ainda usaria em outros momentos, o material publicado em Novos Poemas é definitivo para a entrada de Vinicius no time dos grandes poetas de sua geração.

      O livro é o quarto lançado por Vinicius no curto intervalo de cinco anos. Sua produtividade só crescia e a vontade de viver de literatura também. Como muitos escritores da época, ele oscilava entre o emprego público e o jornalismo como meios paralelos de sobrevivência. A literatura foi, aos poucos, conduzindo sua carreira e, mesmo que tenha se tornado depois embaixador e cronista, passa a ser conhecido desde então e para sempre como Poeta.

      O livro, pelo seu frescor, pela sua vivacidade renovadora em poemas como “Soneto de intimidade”, “A mulher que passa” ou “Lamento ouvido não sei onde”, gerou um texto de seu amigo e já então renomado poeta e crítico Mário de Andrade, homenageado pelo próprio Vinicius na dedicatória do poema “A máscara da noite”. O amigo, porém, não deixou de ser crítico. Apontou, de forma construtiva, defeitos na feitura de alguns poemas, entendendo ser um livro “de transição” para alguém que já podia reivindicar um lugar entre “os grandes poetas do Brasil”.


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      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:52

      ÁRIA PARA ASSOVIO


      Inelutavelmente tu
      Rosa sobre o passeio
      Branca! e a melancolia
      Na tarde do seio

      As cássias escorrem
      Seu ouro a teus pés
      Conheço o soneto
      Porém tu quem és?

      O madrigal se escreve:
      Se é do teu costume
      Deixa que eu te leve

      (Sê... mínima e breve
      A música do perfume
      Não guarda ciúme)

      Rio, 1936


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      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:53

      SONETO DE INTIMIDADE


      Nas tardes de fazenda há muito azul demais.
      Eu saio às vezes, sigo pelo pasto, agora
      Mastigando um capim, o peito nu de fora
      No pijama irreal de há três anos atrás.

      Desço o rio no vau dos pequenos canais
      Para ir beber na fonte a água fria e sonora
      E se encontro no mato o rubro de uma amora
      Vou cuspindo-lhe o sangue em torno dos currais.

      Fico ali respirando o cheiro bom do estrume
      Entre as vacas e os bois que me olham sem ciúme
      E quando por acaso uma mijada ferve

      Seguida de um olhar não sem malícia e verve
      Nós todos, animais, sem comoção nenhuma
      Mijamos em comum numa festa de espuma.

      Campo Belo, 1937


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      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:54

      VIAGEM À SOMBRA


      Tua casa sozinha — lassidão infinita dos devaneios, dos segredos. Frocos verdes de perfume sobre a malva penumbra (e a tua carne em pianíssimo, grande gata branca de fala moribunda) e o fumo branco da cidade inatingível, e o fumo branco, e a tua boca áspera, onde há dentes de inocência ainda.

      És, de qualquer modo, a Mulher. Há teu ventre que se cobre, invisível, de odor marítimo dos brigues selvagens que eu não tive; há teus olhos mansos de louca, ó louca! e há tua face obscura, dolorosa, talhada na pedra que quis falar. Nos teus seios de juventude, o ruído misterioso dos duendes ordenhando o leite pálido da tristeza do desejo.

      E na espera da música, o vaivém infantil dos gestos de magia. Sim, é dança! — o colo que aflora oferecido é a melodiosa recusa das mãos, a anca que irrompe à carícia é o ungido pudor dos olhos, há um sorriso de infinita graça, também, frio sobre os lábios que se consomem. Ah! onde o mar e as trágicas aves da tempestade, para ser transportado, a face pousada sobre o abismo?

      Que se abram as portas, que se abram as janelas e se afastem as coisas aos ventos. Se alguém me pôs nas mãos este chicote de aço, eu te castigarei, fêmea! — Vem, pousa-te aqui! Adormece tuas íris de ágata, dança! — teu corpo barroco em bolero e rumba. — Mais! — dança! dança! — canta, rouxinol! (Oh, tuas coxas são pântanos de cal viva, misteriosa como a carne dos batráquios...)

      Tu que só és o balbucio, o voto, a súplica — oh mulher, anjo, cadáver da minha angústia! — sê minha! minha! minha! no ermo deste momento, no momento desta sombra, na sombra desta agonia — minha — minha — minha — oh mulher, garça mansa, resto orvalhado de nuvem...

      Pudesse passar o tempo e tu restares horizontalmente, fraco animal, as pernas atiradas à dor da monstruosa gestação! Eu te fecundaria com um simples pensamento de amor, ai de mim!
      Mas ficarás com o teu destino.


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      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:55

      O MÁGICO


      Diante do mágico a multidão boquiaberta se esquece. Não há mais lugar na Grande Praça: as ruas adjacentes se cobrem de uma negra onda humana. Em todas as casas a curiosidade do mistério abriu todas as janelas. A espantosa fachada da Catedral se apinha de garotos acrobatas que se penduram nos relevos como anjos. É talvez Paris do Terror, porque os velhos pardieiros como que se inclinam para o espetáculo incessante e na porta das hospedarias há velhas tabuletas pendentes, mas também pode ser uma vila alemã, onde as campainhas das lojas tilintam alegremente, ou mesmo o Rio do tempo dos Vice-Reis, com os seus Capitães-Mores traficando em suas redes e fitando duramente o artista.

      O mágico está sobre o antigo pelourinho ou forca ou guilhotina por onde muitas gerações passaram.

      As abas da sua casaca vão ao vento — é uma negra andorinha saltitante! As brancas mãos se misturam em ondulantes movimentos de dança.

      É de tarde, hora do trabalho. Na primeira fila estão os senhores e na última os escravos do dever. Os senhores procuram adivinhar, os escravos procuram rir. O mágico se diverte com a multidão, a multidão se diverte com o mágico. Um filósofo e um dançarino perdidos confundem a multidão com o mágico e aguardam.

      Todos se divertem à sua maneira.

      *

      Silêncio, o mágico fala, todos escutam! “Ahora, presentaré el famoso entretenimiento de las palomas.” A dama oriental faz uma pirueta ágil e mostra ao público a cartola milagrosa. O mágico faz passes, cobre a cartola com um lenço vermelho de seda. “Un dos y...!” voam pombas brancas para o céu de safira. A multidão olha para cima, as mãos aparando o sol. O movimento prossegue. Toda a praça, toda a rua, toda a cidade olha para cima, o subúrbio olha para cima, os camponeses olham para cima. “O que estará para acontecer? Dizem que um tufão caminha do levante!” Acendem-se ícones nas isbás da estepe russa, fazem-se procissões em Portugal. O chefe guerreiro da tribo vê o sinal da guerra no céu, rugem os trocanos. O mágico joga a cartola para a multidão, que aplaude. O poeta apanha a cartola e recolhe nela o encantamento que se processou. As pombas invisíveis voltam, o poeta as contempla. Só elas são o Íntimo da Vida.

      *

      E o tufão cai de súbito, vindo do Levante. Os garotos escorrem pelas colunas, formigam pelas escadarias, escondem-se nos nichos. O povo se escoa como uma água lodosa pelas portas das casas que abrem e fecham. A um gesto de guignol todas as janelas se retraem e após um minuto de rumor intenso desce uma eternidade de silêncio. Uma procelária passando em busca do mar só vê da cidade as suas torres acima do grande nevoeiro. Os rios rugem, as pontes desabam, nas sarjetas boiam cadáveres de crianças ciganas. O dilúvio leva a música do mágico, leva as pinturas do mágico, leva as bonecas do mágico, só não leva o mágico na torrente.
      O poeta sobe ao palanque, castiga o mágico, possui a mulher do mágico, apresenta ao alto a cabeça e o coração, onde surgem e desaparecem pombas brancas e onde a realidade efêmera floresce no mistério perpétuo.
      Mágico do inescrutável, o poeta aguarda o raio de Deus.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Miér 14 Sep 2022, 09:56

      BALADA FEROZ


      Canta uma esperança desatinada para que se enfureçam silenciosamente os cadáveres dos afogado
      Canta para que grasne sarcasticamente o corvo que tens pousado sobre a tua omoplata atlética.
      Canta como um louco enquanto os teus pés vão penetrando a massa sequiosa de lesmas
      Canta! para esse formoso pássaro azul que ainda uma vez sujaria sobre o teu êxtase.

      Arranca do mais fundo a tua pureza e lança-a sobre o corpo felpudo das aranhas
      Ri dos touros selvagens, carregando nos chifres virgens nuas para o estupro nas montanhas
      Pula sobre o leito cru dos sádicos, dos histéricos, dos masturbados e dança!
      Dança para a lua que está escorrendo lentamente pelo ventre das menstruadas

      Lança o teu poema inocente sobre o rio venéreo engolindo as cidades
      Sobre os casebres onde os escorpiões se matam à visão dos amores miseráveis
      Deita a tua alma sobre a podridão das latrinas e das fossas
      Por onde passou a miséria da condição dos escravos e dos gênios.

      Dança, ó desvairado! Dança pelos campos aos rinches dolorosos das éguas parindo
      Mergulha a algidez deste lago onde os nenúfares apodrecem e onde a água floresce em miasmas
      Fende o fundo viscoso e espreme com tuas fortes mãos a carne flácida das medusas
      E com teu sorriso inexcedível surge como um deus amarelo da imunda pomada.

      Amarra-te aos pés das garças e solta-as para que te levem
      E quando a decomposição dos campos de guerra te ferir as narinas, lança-te sobre a cidade mortuária
      Cava a terra por entre as tumefações e se encontrares um velho canhão soterrado, volta
      E vem atirar sobre as borboletas cintilando cores que comem as fezes verdes das estradas.

      Salta como um fauno puro ou como um sapo de ouro por entre os raios do sol frenético.
      Faz rugir com o teu calão o eco dos vales e das montanhas
      Mija sobre o lugar dos mendigos nas escadarias sórdidas dos templos
      E escarra sobre todos os que se proclamarem miseráveis.

      Canta! canta demais! Nada há como o amor para matar a vida
      Amor que é bem o amor da inocência primeira!
      Canta! - o coração da Donzela ficará queimando eternamente a cinza morta
      Para o horror dos monges, dos cortesãos, das prostitutas e dos pederastas.

      Transforma-te por um segundo num mosquito gigante e passeia de noite sobre as grandes cidades
      Espalhando o terror por onde quer que pousem tuas antenas impalpáveis.
      Suga aos cínicos o cinismo, aos covardes o medo, aos avaros o ouro
      E para que apodreçam como porcos, injeta-os de pureza!

      E com todo esse pus, faz um poema puro
      E deixa-o ir, armado cavaleiro, pela vida
      E ri e canta dos que pasmados o abrigarem
      E dos que por medo dele te derem em troca a mulher e o pão.

      Canta! canta, porque cantar é a missão do poeta
      E dança, porque dançar é o destino da pureza
      Faz para os cemitérios e para os lares o teu grande gesto obsceno
      Carne morta ou carne viva - toma! Agora falo eu que sou um!



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:54

      INVOCAÇÃO À MULHER ÚNICA



      Tu, pássaro — mulher de leite! Tu que carregas as lívidas glândulas do amor acima do sexo infinito
      Tu, que perpetuas o desespero humano — alma desolada da noite sobre o frio das águas — tu
      Tédio escuro, mal da vida — fonte! jamais... jamais... (que o poema receba as minhas lágrimas!...)
      Dei-te um mistério: um ídolo, uma catedral, uma prece são menos reais que três partes sangrentas do meu coração em martírio
      E hoje meu corpo nu estilhaça os espelhos e o mal está em mim e a minha carne é aguda
      E eu trago crucificadas mil mulheres cuja santidade dependeria apenas de um gesto teu sobre o espaço em harmonia.
      Pobre eu! sinto-me tão tu mesma, meu belo cisne, minha bela, bela garça, fêmea
      Feita de diamantes e cuja postura lembra um templo adormecido numa velha madrugada de lua...
      A minha ascendência de heróis: assassinos, ladrões, estupradores, onanistas — negações do bem: o Antigo Testamento! — a minha descendência
      De poetas: puros, selvagens, líricos, inocentes: O Novo Testamento — afirmações do bem: dúvida
      (Dúvida mais fácil que a fé, mais transigente que a esperança, mais oportuna que a caridade
      Dúvida, madrasta do gênio) — tudo, tudo se esboroa ante a visão do teu ventre púbere, alma do Pai, coração do Filho, carne do Santo Espírito, amém!
      Tu, criança! cujo olhar faz crescer os brotos dos sulcos da terra — perpetuação do êxtase
      Criatura, mais que nenhuma outra, porque nasceste fecundada pelos astros — mulher! tu que deitas o teu sangue
      Quando os lobos uivam e as sereias desacordadas se amontoam pelas praias — mulher!
      Mulher que eu amo, criança que amo, ser ignorado, essência perdida num ar de inverno.
      Não me deixes morrer!... eu, homem — fruto da terra — eu, homem —fruto da carne
      Eu que carrego o peso da tara e me rejubilo, eu que carrego os sinos do sêmen que se rejubilam à carne
      Eu que sou um grito perdido no primeiro vazio à procura de um Deus que é o vazio ele mesmo!
      Não me deixes partir... — as viagens remontam à vida!... e por que eu partiria se és a vida, se há em ti a viagem muito pura
      A viagem do amor que não volta, a que me faz sonhar do mais fundo da minha poesia
      Com uma grande extensão de corpo e alma — uma montanha imensa e desdobrada — por onde eu iria caminhando
      Até o âmago e iria e beberia da fonte mais doce e me enlanguesceria e dormiria eternamente como uma múmia egípcia
      No invólucro da Natureza que és tu mesma, coberto da tua pele que é a minha própria — oh mulher, espécie adorável da poesia eterna!


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:55

      SONETO DE AGOSTO


      Tu me levaste, eu fui... Na treva, ousados
      Amamos, vagamente surpreendidos
      Pelo ardor com que estávamos unidos
      Nós que andávamos sempre separados.

      Espantei-me, confesso-te, dos brados
      Com que enchi teus patéticos ouvidos
      E achei rude o calor dos teus gemidos
      Eu que sempre os julgara desolados.

      Só assim arrancara a linha inútil
      Da tua eterna túnica inconsútil...
      E para a glória do teu ser mais franco

      Quisera que te vissem como eu via
      Depois, à luz da lâmpada macia
      O púbis negro sobre o corpo branco.

      Oxford, 1938


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      Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:57

      A MULHER QUE PASSA


      Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
      Seu dorso frio é um campo de lírios
      Tem sete cores nos seus cabelos
      Sete esperanças na boca fresca!

      Oh! como és linda, mulher que passas
      Que me sacias e suplicias
      Dentro das noites, dentro dos dias!

      Teus sentimentos são poesia
      Teus sofrimentos, melancolia.
      Teus pelos leves são relva boa
      Fresca e macia.
      Teus belos braços são cisnes mansos
      Longe das vozes da ventania.

      Meu Deus, eu quero a mulher que passa!

      Como te adoro, mulher que passas
      Que vens e passas, que me sacias
      Dentro das noites, dentro dos dias!
      Por que me faltas, se te procuro?
      Por que me odeias quando te juro
      Que te perdia se me encontravas
      E me encontrava se te perdias?

      Por que não voltas, mulher que passas?
      Por que não enches a minha vida?
      Por que não voltas, mulher querida
      Sempre perdida, nunca encontrada?
      Por que não voltas à minha vida?
      Para o que sofro não ser desgraça?

      Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
      Eu quero-a agora, sem mais demora
      A minha amada mulher que passa!

      No santo nome do teu martírio
      Do teu martírio que nunca cessa
      Meu Deus, eu quero, quero depressa
      A minha amada mulher que passa!

      Que fica e passa, que pacifica
      Que é tanto pura como devassa
      Que boia leve como a cortiça
      E tem raízes como a fumaça.


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:57

      VIDA E POESIA



      A lua projetava o seu perfil azul
      Sobre os velhos arabescos das flores calmas
      A pequena varanda era como o ninho futuro
      E as ramadas escorriam gotas que não havia.
      Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
      — Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
      Só os perfumes teciam a renda da tristeza
      Porque as corolas eram alegres como frutos
      E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

      Eu me pus a sonhar o poema da hora.

      E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
      Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
      Talvez ao pressentir na carne misteriosa
      A germinação estranha do meu indizível apelo
      Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
      Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
      E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
      Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
      Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
      E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
      E marulhar entre os teus seios como uma onda
      Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
      De que me tivesses possuído antes do amor.



      _________________



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Sáb 17 Sep 2022, 08:59

      SONETO SIMPLES


      Chegara enfim o mesmo que partira: a porta aberta e o coração voando ao encontro dos olhos e das mãos. Velhos pássaros, velhas criaturas, almas cinzentas plácidas passando — somente a amiga é como o melro branco!

      E enfim partira o mesmo que chegara; o horizonte transpondo o pensamento e nas auroras plácidas passando o doce perfil da amiga adormecida. Desejo de morrer de nostalgia da noite dos vales tristes e perdidos... (foi quando desceu do céu a poesia como um grito de luz nos meus ouvidos...)




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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 19 Sep 2022, 17:45

      VIDA E POESIA


      A lua projetava o seu perfil azul
      Sobre os velhos arabescos das flores calmas
      A pequena varanda era como o ninho futuro
      E as ramadas escorriam gotas que não havia.
      Na rua ignorada anjos brincavam de roda...
      — Ninguém sabia, mas nós estávamos ali.
      Só os perfumes teciam a renda da tristeza
      Porque as corolas eram alegres como frutos
      E uma inocente pintura brotava do desenho das cores

      Eu me pus a sonhar o poema da hora.

      E, talvez ao olhar meu rosto exasperado
      Pela ânsia de te ter tão vagamente amiga
      Talvez ao pressentir na carne misteriosa
      A germinação estranha do meu indizível apelo
      Ouvi bruscamente a claridade do teu riso
      Num gorjeio de gorgulhos de água enluarada.
      E ele era tão belo, tão mais belo do que a noite
      Tão mais doce que o mel dourado dos teus olhos
      Que ao vê-lo trilar sobre os teus dentes como um címbalo
      E se escorrer sobre os teus lábios como um suco
      E marulhar entre os teus seios como uma onda
      Eu chorei docemente na concha de minhas mãos vazias
      De que me tivesses possuído antes do amor.


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 26 Sep 2022, 08:57

      ÁRIA PARA ASSOVIO

      Inelutavelmente tu
      Rosa sobre o passeio
      Branca! e a melancolia
      Na tarde do seio

      As cássias escorrem
      Seu ouro a teus pés
      Conheço o soneto
      Porém tu quem és?

      O madrigal se escreve:
      Se é do teu costume
      Deixa que eu te leve

      (Sê... mínima e breve
      A música do perfume
      Não guarda ciúme)

      Rio, 1936


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 26 Sep 2022, 08:58

      SONETO A KATHERINE MANSFIELD


      O teu perfume, amada — em tuas cartas
      Renasce, azul... — são tuas mãos sentidas!
      Relembro-as brancas, leves, fenecidas
      Pendendo ao longo de corolas fartas.

      Relembro-as, vou... nas terras percorridas
      Torno a aspirá-lo, aqui e ali desperto
      Paro; e tão perto sinto-te, tão perto
      Como se numa foram duas vidas.

      Pranto, tão pouca dor! tanto quisera
      Tanto rever-te, tanto!... e a primavera
      Vem já tão próxima!... (Nunca te apartas

      Primavera, dos sonhos e das preces!)
      E no perfume preso em tuas cartas
      À primavera surges e esvaneces.

      Rio, 1937


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 26 Sep 2022, 08:59

      O CEMITÉRIO NA MADRUGADA
      Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
      E fica como louca, sentada, espiando o mar...
      É a hora em que se acende o fogo-fátuo da madrugada
      Sobre os mármores frios, frios e frios do cemitério
      E em que, embaladas pela harpa cariciosa das pescarias
      Dormem todas as crianças do mundo.

      Às cinco da manhã a angústia se veste de branco
      Tudo repousa... e sem treva, morrem as últimas sombras...
      É a hora em que, libertados do horror da noite escura
      Acordam os grandes anjos da guarda dos jazigos
      E os mais serenos cristos se desenlaçam dos madeiros
      Para lavar o rosto pálido na névoa.

      Às cinco da manhã... — tão tarde soube — não fora ainda uma visão
      Não fora ainda o medo da morte em minha carne!
      Viera de longe... de um corpo lívido de amante
      Do mistério fúnebre de um êxtase esquecido
      Tinha-me perdido na cerração, tinha-me talvez perdido
      Na escuta de asas invisíveis em torno...

      Mas ah, ela veio até mim, a pálida cidade dos poemas
      Eu a vi assim gelada e hirta, na neblina!
      Oh, não eras tu, mulher sonâmbula, tu que eu deixei
      Banhada do orvalho estéril da minha agonia
      Teus seios eram túmulos também, teu ventre era uma urna fria
      Mas não havia paz em ti!

      Lá tudo é sereno... Lá toda a tristeza se cobre de linho
      Lá tudo é manso, manso como um corpo morto de mãe prematura
      Lá brincam os serafins e as flores, bimbalham os sinos
      Em melodias tão alvas que nem se ouvem...
      Lá gozam miríades de vermes, que às brisas matutinas
      Voam em povos de borboletas multicolores...

      Escuto-me falar sem receio; esqueço o amanhã distante
      O vento traz perfumes inconfessáveis dos pinheiros...
      Um dia morrerão todos, morrerão as amadas
      E eu ficarei sozinho, para a hora dos cânticos exangues
      Hei de colar meu ouvido impaciente às tumbas amigas
      E ouvir meu coração batendo.

      Tu trazes alegria à vida, ó Morte, deusa humílima!
      A cada gesto meu riscas uma sombra errante na terra
      Sobre o teu corpo em túnica, vi a farândola das rosas e dos lírios
      E a procissão solene das virgens e das madalenas
      Em tuas maminhas púberes vi mamarem ratos brancos
      Que brotavam como flores dos cadáveres contentes.

      Que pudor te toma agora, poeta, lírico ardente
      Que desespero em ti diz da irrealidade das manhãs?
      A Morte vive em teu ser... — não, não é uma visão de bruma
      Não é o despertar angustiado após o martírio do amor
      É a Poesia... — e tu, homem simples, és um fanático arquiteto
      Ergues a beleza da morte em ti!

      Oh, cemitério da madrugada, por que és tão alegre
      Por que não gemem ciprestes nos teus túmulos?
      Por que te perfumas tanto em teus jasmins
      E tão docemente cantas em teus pássaros?
      És tu que me chamas, ou sou eu que vou a ti
      Criança, brincar também pelos teus parques?

      Por ti, fui triste; hoje, sou alegre por ti, ó morte amiga
      Do teu espectro familiar vi se erguer a única estrela do céu
      Meu silêncio é o teu silêncio — ele não traz angústia
      É assim como a ave perdida no meio do mar...
      ............................................................................................

      Serenidade, leva-me! guarda-me no seio de uma madrugada eterna!



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 26 Sep 2022, 09:00

      PRINCÍPIO



      Na praia sangrenta a gelatina verde das algas — horizontes!
      Os olhos do afogado à tona e o sexo no fundo (a contemplação na desagregação da forma...)
      O mar... A música que sobe ao espírito, a poesia do mar, a cantata soturna dos três movimentos
      O mar! (Não a superfície calma, mas o abismo povoado de peixes fantásticos e sábios...)

      É o navio grego, é o navio grego desaparecido nas floras submarinas — Deus balança por um fio invisível a ossada do timoneiro sob o grande mastro
      São as medusas, são as medusas dançando a dança erótica dos mucos vermelhos se abrindo ao beijo das águas
      É a carne que o amor não mais ilumina, é o rito que o fervor não mais acende
      É o amor um molusco gigantesco vagando pela revelação das luzes árticas.

      O que se encontrará no abismo mesmo de sabedoria e de compreensão infinita
      Ó pobre narciso nu que te deixaste ficar sobre a certeza de tua plenitude?
      Nos peixes que da própria substância acendem o espesso líquido que vão atravessando
      Terás conhecido a verdadeira luz da miséria humana que quer se ultrapassar.

      É preciso morrer, a face repousada contra a água como um grande nenúfar partido
      Na espera da decomposição que virá para os olhos cegos de tanta serenidade
      Na visão do amor que estenderá as suas antenas altas e fosforescentes
      Todo o teu corpo há de deliquescer e mergulhar como um destroço ao apelo do fundo.

      Será a viagem e a destinação. Há correntes que te levarão insensivelmente e sem dor para cavernas de coral
      Lá conhecerás os segredos da vida misteriosa dos peixes eternos
      Verás crescerem olhos ardentes do volume glauco que te incendiarão de pureza
      E assistirás a seres distantes que se fecundam à simples emoção do amor.

      Encontrar, eis o destino. Aves brancas que desceis aos lagos e fugis! Oh, a covardia das vossas asas!
      É preciso ir e se perder no elemento de onde surge a vida.
      Mais vale a árvore da fonte que a árvore do rio plantada segundo a corrente e que dá seus frutos a seu tempo...
      Deixai morrer o desespero nas sombras da ideia de que o amor pode não vir.

      Na praia sangrenta a velha embarcação negra e desfeita — o mar a lançou talvez na tempestade!
      Eu — e casebres de pescadores eternamente ausentes...
      O mar! o vento tangendo as águas e cantando, cantando, cantando
      Na praia sangrenta entre brancas espumas e horizontes...


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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 26 Sep 2022, 09:01

      SONETO DE CONTRIÇÃO



      Eu te amo, Maria, eu te amo tanto
      Que o meu peito me dói como em doença
      E quanto mais me seja a dor intensa
      Mais cresce na minha alma teu encanto.

      Como a criança que vagueia o canto
      Ante o mistério da amplidão suspensa
      Meu coração é um vago de acalanto
      Berçando versos de saudade imensa.

      Não é maior o coração que a alma
      Nem melhor a presença que a saudade
      Só te amar é divino, e sentir calma...

      E é uma calma tão feita de humildade
      Que tão mais te soubesse pertencida
      Menos seria eterno em tua vida.

      Rio, 1938




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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Mar 27 Sep 2022, 08:28

      SOLILÓQUIO
      Talvez os imensos limites da pátria me lembrem os puros
      E amargue em meu coração a descrença.
      Sinto-me tão cansado de sofrer, tão cansado! — algum dia, em alguma parte
      Hei de lançar também as âncoras ardentes das promessas
      Mas no meu coração intranquilo não há senão fome e sede
      De lembranças inexistentes.

      O que resta da grande paisagem de pensamentos vividos
      Dize, minha alma, senão o vazio?
      São verdades as lágrimas, os estremecimentos, os tédios longos
      As caminhadas infinitas no oco da eterna voz que te obriga?
      E no entanto o que crê em ti não tem o teu amor aprisionado
      Escravo de fruições efêmeras...

      Ah, será para sempre assim... o beijo pouco do tempo
      Na face presa da eternidade
      E em todos os momentos a sensação pobre de estar vivendo
      E ter em si somente o que não pode ser vivido
      E em todos os momentos a beleza, e apenas
      Num só momento a prece...

      Nunca me sorrirão vozes infantis no corpo, e quem sabe por tê-las
      Muito ardentemente desejado...
      Talvez os limites da pátria me lembrem os puros e enlouqueça
      Em mim o que não foi da carne conquistado.
      Muitas vezes hei de me dizer que não sou senão juventude
      No seio do pântano triste.

      Quero-te, porém, vida, súplica! o medo de mim mesmo
      Não há na minha saudade.
      É que dói não viver em amor e em renúncia
      Quando o amor e a renúncia são terras dentro de mim
      E uma vez mais me deitarei no frio, guia de luz perdido
      Sem mistérios e sem sombra.

      Bem viram os que temeram a minha angústia e as que se disseram:
      — Ele perdeu-se no mar!
      No mar estou perdido, sem céu e sem terra e sem sede de água
      E nada senão minha carne resiste aos apelos do ermo...
      O que restará de ti, homem triste, que não seja a tua tristeza
      Fruto sobre a terra morta...

      Não pensar, talvez... Caminhar ciliciando a carne
      Sobre o corpo macerado da vida
      Ser um milhão na mesma cidade desabitada
      E sendo apenas um, ir acordando o amor e a angústia
      E da inquietação vinda e multiplicada, arrancar um riso sem força
      Sobre as paisagens inúteis.

      Mas, oh, saber... — saber até o fundo do conhecimento
      Sobre as aves e os lírios!
      Saber a pureza bailando no pensamento como um gênio perfeito
      E na alma os cantos límpidos e os voos de uma poesia!
      E nada poder, nada, senão ir e vir como a sombra do condenado
      Pelo silêncio em escuta...

      E não sou um covarde... — sofro pelas manhãs e pelas tardes
      E pelas noites desvaneço...
      No entanto, é covarde que me sinto no olhar dos que me amam
      E no prazer que arranco cem vezes da carne ou do espírito que quero
      Ai de mim, tão grande, tão pequeno... — e quando o digo intimamente!
      E em ambos, sem pânico...

      E me pergunto: Serei vazio de amor como os ciprestes
      No seio da ventania?
      Serei vazio de serenidade como as águas no seio do abismo
      Ou como as parasitas no seio da mata serei vazio de humildade?
      Ou serei o amor eu mesmo e a calma e a humildade eu mesmo
      No seio do infinito vazio?

      E me pergunto: O que é o perigo, onde a sua fascinação profunda
      E o gosto ardente de morrer?
      Não é a morte o meu voto murmurante
      Que caminha comigo pelas estradas e adormece no meu leito?
      O que é morrer senão viver placidamente
      Na imutável espera?

      Nada respondo — nada responde o desespero
      Solidão sem desvario.
      Mas resta, resta a ânsia das palavras murmuradas ao vento
      E a emoção das visões vividas no seu melhor momento
      Resta a posse longínqua e em eterna lembrança
      Da imagem única.

      Resta?... Já me disse blasfêmias no âmago do prazer sentido
      Sobre o corpo nu da mulher
      Já arranquei de mim mesmo o sumo da sabedoria
      Para fazê-lo vibrar dolorosamente à minha vontade
      E no entanto... posso me glorificar de ter sido forte
      Contra o que sempre foi?

      Hão de ir todos, todos, para as celebrações e para os ritos
      Ficarei em casa, sem lar
      Hei de ouvir as vozes dos amantes que não se entediam
      E dos amigos que não se amam e não lutam
      As portas abertas, à espera dos passos do retardatário
      Não receberei ninguém.

      Talvez nos imensos limites da pátria estejam os puros
      E apenas em mim o ilimitado...
      Mas oh, cerrar os olhos, dormir, dormir longe de tudo
      Longe mesmo do amor longe de mim!
      E enquanto se vão todos, heróicos, santos, sem mentira ou sem verdade
      Ficar, sem perseverança...


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      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      Mensaje por Maria Lua Mar 27 Sep 2022, 08:28

      A VIDA VIVIDA


      Quem sou eu senão um grande sonho obscuro em face do Sonho
      Senão uma grande angústia obscura em face da Angústia
      Quem sou eu senão a imponderável árvore dentro da noite imóvel
      E cujas presas remontam ao mais triste fundo da terra?

      De que venho senão da eterna caminhada de uma sombra
      Que se destrói à presença das fortes claridades
      Mas em cujo rastro indelével repousa a face do mistério
      E cuja forma é prodigiosa treva informe?

      Que destino é o meu senão o de assistir ao meu Destino
      Rio que sou em busca do mar que me apavora
      Alma que sou clamando o desfalecimento
      Carne que sou no âmago inútil da prece?

      O que é a mulher em mim senão o Túmulo
      O branco marco da minha rota peregrina
      Aquela em cujos braços vou caminhando para a morte
      Mas em cujos braços somente tenho vida?

      O que é o meu amor, ai de mim! senão a luz impossível
      Senão a estrela parada num oceano de melancolia
      O que me diz ele senão que é vã toda a palavra
      Que não repousa no seio trágico do abismo?

      O que é o meu Amor? senão o meu desejo iluminado
      O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
      O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
      Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?

      A quem respondo senão a ecos, a soluços, a lamentos
      De vozes que morrem no fundo do meu prazer ou do meu tédio
      A quem falo senão a multidões de símbolos errantes
      Cuja tragédia efêmera nenhum espírito imagina?

      Qual é o meu ideal senão fazer do céu poderoso a Língua
      Da nuvem a Palavra imortal cheia de segredo
      E do fundo do inferno delirantemente proclamá-los
      Em Poesia que se derrame como sol ou como chuva?

      O que é o meu ideal senão o Supremo Impossível
      Aquele que é, só ele, o meu cuidado e o meu anelo
      O que é ele em mim senão o meu desejo de encontrá-lo
      E o encontrando, o meu medo de não o reconhecer?

      O que sou eu senão ele, o Deus em sofrimento
      O temor imperceptível na voz portentosa do vento
      O bater invisível de um coração no descampado...
      O que sou eu senão Eu Mesmo em face de mim?



      _________________



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      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
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      Mensaje por Maria Lua Mar 27 Sep 2022, 08:29

      LAMENTO OUVIDO NÃO SEI ONDE

      Minha mãe, toma cuidado
      Não zanga assim com meu pai
      Um dia ele vai-se embora
      E não volta nunca mais.

      O mau filho à casa torna
      Mãe... nem carece tornar
      Mas pai que larga a família
      Pra que desgraça não vai!


      _________________



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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:25

      SONETO DE DEVOÇÃO


      Essa mulher que se arremessa, fria
      E lúbrica aos meus braços, e nos seios
      Me arrebata e me beija e balbucia
      Versos, votos de amor e nomes feios.

      Essa mulher, flor de melancolia
      Que se ri dos meus pálidos receios
      A única entre todas a quem dei
      Os carinhos que nunca a outra daria.

      Essa mulher que a cada amor proclama
      A miséria e a grandeza de quem ama
      E guarda a marca dos meus dentes nela.

      Essa mulher é um mundo! — uma cadela
      Talvez... — mas na moldura de uma cama
      Nunca mulher nenhuma foi tão bela!


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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:26

      BALADA PARA MARIA



      Não sei o que me angustia
      Tardiamente; em meu peito
      Vive dormindo perfeito
      O sono dessa agonia...
      Saudades tuas, Maria?
      Na volúpia de uma flora
      Úmida, pecaminosa
      Nasceu a primeira rosa
      Fria...
      Perdi o prazer da hora.

      Mas se num momento cresce
      O sangue, e me engrossa a veia
      Maria, que coisa feia!
      Todo o meu corpo estremece...
      E dos colmos altos, ricos
      Em resinas odorantes
      Pressinto o coito dos micos
      E o amor das cobras possantes.

      No mundo há tantos amantes...

      Maria...
      Cantar-te-ei brasileiro:
      Maria, sou teu escravo!
      A rosa é a mulher do cravo...
      Dá-me o beijo derradeiro?
      — Cobrir-te-ei de pomada
      Do pólen das flores puras
      E te fecundarei deitada
      Num chão de frutas maduras
      Maria... e morangos, quantos!
      E tu que adoras morango!
      Dormirás sobre agapantos...
      — Fingirei de orangotango!

      Não queres mesmo, Maria?

      No lombo morno dos gatos
      Aprendi muita carícia...
      Para fazer-te a delícia
      Só terei gestos exatos.

      E não bastasse, Maria...

      E morro nessas montanhas
      Entre as imagens castanhas
      Da tua melancolia...


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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:27

      TRÊS RETRATOS



      I
      Joya

      Joya, alegria da vida!
      Joya entra, Joya brinca
      Parola no telefone.
      Joya, esses teus olhos são
      Dois lagos de perfeição.

      Joya dizendo nome feio
      Joya falando inteligente
      Joya fria? Joya quente?
      (Inferiority complex).
      Joya, alegria da vida!

      Joya beija inefavelmente.


      II
      Maja Raquel

      Pero, não és de Argentina
      Muñeca de Barcelona?
      Quem te deu pernas tão lindas
      Peregrina, marafona?
      Que Goya te fez, divina
      tan cruda e calina, dona?

      Nostalgias, de escuchar tu risa loca...


      III
      Milady

      Tu étais si folle, chère, que nous avons joué la physique expérimentale, l‘álgèbre supérieur et la géométrie analytique, et tu avais trois amours d‘enfants et moi force d‘une angine de gorge qui me tuait.

      Ta Hudson portait d‘affreuses trâces de nos amours.


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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:28

      POEMA PARA TODAS AS MULHERES


      No teu branco seio eu choro.
      Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
      E se embebedam do perfume do teu sexo.
      Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
      Confuso, criança para te conter!
      Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
      Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
      Homem sou belo
      Macho sou forte, poeta sou altíssimo
      E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
      Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
      Melhor seria morrer ou ver-te morta
      E nunca, nunca poder te tocar!
      Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
      Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
      Passarinho, sinto o ninho nos teus pelos...
      Correi, correi, ó lágrimas saudosas
      Afogai-me, tirai-me deste tempo
      Levai-me para o campo das estrelas
      Entregai-me depressa à lua cheia
      Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o cântico dos cânticos
      Que eu não posso mais, ai!
      Que esta mulher me devora!
      Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:30

      O FALSO MENDIGO


      Minha mãe, manda comprar um quilo de papel almaço na venda
      Quero fazer uma poesia.

      Diz a Amélia para preparar um refresco bem gelado
      E me trazer muito devagarinho.
      Não corram, não falem, fechem todas as portas a chave
      Quero fazer uma poesia.
      Se me telefonarem, só estou para Maria
      Se for o Ministro, só recebo amanhã
      Se for um trote, me chama depressa
      Tenho um tédio enorme da vida.
      Diz a Amélia para procurar a “Patética” no rádio
      Se houver um grande desastre vem logo contar
      Se o aneurisma de dona Ângela arrebentar, me avisa
      Tenho um tédio enorme da vida.
      Liga para vovó Neném, pede a ela uma ideia bem inocente
      Quero fazer uma grande poesia.
      Quando meu pai chegar tragam-me logo os jornais da tarde
      Se eu dormir, pelo amor de Deus, me acordem
      Não quero perder nada na vida.
      Fizeram bicos de rouxinol para o meu jantar?
      Puseram no lugar meu cachimbo e meus poetas?
      Tenho um tédio enorme da vida.
      Minha mãe estou com vontade de chorar
      Estou com taquicardia, me dá um remédio
      Não, antes me deixa morrer, quero morrer, a vida
      Já não me diz mais nada
      Tenho horror da vida, quero fazer a maior poesia do mundo
      Quero morrer imediatamente.
      Fala com o Presidente para fecharem todos os cinemas
      Não aguento mais ser censor.
      Ah, pensa uma coisa, minha mãe, para distrair teu filho
      Teu falso, teu miserável, teu sórdido filho
      Que estala em força, sacrifício, violência, devotamento
      Que podia britar pedra alegremente
      Ser negociante cantando
      Fazer advocacia com o sorriso exato
      Se com isso não perdesse o que por fatalidade de amor
      Sabe ser o melhor, o mais doce e o mais eterno da tua puríssima carícia.





      Fin de NOVOS POEMAS
      Rio de Janeiro, José Olympio, 1938


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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:33

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      POEMAS, SONETOS E BALADAS
      São Paulo, Edições Gavetas, 1946






      SONETO DE FIDELIDADE



      De tudo, ao meu amor serei atento
      Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
      Que mesmo em face do maior encanto
      Dele se encante mais meu pensamento.

      Quero vivê-lo em cada vão momento
      E em louvor hei de espalhar meu canto
      E rir meu riso e derramar meu pranto
      Ao seu pesar ou seu contentamento.

      E assim, quando mais tarde me procure
      Quem sabe a morte, angústia de quem vive
      Quem sabe a solidão, fim de quem ama

      Eu possa me dizer do amor (que tive):
      Que não seja imortal, posto que é chama
      Mas que seja infinito enquanto dure.



      Estoril, outubro de 1939



      ******************


      Soneto de fidelidad




      De todo a mi amor estaré atento
      Antes, y con tal celo, y siempre, y tanto
      Que incluso ante el mayor encanto
      Con él se encante más mi pensamiento.

      Quiero vivirlo en cada vano momento
      Y en su loor he de esparcir mi canto
      Y reír mi risa y derramar mi llanto
      A su pesar o a su contentamiento.

      Y así, cuando más tarde me busque
      Quién sabe la muerte, angustia de quien vive
      Quién sabe la soledad, fin de quien ama

      Pueda yo decir del amor (que tuve):
      Que no sea inmortal, puesto que es llama
      Mas que sea infinito mientras dure.


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Jue 06 Oct 2022, 08:36

      A MORTE


      A morte vem de longe
      Do fundo dos céus
      Vem para os meus olhos
      Virá para os teus
      Desce das estrelas
      Das brancas estrelas
      As loucas estrelas
      Trânsfugas de Deus
      Chega impressentida
      Nunca inesperada
      Ela que é na vida
      A grande esperada!
      A desesperada
      Do amor fratricida
      Dos homens, ai! dos homens
      Que matam a morte
      Por medo da vida.


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      Mensaje por Maria Lua Lun 10 Oct 2022, 08:09

      MARINHA


      Na praia de coisas brancas
      Abrem-se às ondas cativas
      Conchas brancas, coxas brancas
      Águas-vivas.

      Aos mergulhares do bando
      Afloram perspectivas
      Redondas, se aglutinando
      Volitivas.

      E as ondas de pontas roxas
      Vão e vêm, verdes e esquivas
      Vagabundas, como frouxas
      Entre vivas!


      _________________



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      Mensaje por Maria Lua Lun 10 Oct 2022, 08:10

      OS ACROBATAS



      Subamos!
      Subamos acima
      Subamos além, subamos
      Acima do além, subamos!
      Com a posse física dos braços
      Inelutavelmente galgaremos
      O grande mar de estrelas
      Através de milênios de luz.

      Subamos!
      Como dois atletas
      O rosto petrificado
      No pálido sorriso do esforço
      Subamos acima
      Com a posse física dos braços
      E os músculos desmesurados
      Na calma convulsa da ascensão.

      Oh, acima
      Mais longe que tudo
      Além, mais longe que acima do além!
      Como dois acrobatas
      Subamos, lentíssimos
      Lá onde o infinito
      De tão infinito
      Nem mais nome tem
      Subamos!

      Tensos
      Pela corda luminosa
      Que pende invisível
      E cujos nós são astros
      Queimando nas mãos
      Subamos à tona
      Do grande mar de estrelas
      Onde dorme a noite
      Subamos!

      Tu e eu, herméticos
      As nádegas duras
      A carótida nodosa
      Na fibra do pescoço
      Os pés agudos em ponta.

      Como no espasmo.

      E quando
      Lá, acima
      Além, mais longe que acima do além
      Adiante do véu de Betelgeuse
      Depois do país de Altair
      Sobre o cérebro de Deus

      Num último impulso
      Libertados do espírito
      Despojados da carne
      Nós nos possuiremos.

      E morreremos
      Morreremos alto, imensamente
      Imensamente alto.



      _________________



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      "Ser como un verso volando
      o un ciego soñando
      y en ese vuelo y en ese sueño
      compartir contigo sol y luna,
      siendo guardián en tu cielo
      y tren de tus ilusiones."
      (Hánjel)





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      VINICIUS DE MORAES  - Página 18 Empty Re: VINICIUS DE MORAES

      Mensaje por Maria Lua Lun 10 Oct 2022, 08:11

      PAISAGEM


      Subi a alta colina
      Para encontrar a tarde
      Entre os rios cativos
      A sombra sepultava o silêncio.

      Assim entrei no pensamento
      Da morte minha amiga
      Ao pé da grande montanha
      Do outro lado do poente.

      Como tudo nesse momento
      Me pareceu plácido e sem memória
      Foi quando de repente uma menina
      De vermelho surgiu no vale correndo, correndo…


      _________________



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      y en ese vuelo y en ese sueño
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