Em suas linhas mestras, O romanceiro da Inconfidência exibe uma bem
lograda combinação de dados históricos e elementos inventivos, de relato,
monologação e diálogo, de planos temporais e espaciais. Um fio narrativo passa
através dessa centena de romances sem que a ação se sobreponha à reflexão;
cortes periódicos ora determinam a mudança de ambiente ou de figuras, ora
permitem ao narrador surgir frente ao público e sugerir-lhe nova situação
dramática. Obra panorâmica no mais legítimo sentido, o Romanceiro deixa
perceber, entretanto, cinco partes bem definidas: a do ambiente, a da trama e
frustração, a da morte de Cláudio e Tiradentes, a do infortúnio de Gonzaga e
Alvarenga, e finalmente a da presença, no Brasil, da Rainha D. Maria.
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Fala inicial
Não posso mover meus passos,
por esse atroz labirinto
de esquecimento e cegueira
em que amores e ódios vão:
- pois sinto bater os sinos,
percebo o roçar das rezas,
vejo o arrepio da morte,
à voz da condenação;
- avisto a negra masmorra
e a sombra do carcereiro
que transita sobre angústias,
com chaves no coração;
- descubro as altas madeiras
do excessivo cadafalso
e, por muros e janelas,
o pasmo da multidão.
Batem patas de cavalos.
Suam soldados imóveis.
Na frente dos oratórios,
que vale mais a oração?
Vale a voz do Brigadeiro
sobre o povo e sobre a tropa,
louvando a augusta Rainha,
- já louca e fora do trono -
na sua proclamação.
Ó meio-dia confuso,
ó vinte-e-um de abril sinistro,
que intrigas de ouro e de sonho
houve em tua formação?
Quem ordena, julga e pune?
Quem é culpado e inocente?
Na mesma cova do tempo
cai o castigo e o perdão.
Morre a tinta das sentenças
e o sangue dos enforcados...
- liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados,
mentira e verdade estão.
Aqui, além, pelo mundo
ossos, nomes, letras, poeira...
Onde, os rostos? onde, as almas?
Nem os herdeiros recordam
rastro nenhum pelo chão.
Ó grandes muros sem eco,
presídios de sal e treva
onde os homens padeceram
sua vasta solidão...
Não choraremos o que houve,
nem os que chorar queremos:
contra rocas de ignorância
rebenta a nossa aflição.
Choramos esse mistério,
esse esquema sobre-humano,
a força, o jogo, o acidente
da indizível conjunção
que ordena vidas e mundos
em pólos inexoráveis
de ruína e de exaltação
Ó silenciosas vertentes
por onde se precipitam
inexplicáveis torrentes
por eterna escuridão!
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